EQUIPA DA ADF
O al-Shabaab, o grupo terrorista que continua a lançar ataques mortíferos contra civis somalis, soldados e forças internacionais de manutenção da paz, completou 18 anos de existência.
O longo período de vida do grupo é significativo, uma vez que, segundo o Consórcio Nacional para o Estudo do Terrorismo e Respostas ao Terrorismo dos Estados Unidos, 25% a 74% dos grupos terroristas de todo o mundo não duram mais de um ano.
No entanto, alguns grupos terroristas ligados à al-Qaeda e ao Estado Islâmico em África sobreviveram durante muitos anos e o al-Shabaab continua a prosperar apesar dos esforços do Exército Nacional da Somália, das forças da União Africana e das milícias dos clãs locais.
No dia 15 de Setembro, o grupo invadiu uma base militar em Badoa, matando duas pessoas durante várias horas de tiroteio. Fontes disseram à agência noticiosa Garowe Online, da Somália, que vários soldados foram recentemente transferidos para reforçar as forças regionais numa disputa por um posto de controlo que envolvia milícias locais. As forças paramilitares também foram recentemente transferidas de Badoa.
Os analistas identificaram vários factores que explicam a longevidade do grupo.
Os esquemas de tributação ilegal, contrabando e branqueamento de capitais do al-Shabaab permitem-lhe prosperar. As receitas destas actividades ajudam o grupo a recuperar depois de ter sofrido perdas substanciais no campo de batalha.
“Pode fazê-lo porque os seus opositores não fazem o suficiente para proteger as áreas conquistadas ou as áreas controladas pelo governo,” Stig Jarle Hansen, professor de relações internacionais na Universidade Norueguesa de Ciências da Vida, escreveu no The Conversation. “O al-Shabaab é capaz de governar e controlar mesmo áreas que são militarmente controladas pelo Estado e pela missão da União Africana.”
De acordo com os analistas Mohamed Mubarak e Ashley Jackson, a relação do grupo com os civis é essencial para a sua sobrevivência. Ganha favores junto dos residentes locais, explorando as tensões políticas, as queixas locais e a negligência do governo.
“Uma vez que grande parte da relação do al-Shabaab com os civis depende das circunstâncias locais e da política dos clãs, as condições de vida sob o controlo do al-Shabaab variam consequentemente de um lugar para o outro,” Mubarak e Jackson escreveram para o Overseas Development Institute, um grupo de reflexão independente. “No entanto, uma constante é o facto de o al-Shabaab explorar e cooptar estrategicamente as estruturas de poder tradicionais, o que, por sua vez, lhe permite controlar a população.”
A relação do grupo com os vários clãs do país é também fundamental para a sua capacidade de resistência. O governo mobilizou os clãs para combater o al-Shabaab, mas os conflitos entre os clãs podem complicar este esforço. Por vezes, os conflitos entre os clãs persuadem os residentes locais a alinhar com o al-Shabaab em busca de protecção.
“A segurança rural, incluindo a mediação entre os clãs, não tem feito parte da abordagem para combater o al-Shabaab,” escreveu Hansen.
O Exército Nacional da Somália cresceu substancialmente nos últimos 15 anos, atingindo cerca de 19.000 efectivos. A formação melhorou e as taxas de deserção são muito mais baixas do que no passado. Mas o Exército ainda não tem capacidade para lançar ofensivas eficazes em várias regiões simultaneamente, deixando lacunas de segurança que os terroristas podem explorar.
“Este facto levanta dúvidas quanto ao apoio militar que o exército somali pode prestar aos Estados federais, que estão relutantes em enfrentar sozinhos o al-Shabaab,” Hansen escreveu.
As forças de segurança tentaram conquistar os “corações e as minas” dos civis nas zonas sob o controlo do al-Shabaab, mas não conseguiram, segundo Hansen. As forças de segurança somalis e internacionais não têm sido capazes de garantir uma segurança consistente em todo o país nem de apoiar a criação de instituições democráticas.
O al-Shabaab tem sido particularmente difícil de desalojar nos seus bastiões de Lower e Middle Juba, e no Estado do Sudoeste. Nestas regiões, o al-Shabaab descansa os seus combatentes, treina novos combatentes e coordena as operações e os esforços de propaganda.
“É impossível derrotar o grupo sem tomar estes territórios,” escreveu Hansen.