EQUIPA DA ADF
Embora as operações militares e dos serviços secretos tenham enfraquecido a al-Qaeda nos últimos anos, o grupo extremista está a tentar regressar e a sua atenção está centrada em África.
Um relatório recente da Modern Diplomacy referiu que o “foco principal” do crescimento e desenvolvimento da al-Qaeda parece ser África. O The Washington Post também referiu que “a zona central da violência relacionada com o islamismo se afastou do Médio Oriente e do Sul da Ásia,” centrando-se agora em África.
Andrew Lebovich, especialista em assuntos do Sahel, afirmou que, nos últimos anos, a al-Qaeda tem estado particularmente envolvida no Sahel e na Bacia do Lago Chade.
“Mesmo nos casos em que algumas intervenções regionais foram moderadamente mais bem-sucedidas, estes grupos continuam a operar e não só mantêm uma forte presença, como, nalguns casos, expandem as suas operações em espaços bastante vastos,” disse Lebovich ao Post.
O grupo extremista também está a tentar melhorar a sua imagem.
A propaganda recente da al-Qaeda “parece mais focada em retratar a organização como uma força que luta pelos oprimidos e contra governos opressivos,” informou a Modern Diplomacy. “É possível que este esforço de reformulação da marca seja uma tentativa de atrair novos membros e apoiantes.”
Uma das principais áreas para a expansão da al-Qaeda é o norte do Mali, que tem registado um vazio de segurança desde que a França retirou as suas forças em 2022. O ramo da al-Qaeda no Sahel, o Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), começou desde então a estabelecer-se como parceiro de segurança de antigos grupos rebeldes numa região onde o governo do Mali há muito que é ineficaz.
O norte do Mali está a ser espremido entre os extremistas e os mercenários russos do Grupo Wagner que estão a trabalhar para o governo maliano. O Mali pode esperar pouca ajuda da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali porque esta “não foi concebida para desempenhar um papel activo na luta contra o terrorismo,” de acordo com uma reportagem do Africa File.
“Esta tendência levará provavelmente a que o JNIM estabeleça um controlo de facto sobre o norte do Mali, uma tomada de controlo que alimentará a instabilidade a longo prazo no Mali e nos seus vizinhos e aumentará os recursos e as oportunidades disponíveis para a al Qaeda em África,” comunicou o Africa File.
O grupo extremista fez sentir a sua presença em todo o continente, desde a Somália, a leste, até ao Mali, a oeste:
No Burquina Faso, os extremistas, na sua maioria seguidores da al-Qaeda, realizaram 1.470 ataques em 2022, um aumento de 26% em relação a 2021. O Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos informou que os extremistas mataram 3.600 pessoas.
No Gana, os militantes da al-Qaeda estão a explorar uma disputa acesa de 65 anos entre duas comunidades para estabelecer uma cabeça de ponte no país, que é considerado uma potência regional. Os militantes também estão a atacar os vizinhos costeiros do Gana, o Benim, a Costa do Marfim e o Togo.
“A expansão para o Gana poderia, em última análise, dar à al Qaeda acesso às receitas do comércio através dos portos atlânticos,” noticiou o The Wall Street Journal. “O Gana é um grande produtor de cacau e ouro. Nas áreas [onde] os militantes exercem controlo, na África Ocidental, eles cobram coercivamente impostos das minas de ouro artesanais, que são comuns no norte do Gana, de acordo com oficiais militares dos EUA em África.”
Na Somália, extremistas ligados à al-Qaeda atacaram uma base militar que albergava forças ugandesas da Missão de Transição da União Africana na Somália. Os extremistas afirmaram ter morto 137 soldados, utilizando bombistas suicidas.
A Secretária-Geral Adjunta da ONU para África, Martha Pobee, disse numa reunião do Conselho de Segurança, em Maio, que o Burquina Faso e o Níger reforçaram a cooperação militar com o Mali para combater o aumento dos ataques da al-Qaeda e do ISIS, mas “apesar destes esforços, a insegurança na zona da tríplice fronteira continua a crescer,” disse ela, segundo a Al-Jazeera.
A Modern Diplomacy defende que, embora a al-Qaeda não seja tão poderosa como já foi, a sua presença crescente em África deve preocupar toda a gente.
“Embora as superpotências mundiais possam estar ocupadas a lidar com outros desafios geopolíticos, as actividades da al-Qaeda não devem ser ignoradas,” informou a Modern Diplomacy. “A organização tem uma longa história de ataques violentos contra civis, e o seu recente ressurgimento em África pode desestabilizar ainda mais a região. O crescimento da al-Qaeda pode não só colocar os países africanos em risco, mas também constituir uma ameaça à segurança global.”