EQUIPA DA ADF
Enquanto os países africanos competem para ter acesso às vacinas no mercado global, existe uma ênfase cada vez mais crescente da necessidade de autoconfiança.
“África precisa de ser capaz de satisfazer as suas próprias necessidades da vacina,” Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde, disse durante um painel de debate, no dia 23 de Março. “Isso significa financiamento, capacidade de fabrico local, regulamentos abrangentes e cadeias de fornecimento sustentáveis.”
Embora os seus 1,3 bilhões de habitantes representem 16% da população mundial, África possui menos de 0,1% da produção de vacinas do mundo, observou.
Apenas cinco países — Egipto, Marrocos, Senegal, África do Sul e Tunísia — têm a capacidade de produzir vacinas, de acordo com Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC).
Desde que a pandemia eclodiu, já houve mais de 3,3 milhões de casos confirmados de COVID-19 no continente, de acordo com as estatísticas publicadas no dia 29 de Março pelo África CDC.
Funcionários do sector de saúde tinham administrado mais de 10 milhões de doses da vacina, em África, até 29 de Março, de acordo com as estatísticas da Universidade de Oxford. Mais de metade dos 54 países de África não deu início às campanhas de vacinação.
O África CDC está a liderar na criação de soluções locais.
A organização irá dirigir uma conferência virtual nos dias 12 a 13 de Abril entre a União Africana e os parceiros externos para criar uma “visão e um roteiro para a aceleração do fabrico da vacina africana.”
“Sabemos que as vacinas são um pilar fundamental para a segurança sanitária do continente e que temos de investir nisso,” Nkengasong disse no painel. “Se não fizermos isso, iremos avançar em direcção à endemicidade deste vírus no continente e isso terá efeitos devastadores de agora em diante.”
Alguns desenvolvimentos recentes apontam-nos para a direcção certa.
A Aspen Pharmaceuticals, da África do Sul, o maior produtor de fármacos do continente, investiu mais de 200 milhões de dólares para melhorar uma das suas quatro fábricas de produção e empacotamento do país. Isso resultou num contrato para o fabrico de até 300 milhões de doses da vacina de dose única contra a COVID-19 da Johnson & Johnson, até finais de Junho.
Embora a maior parte deste fornecimento venha a ser devolvida à J&J para a exportação global, o governo assinou um acordo para a obtenção de 11 milhões de doses com a opção de obter outros 20 milhões conforme o fornecimento da empresa a nível mundial assim o permitir.
O Instituto BioVac, da África do Sul, apoiado pelo Estado, também está a avançar em direcção ao fabrico de vacinas de início ao fim e possui um contrato com a ImmunityBio, dos Estados Unidos, que está a realizar ensaios da fase 1 da sua vacina contra a COVID-19, na África do Sul e nos EUA.
No dia 22 de Março, o governo da Nigéria anunciou o desenvolvimento de duas vacinas da COVID-19, que aguardam pelos ensaios clínicos e pela certificação.
“Este é um desenvolvimento bem acolhido, que irá abrir umo novo panorama nos avanços científicos e irá reforçar a moral e a imagem da indústria farmacêutica do país,” Boss Mustapha, presidente da força-tarefa presidencial para a COVID-19, disse aos jornalistas.
África ainda tem muito mais capacidade para desencadear, disse Tedros.
Ele coloca pressão sobre as maiores empresas farmacêuticas do mundo para expandirem a produção através de licenciamento da tecnologia da vacina e da redução de barreiras de patentes em casos de emergência.
“O facto é que não estamos a tirar vantagem da capacidade de fabrico existente,” disse. “Existe uma extrema necessidade de aumentar-se a produção.
“Para vencer este obstáculo, as empresas devem partilhar a sua propriedade intelectual, a sua experiência e os seus dados com outros fabricantes de vacinas qualificados, incluindo em África.”