EQUIPA DA ADF
Pela primeira vez em aproximadamente dois anos, África de Sul passou dois dias sem qualquer registo de mortes pela COVID-19 — um sinal que indica que a pandemia pode estar a reduzir naquele ponto do continente.
O Instituto Nacional de Doenças Contagiosas (NICD) anunciou o não registo de mortes através do Twitter, no dia 28 de Fevereiro, e mais uma vez no dia 6 de Março, como parte das suas comunicações diárias sobre a COVID-19. Estes foram os primeiros dias desde Maio de 2020 em que o país não registou nenhum caso de morte pela COVID-19 num período único de 24 horas.
O dia 5 de Março foi o aniversário de dois anos do primeiro registo de casos de COVID-19 na África do Sul. A África do Sul registou de forma consistente o maior número de casos e de mortes do continente desde que a pandemia começou.
“Empiricamente, os hospitais estão muito vazios em termos de casos de COVID,” Shabir Madhi, um professor de vacinologia, na Universidade de Witwatersrand, disse à Agência France-Presse (AFP).
O relatório reflectiu o fim da quarta vaga de infecções daquele país que foi impulsionada pela variante Ómicron, que foi a primeira registada na África do Sul. Os casos da variante Ómicron registaram um aumento em finais de Dezembro e um declínio acentuado pouco depois disso.
“Parece que já passámos o pior desta pandemia, pelo menos no que diz respeito aos internamentos e às mortes,” disse o professor Túlio de Oliveira, director da KRISP, a Plataforma de Investigação e Inovação em Matéria de Sequenciamento de KwaZulu-Natal. O laboratório de de Oliveira produziu pesquisas com tecnologia de ponta sobre a COVID-19 e suas variantes.
De acordo com a AFP, os vizinhos da África do Sul — Zimbabwe, Namíbia, Angola, Moçambique e Eswatini — também registaram zero mortes por COVID por volta do mesmo período. Contudo, aqueles países possuem sistemas de vigilância menos robustos do que a África do Sul.
O registo diário mais recente do NICD demonstrou uma taxa de positividade de casos da África do Sul de 5,8%, cerca de um quarto daquilo que ocorreu durante o pico da variante Ómicron. A Organização Mundial de Saúde considera a taxa de positividade de 5% um ponto em que os países devem impor restrições para acabar com a propagação da doença.
Os investigadores atribuem o baixo número de mortes da África do Sul à generalizada imunidade entre a população. Os testes de sangue sugerem que aproximadamente 80% dos sul-africanos estiveram expostos à COVID-19 e possuem algum nível de imunidade.
“Isso veio a um custo elevado de perda de vidas, mas resultou numa grande porção da população que agora desenvolveu uma protecção contra a doença grave,” disse Madhi.
A pandemia ainda não acabou na África do Sul. Os registos diários do NICD incluem entre 1.500 a 2.000 novos casos de COVID-19, tendo baixado em comparação com aproximadamente 12.000 no pico da vaga da variante Ómicron. Especialistas acreditam que uma quinta vaga de infecções provavelmente venha a chegar por volta dos finais de Abril, com base no ritmo das vagas anteriores.
A combinação de elevada imunidade e baixo número de mortes motivou os líderes nacionais a relaxarem a maior parte das restrições primeiramente impostas dois anos atrás, incluindo o recolher obrigatório que iniciava à meia-noite e terminava às 4 horas da manhã. As autoridades também permitiram aglomerados de até 1.000 pessoas em lugares fechados e 2.000 pessoas em lugares abertos. O uso de máscaras continua a ser obrigatório nos transportes públicos.
Desde a primeira semana de Março, o número total de mortes na África do Sul esteve um pouco acima de 99.000, desde que iniciou a pandemia. Os investigadores que pesquisam o número de mortes em excesso naquele país — as que se encontram acima do que é considerado normal — sugerem que a actual contagem de mortes pela COVID-19 pode ser cerca de três vezes o total oficial, o que é derivado em larga escala dos registos hospitalares.