EQUIPA DA ADF
Numa altura em que os números de casos da COVID-19 estão a estabilizar-se na África do Sul, especialistas estão a apelar para que o país não se esqueça das lições aprendidas da sua batalha de dois anos para controlar o vírus.
Veronica Ueckermann, docente da Universidade de Pretória, disse que uma destas lições é evitar a “fadiga da COVID” e continuar a proteger as populações mais vulneráveis.
Escrevendo no The Conversation, Ueckermann, que trabalha no Departamento de Medicina Interna daquela universidade, citou estudos recentes que demonstraram que pessoas com HIV possuem maior quantidade de COVID-19 no seu organismo quando ficam infectados.
“Ainda é provável que experimentemos períodos de aumento de casos, surtos de pequena escala e ainda desenvolvimentos de novas variantes,” escreveu Ueckermann, em Fevereiro.
Os investigadores estão preocupados de que novas variantes possam emergir em pessoas que tenham HIV não diagnosticado. Esta é uma preocupação na África do Sul, onde 7,7 milhões de pessoas vivem com o vírus.
Ueckermann escreveu que medidas preventivas como usar máscaras e lavar frequentemente as mãos ainda devem ser praticadas, mesmo numa altura em que África do Sul alivia as restrições do confinamento obrigatório total.
“A eficácia do uso da máscara tem sido muito discutida. Mas existem boas provas científicas que demonstram que o uso da máscara diminui os riscos de contaminação da COVID-19 e controla a sua propagação,” argumentou Ueckermann. “Por isso, apesar de haver uma fadiga generalizada da COVID, esta prática continua a ser eficaz.”
Em Março, as autoridades anunciaram que o país tinha um alto nível de imunidade da população. Pouco depois de a vaga da Ómicron ter atingido o país, os testes no centro comercial da província de Gauteng, naquele país, indicaram que 72% da população tinha sido infectada no decurso das primeiras três vagas, dando à região um alto nível de imunidade natural.
Os cientistas agora afirmam que quarentenas contínuas na África do Sul não irão reduzir significativamente a ameaça de futuras infecções pela COVID-19. Eles apontam para as estatísticas que demonstram que, apesar de quarentenas e rastreamento de contactos, três quartos da população ficaram infectados no decurso das primeiras três vagas.
Mesmo assim, Ueckermann alertou para se voltar atrás, levantando todas as restrições.
“Assim como a pandemia da gripe de 1918 foi celebrada como tendo terminado e as restrições foram levantadas, uma vaga da doença seguiu-se,” escreveu. “As unidades sanitárias ficaram superlotadas e muitas pessoas morreram. O nosso comportamento devia, por conseguinte, ser de continuarmos cautelosos e não perderemos a corrida na sua última volta.”
Um relatório de Fevereiro de 2022, da revista The New England Journal of Medicine, afirmou que o estudo de Gauteng mostra que se o objectivo primário na luta contra a COVID-19 foi de proteger a população contra a doença grave e morte, em vez de prevenir a infecção, este objectivo foi alcançado. O relatório descreveu a queda nos internamentos relacionados com COVID e nas mortes na África do Sul como um ponto de viragem para o país.
Mas a batalha daquele país contra a COVID-19 ainda não terminou.
Espera-se que a África do Sul experimente uma quinta vaga de infecções pela COVID-19 quando se estiver próximo do Inverno, de acordo com o Ministro de Saúde, Dr. Joe Phaahla. Ele disse à televisão eNews África Channel (eNCA) que um aumento de pacientes de COVID-19 com idades inferiores a 20 anos foi registado depois da reabertura das escolas, em Fevereiro.
“O quadro que vimos é o que quase pode se chamar de impasse,” disse Phaahla à eNCA. “Não houve um declínio significativo, mas mesmo assim, não houve um aumento preocupante no número [total] de infecções.”
Phaahla acrescentou que se espera que a quinta vaga atinja a África do Sul antes do Inverno, “dependendo de experimentarmos ou não variantes de preocupação muito antes como aconteceu com a Ómicron.”