EQUIPA DA ADF
Com partes da África do Sul a aproximar-se à taxa de positividade da COVID-19 de 10%, os especialistas afirmam que o país está posicionado para enfrentar uma terceira vaga de infecções em breve.
“Já estamos a enfrentá-la em algumas províncias. A nível nacional, já estamos quase lá,” o virologista Barry Schoub,presidente do comité consultivo ministerial nacional para as vacinas contra a COVID-19, disse recentemente à estação sul-africana eNCA.
A segunda vaga da África do Sul atingiu o seu pico em Janeiro. A primeira vaga atingiu o pico cerca de seis meses antes disso.
A taxa de positividade dos testes à COVID-19 de 10% é um dos vários indicadores-chave de que uma nova vaga de infecções está a caminho, disse Schoub.
Neste momento, disse Schoub, as províncias do Cabo Setentrional e do Estado Livre estão definitivamente na terceira vaga. A província de Gauteng, onde se encontra Joanesburgo, também pode estar a experimentar uma terceira vaga, disse.
“As altas taxas de positividade dos testes, particularmente acima de 10%, indicam que não estamos a realizar uma quantidade adequada de testes,” Rajeev Maharaj, um matemático da Universidade de KwaZulu Natal, que esteve a rastrear os dados da COVID-19 da África do Sul, disse ao IOL News, da África do Sul. “Existem elevadas taxas de transmissão comunitária neste momento e provavelmente haja um grande número de infecções que não são dectetadas na comunidade.”
A Organização Mundial de Saúde considera a taxa de positividade de 5% como sendo muito elevada para relaxar as restrições visando limitar a propagação da doença. Contudo, a África do Sul esteve a operar num Alerta de Nível 1 modificado, desde o dia 1 de Março, que permite que as pessoas possam seguir as suas vidas normalmente, mas impõe um recolher obrigatório da meia-noite às 4:00 horas da manhã. Os bares, cinemas e encontros religiosos devem estar encerrados a partir das 23:00 horas.
Especialistas em saúde pública e doenças contagiosas afirmam que os sul-africanos devem limitar grandes aglomerados e continuarem com o uso da máscara, a lavagem das mãos e outros métodos não farmacêuticos para limitar a escala da terceira vaga.
“O que precisamos de ter é uma estratégia consistente de mitigação do risco que impede que a vaga inicial comece, em primeiro lugar,” Françoise Venter, um especialista em doenças contagiosas da Universidade de Witwatersrand, disse ao IOL News. “Controlar os números da COVID-19 é muito semelhante ao HIV onde os seus comportamentos pessoais alteram o seu risco.”
O programa de vacinação da África do Sul prossegue de forma lenta. Começou por vacinar os profissionais de saúde, em Fevereiro, parou por pouco tempo em Abril e tinha coberto mais de 450.000 pessoas até inícios de Maio. Está a distribuir outro 1 milhão de doses de vacinas contra a COVID-19, com enfoque para os idosos. Até finais de Maio, cerca de 180.000 destas doses tinham sido administradas.
“Obviamente que isso é muito lento,” disse Schoub. “Precisamos de obter esse tipo de quantidades por dia e não por semana, se é que queremos alcançar a imunidade comunitária até ao próximo ano.”
Mas, disse, o ritmo aparenta estar a aumentar. O país enfrenta desafios com a entrega de vacinas em zonas remotas e com a manutenção de doses adequadamente refrigeradas, disse.
“Seria bom ter algum tipo de locais de vacinação em massa,” acrescentou.
Na província do Cabo Ocidental, que é onde se localiza a Cidade do Cabo, o Departamento de Saúde alertou aos residentes para se prepararem para restrições e para limitarem os deslocamentos não essenciais assim como aglomerados de mais de 20 pessoas.
O Primeiro-Ministro Alan Winde disse que a província está preparada para uma terceira vaga, com oxigénio suficiente, camas nos hospitais e pessoal para lidar com qualquer situação de aumento no número de casos.
Desde que a pandemia da COVID-19 começou, no início de 2020, a África do Sul registou 1,6 milhões de casos e aproximadamente 56.000 mortes. Contudo, um estudo de mortes em excesso, feito pelo Conselho de Pesquisas Médicas da África do Sul, sugere que o número de mortes pela COVID-19 no país é, na realidade, muito próximo de 190.000.
Enquanto as autoridades sul-africanas trabalham para abafar o impacto da terceira vaga, elas enfrentam desafios adicionais como a fadiga da pandemia entre a população e a potencial propagação de uma outra variante originária da Índia, que se encontra a circular no continente.
Schoub disse que a África do Sul devia tirar proveito das lições aprendidas da primeira e da segunda vagas, numa altura em que se confronta com a terceira vaga.
“Aprendeu-se muita coisa,” disse Schoub. “Mas se estamos ou não adequadamente equipados, somente o tempo dirá.”