EQUIPA DA ADF
As autoridades da República Centro-Africana encontraram o corpo de um mineiro artesanal de 19 anos queimado e decapitado na cidade de Koki, na prefeitura de Ouham.
Foi um dos pelo menos 20 mineiros artesanais que foram mortos em meados de Junho depois de não terem comparecido a uma reunião convocada por membros do Africa Corps paramilitar russo, antigo Grupo Wagner. Após a reunião, os mercenários atacaram as minas em redor de Koki, segundo o Corbeau News Centrafrique (CNC) da RCA.
Este não foi o primeiro massacre cometido por mercenários russos em Koki.
Cerca de uma semana mais tarde, os combatentes do Africa Corps convocaram uma reunião das partes interessadas no sector mineiro da cidade — incluindo compradores, mineiros e pequenos comerciantes — numa igreja católica perto de Koro-Mpoko, onde se situa outro local de exploração mineira em Ouham. Os mercenários ordenaram a todos os presentes a largarem os sacos e esvaziarem os bolsos. Os participantes acataram.
Segundo o CNC, os mercenários declararam que ninguém podia comprar ouro no local e que quem o fizesse seria executado. Os mercenários designaram seis pessoas como intermediários para comprar ouro exclusivamente para eles. Qualquer infracção a esta regra era punível com a morte.
Os mercenários confiscaram então tudo o que os mineiros e comerciantes trouxeram para a reunião, incluindo telemóveis, reservas de ouro, ferramentas valiosas e dinheiro.
As acções dos mercenários têm-se tornado cada vez mais violentas na RCA desde o final do ano passado, especialmente em torno de Ouham, uma província em expansão, repleta de recursos naturais, que faz fronteira com o Chade. A estratégia do grupo é simples, letal e inabalável: ordenar os habitantes locais que cumpram as suas ordens e matar os que não o fizerem.
Em Setembro, pouco depois da morte do antigo chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prighozin, um homem de nome Alioum foi chamado à mina de ouro nos arredores de Koki.
Alioum, que lidera um dos vários grupos de vigilantes reconhecidos na comunidade, disse ter encontrado três soldados brancos acompanhados por cerca de uma dezena de soldados das Forças Armadas Centro-Africanas (FACA) que falavam com os líderes da comunidade local e com os chefes de outros grupos de vigilantes.
“Um dos soldados brancos começou a falar, dizendo que devíamos informar toda a gente que vive perto da mina para abandonar a área, porque foi vendida pelo governo,” Alioum disse ao The Daily Beast. “Quando perguntámos a quem tinha sido vendido, recusaram-se a dizer-nos.”
Os habitantes locais mantiveram a sua posição, dizendo que não tinham para onde ir.
“Depois disseram-nos que íamos arrepender-nos da nossa decisão,” disse Alioum.
Passou cerca de um mês.
Pouco antes do meio-dia de 22 de Outubro, forças paramilitares russas, acompanhadas por membros das FACA, chegaram de helicóptero perto da mina de Koki e trocaram tiros durante quase 30 minutos com cerca de
duas dezenas de rebeldes
da Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC), informou o The Daily Beast.
Várias testemunhas afirmaram que os mercenários russos sobrevoaram depois o local com outro helicóptero, lançando bombas e disparando contra as pessoas que tentavam fugir da zona.
“Enquanto decorriam os ataques aéreos, outro grupo de soldados brancos e oficiais das FACA espalharam-se pela cidade, certificando-se de que todas as saídas estavam bloqueadas,” conta Alioum. “Muitas pessoas ficaram presas.”
Testemunhas disseram ao The Daily Beast que quatro rebeldes da CPC e 12 civis foram mortos nesse dia.
Os combates prolongaram-se por cinco dias, durante os quais dezenas de homens da região foram detidos, torturados e mortos. Várias casas e empresas foram incendiadas.
“Koki ficou de rastos,” Kondogbia, um mineiro artesanal cuja casa foi destruída durante o ataque, disse ao The Daily Beast. “Os atacantes certificaram-se de que todos os que trabalhavam na mina eram mortos ou ficavam sem casa.”
O The Daily Beast referiu-se ao massacre de Outubro em Koki como a primeira grande atrocidade cometida por mercenários russos em África sob a nova liderança do General Andrei Averyanov, um membro notório da GRU, a agência de informação militar russa.
Noutras zonas de Ouham, mercenários russos em veículos militares patrulham perto dos locais de exploração mineira para impedir que os habitantes locais façam prospecção. Em Ndachima, a Midas Ressources, uma empresa afiliada à Africa Corps, disse aos habitantes locais para abandonarem a área ou seriam despejados à força.
Os mercenários russos terão matado mais de 900 civis na RCA desde Dezembro de 2020, o que os torna o grupo armado mais mortífero a operar no país durante esse período, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.