EQUIPA DA ADF
Embora a Somália seja conhecida por ser o lar do grupo extremista al-Shabaab, uma outra organização terrorista rival está a ganhar fama no país do Corno de África: o Estado Islâmico na Somália, ou ISSOM.
O grupo é muito mais pequeno do que o al-Shabaab, afiliado da al-Qaeda, mas, a partir da sua base na região de Bari, na Puntlândia, tornou-se conhecido como o quartel-general do grupo Estado Islâmico na África Oriental e um dos principais actores no financiamento do EI em todo o mundo.
“Na Puntlândia, o grupo gera fundos extorquindo empresas na cidade portuária de Bosasso, bem como ajudando a exportar pequenas quantidades de ouro extraído em Bari,” de acordo com um relatório de 12 de Setembro do Grupo Internacional de Crise. Pensa-se que o ISSOM tenha recolhido cerca de 6 milhões de dólares desde 2022 e trata das transferências de fundos para uma série de gabinetes e células do EI.
Outra questão que suscita preocupação é a notícia de que o líder do ISSOM, Abdulqadir Mumin, poderá ser agora o chefe mundial do EI. Foi alvo de um ataque aéreo em Maio, mas pensa-se que tenha sobrevivido. Se ele for de facto o líder mundial, “a escolha de um ‘califa’ do Estado Islâmico que, por um lado, não seja de descendência árabe e, por outro, esteja sediado em África, representaria uma notável mudança de rumo para a organização terrorista,” de acordo com um documento do Centro de Combate ao Terrorismo de West Point, elaborado por Austin Doctor e Gina Ligon.
O ISSOM foi formado em 2015, pouco depois de um subgrupo de membros do al-Shabaab se ter separado, irritado com a recusa do grupo maior em mudar a sua lealdade para com o EI. Quase uma década depois, o ISSOM tem cerca de 500 membros nas montanhas Cal Miskaat, em Bari. Cerca de metade dos membros são de outros países: Etiópia, Quénia, Tanzânia e Iémen. As autoridades da Puntlândia chegaram mesmo a deter alguns cidadãos marroquinos em 2023, informou o Grupo de Crise.
O entrincheiramento do ISSOM em Puntlândia faz parte de uma tendência mais ampla de ganho territorial do EI em África, segundo Aaron Y. Zelin, investigador sénior do Instituto de Washington para a Política do Próximo Oriente. Anos depois de ter perdido terreno no Iraque e na Síria, o EI está agora enraizado em zonas próximas de Gao, no Mali, na província moçambicana de Cabo Delgado e no distrito de Bari, na Puntlândia.
A sucursal da Somália oferece ao EI “um nó fundamental” na sua rede global de angariação de fundos, escreveu Zelin, que liga os financiadores africanos à sucursal afegã conhecida como ISKP. É a partir daí que é planeada a maior parte das operações externas do EI.
“Estas pequenas bolsas de controlo podem ter um impacto maior se permitirem ao EI retomar as operações externas, expandir a sua actividade financeira e perturbar o abastecimento global de energia,” escreveu Zelin.
A resiliência do ISSOM deve-se a três factores fundamentais, segundo o Grupo de Crise. A área montanhosa isolada tem pouca presença do governo e o acesso à costa facilita o contrabando e o reabastecimento. Em segundo lugar, as ligações regionais entre clãs também ajudam. Por último, ninguém, incluindo o al-Shabaab, consegue derrotar militarmente o ISSOM.
“A principal razão é provavelmente o facto de a atenção do al-Shabaab ter sido consumida pela sua guerra contra o governo somali e os seus aliados,” segundo o Grupo de Crise. O governo da Puntlândia, alegando falta de recursos, tem sido ineficaz.
Embora a rivalidade do ISSOM com o al-Shabaab seja um obstáculo ao seu crescimento, a filial da al-Qaeda não consegue vencer o grupo. Os combates entre os dois países, que começaram em 2015, deram origem a vitórias e derrotas de ambos os lados, segundo o Grupo de Crise. Os dois lados continuam em desacordo devido à concorrência pelas oportunidades de extorsão e ao facto de alguns membros do ISSOM serem desertores do al-Shabaab.
Para combater eficazmente o ISSOM, as autoridades políticas da Puntlândia terão de cooperar com as da Somália e da Somalilândia em matéria de informações e de pressão militar. “As tensões nas relações da Puntlândia com Mogadíscio são particularmente prejudiciais, visto que é pouco provável que a Puntlândia consiga, por si só, fazer face à ameaça do EI-Somália,” segundo o Grupo de Crise. “Estes centros políticos rivais e as respectivas forças de segurança devem procurar pôr de lado estas disputas e encontrar uma forma de cooperar.”
Para enfraquecer os fluxos de receitas do ISSOM, a Puntlândia faria bem em imitar os esforços de Mogadíscio para travar a actividade bancária e financeira móvel do al-Shabaab e, ao mesmo tempo, estabelecer melhores relações com as empresas para recolher informações e criar confiança, segundo o relatório do grupo.
No plano social e humanitário, a Puntlândia poderia oferecer uma via para as deserções, a fim de “proporcionar uma saída pacífica para os seus membros descontentes,” ao mesmo tempo que resolve os problemas das comunidades onde o ISSOM opera. A participação dos líderes comunitários antes das operações militares também contribuiria para criar confiança, segundo o Grupo de Crise.