EQUIPA DA ADF
Enquanto o Níger tenta fazer face a uma economia em crise e a constantes ataques terroristas, a sua junta no poder está a voltar-se para um novo aliado com um pedido perigoso.
O Irão tem estado a trabalhar secretamente num acordo com a junta governativa do Níger para comprar 300 toneladas métricas de minério de urânio no valor de mais de 56 milhões de dólares. Segundo os analistas, o urânio poderia ser canalizado para os esforços em curso do Irão para desenvolver uma arma nuclear.
Em troca do minério de urânio “yellowcake,” o Irão prometeu à junta nigerina ajuda económica, assistência agrícola e armas, incluindo drones e mísseis terra-ar, segundo os observadores.
O acordo tem estado a ser trabalhado apesar de as exportações do minério nigerino estarem bloqueadas desde o golpe de Estado de Julho de 2023 que derrubou o Presidente Mohamed Bazoum.
No seu mais recente relatório trimestral, a Agência Internacional de Energia Atómica estimou que o Irão possui mais de 5.700 quilogramas de urânio enriquecido a 60%, que pode ser rapidamente convertido em material para armas.
“O Irão precisaria apenas de algumas semanas para produzir o material necessário para a produção de armas, mas provavelmente muito mais tempo — um ano ou mais — para construir uma bomba que pudesse ser entregue,” Eric Brewer, vice-presidente adjunto da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear, com sede em Washington, disse à The Associated Press.
De acordo com a agência, a quantidade actual de urânio enriquecido do Irão poderia produzir várias bombas.
As autoridades iranianas abordaram a junta do Níger em Agosto de 2023, cerca de um mês após o golpe de Estado de Julho de 2023. A visita foi o primeiro passo para contornar as sanções internacionais destinadas a impedir o Irão de desenvolver uma bomba.
Em Junho de 2024, a junta do Níger expulsou a empresa francesa Orano da mina de urânio de Imouraren, no nordeste do país. A Orano é controlada a 90% pelo governo francês. Imouraren é considerado um dos maiores depósitos de urânio do mundo e o Níger é o sétimo maior produtor mundial de urânio.
A junta terminou a cooperação militar com a França em Dezembro de 2023 e começou a procurar aliados que não fizessem exigências em matéria de boa governação ou democracia.
“A junta nigerina está provavelmente à procura de apoio militar ou de acesso a curto prazo a receitas para reforçar os seus esforços de contra-insurgência e a sua economia, reforçando a segurança do seu regime,” o analista Liam Karr escreveu recentemente num relatório para o Instituto para o Estudo da Guerra.
O Níger tem estado em dificuldades desde o golpe de Estado de 2023. As sanções, os litígios diplomáticos e o encerramento das fronteiras com os seus vizinhos da África Ocidental, como o Benin, impossibilitaram o Níger de exportar recursos naturais, incluindo petróleo. Em consequência, a junta foi obrigada a reduzir o seu orçamento em 40% e não pagou 519 milhões de dólares de dívidas internacionais. O Banco Mundial prevê que o crescimento económico do Níger em 2024 seja 45% inferior ao registado no período anterior ao golpe.
A inflação e a insegurança estão a aumentar.
“A junta procura trocar os recursos naturais do Níger por empréstimos e armas para ajudar a enfrentar estes desafios,” Karr refere no seu relatório. O Irão juntou-se à Rússia na oferta de dinheiro rápido à junta para ajudar a resolver os seus problemas económicos e de segurança. As autoridades russas contactaram o Níger para assumirem a exploração da mina de Imouraren.
Enquanto o Níger negoceia com o Irão sobre a venda de urânio, a junta enfrenta uma ameaça crescente de movimentos anti-golpistas no interior do país e de insurgentes ao longo da fronteira ocidental com o Burquina Faso. O resultado é uma junta cada vez mais desesperada por dinheiro e armas para manter o seu poder.
“Estes adversários fomentam a insegurança e minam a legitimidade da junta, mostrando a ineficácia da junta e das forças de segurança,” escreveu Karr.