EQUIPA DA ADF
Horas antes da confirmação do primeiro caso de COVID-19 do Senegal, pelo Instituto Pasteur de Dakar, no dia 2 de Março de 2020, o Presidente Macky Sall estava a 1 quilómetro de distância do Palácio Presidencial, numa reunião com os funcionários de saúde para concluir o plano de contingência do país.
O governo começou a criar esses planos em Janeiro de 2020, antes de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado uma emergência de saúde pública internacional.
O Senegal estava preparado.
Aquele país da África Ocidental ganhou elogios internacionais pela sua resposta à pandemia, cujo fundamento foi estabelecido anos atrás.
“O Senegal está a ter um desempenho muito bom,” Michael Yao, gestor de operações de emergência na OMS África, disse à Rádio Pública Nacional (NPR), em 2020. “No início, ficamos impressionados com o envolvimento total e com o compromisso do Chefe do Estado.”
No dia 22 de Março de 2020, o Senegal tinha 62 casos confirmados e estava entre os maiores números de casos do continente. Sall rapidamente implementou um recolher obrigatório que partia do cair da noite até à manhã seguinte, colocou restrições de viagens entre as 14 regiões do país, interrompeu voos internacionais, decretou interrupção das aulas e encerrou restaurantes e mesquitas.
As lições aprendidas de um único caso confirmado de Ébola em 2014 ajudaram o Senegal a partir para a acção.
“Depois do Ébola na África Ocidental, aconselhamos os países a terem centros de operações, com vista a reunir a informação num único lugar para uma eficaz tomada de decisão,” disse Yao. “É uma ferramenta muito importante para controlar a crise, e ter uma estrutura como esta foi um bom plano do Senegal.”
As autoridades criaram o Centro de Operações de Emergência de Saúde (identificado pelo seu acrónimo francês, COUS) em Dezembro de 2014. Desde essa altura, o centro já trabalhou com o Ministério de Saúde, a OMS, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e com o UNICEF.
Dirigido pelo seu director, Dr. Abdoulaye Bousso, o COUS passou anos a realizar simulações de surtos e a criar planos extensivos de resposta a epidemias.
Com a eclosão da COVID-19, uma iniciativa fundamental foi a de internar qualquer um que testasse positivo — com ou sem sintomas — e colocar em quarentena todos os contactos em quartos de hotel com refeições garantidas. A ideia foi de manter os pacientes distantes dos membros da família, que em muitos casos vivem juntos no Senegal.
“Vimos no início que, quando fazemos isso, podemos travar muito rapidamente a transmissão,” disse Bousso à NPR.
O Ministério de Saúde divulgava actualizações claras, baseadas em factos, todas as manhãs. Na verdade, o Senegal foi reconhecido como o segundo país com melhor classificação no índice de resposta global da revista Foreign Policy. O Senegal obteve os melhores resultados possíveis para as directivas de saúde pública e comunicação.
Num país de mais de 16 milhões de habitantes, houve o registo de 38.705 casos e 1.051 mortes, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, até ao dia 30 de Março de 2021.
O Senegal é “um dos países modelo em termos de implementação de medidas de prevenção da COVID-19 e colheu os benefícios disso,” disse o oficial da OMS, Nsenga Ngoy, numa conferência de imprensa virtual, em Novembro de 2020.
O país também investiu muito na melhoria da infra-estrutura de um sistema de saúde que era inadequado e que facilmente ficava sobrecarregado. A OMS estima que existam sete médicos por cada 100.000 habitantes.
Em 2017, o Senegal celebrou um acordo de 176 milhões de dólares com a empresa de construção sediada em Paris, Ellipse Projects, para a construção de quatro hospitais de alta tecnologia com 750 camas, nas cidades de Kaffrine, Kedougou, Sedhiou e Touba.
Esperava-se que as instalações fossem abertas em 2021.
Na altura do pico da primeira vaga, em Maio de 2020, Ellipse doou mais de 165.000 dólares ao Ministério de Saúde do Senegal, numa demonstração de solidariedade.
“A pandemia da COVID-19 mergulhou o mundo, e Senegal não é nenhuma excepção, numa crise sanitária e económica sem precedentes,” o PCA da Ellipse Projects, Oliver Picard, disse ao jornal senegalês, Le Quotidien. “É essencial que o sector privado apoie de forma coordenada os esforços do Estado.”