EQUIPA DA ADF
Mesmo sem o acesso adequado às vacinas contra a COVID-19, existem formas de as nações africanas poderem mitigar a propagação da pandemia.
Além dos confinamentos, das quarentenas, do uso de máscaras, do distanciamento físico e de outras medidas preventivas, a chave para combater a COVID-19 e futuros surtos de doenças pode residir na educação e no envolvimento comunitários.
Escrevendo para a rede The Conversation Africa, o epidemiologista Deoraj Caussy, professor da Open University of Mauritius, afirmou que a propagação da doença pode ser abrandada quando as pessoas estiverem motivadas para detectar e denunciar grupos de casos. A vigilância comunitária ajuda os funcionários do sector da saúde a agirem atempadamente.
“Os cidadãos devem ser capacitados, através da educação e da liderança comunitária, para reconhecer um conjunto de casos antes de a doença ter tempo de propagar-se nas instituições ou nas comunidades,” escreveu Caussy. “Os cidadãos agem de forma responsável quando lhes é proporcionada a informação correcta. Sentirão que estão a contribuir para o bem nacional de protecção da saúde pública e não apenas para o seu interesse próprio.”
Essa adesão da comunidade ocorrerá apenas quando as informações sobre a pandemia forem partilhadas numa linguagem fácil de entender e quando as principais figuras que moldam a opinião pública fizerem parte do esforço.
“A educação deve estar no vernáculo local para alcançar a população em risco, incluindo profissionais de saúde da linha da frente e pessoas com problemas de saúde com maiores vulnerabilidades,” escreveu Caussy. “Devemos dissipar a desinformação que nega as medidas de saúde pública, através de métodos clássicos de informação de educação e comunicação para incluir figuras públicas, como artistas, chefes tribais e outros líderes da comunidade.”
Existe uma necessidade urgente de soluções produzidas internamente, dado que os países com acesso limitado às vacinas enfrentam agora uma terceira vaga do vírus.
No início de Junho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) comunicou que se previa que 47 dos 54 países de África não pudessem atingir a meta de vacinação de 10% das suas populações até Setembro, a menos que a África receba mais 225 milhões de doses da vacina contra a COVID-19. Foram identificadas zonas críticas no Egipto, na África do Sul, na Tunísia, no Uganda, na Zâmbia e em nove outros países subsaarianos.
África recebeu cerca de 32 milhões de doses — menos de 1% dos 2,1 bilhões de doses administradas a nível mundial. Apenas 2% dos cerca de 1,3 bilhões de habitantes de África foram vacinados com uma dose, e só 9,4 milhões de africanos foram totalmente vacinados, de acordo com a OMS.
“À medida que nos aproximamos dos 5 milhões de casos e que paira uma terceira vaga, muita da nossa população mais vulnerável mantém-se perigosamente exposta à COVID-19″, disse Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, num comunicado de imprensa. “Foi provado que as vacinas evitam casos e mortes, por isso, os países que possam fazê-lo devem partilhar urgentemente as vacinas contra a COVID-19. A partilha de doses em África é uma questão de vida ou morte.”
Uma das formas através das quais as nações africanas estão a agir é aumentar a produção de oxigénio de qualidade médica. Desde o início da pandemia, o número de instalações de produção de oxigénio cresceu de 68 para 119 em África, e o número de concentradores de oxigénio aumentou para mais do que o dobro, para 6.100, anunciou a OMS em Março.
Em Janeiro, o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, aprovou um projecto de 17 milhões de dólares para a construção de 38 instalações de produção de oxigénio no país. O governo disponibilizou 671.000 dólares adicionais para a reparação de instalações de produção de oxigénio em cinco hospitais.
Boss Mustapha, presidente da Força-Tarefa Presidencial da COVID-19, na Nigéria, explicou que pelo menos uma instalação de produção de oxigénio seria construída em cada Estado e que as já existentes seriam renovadas para serem totalmente funcionais, de acordo com o jornal nigeriano, The Vanguard.
Em Abril, a Tanzânia instalou unidades de produção de oxigénio médico nos sete principais hospitais do país, num projecto que conta com o apoio do Banco Mundial. A nova presidente, Samia Suluhu Hassan, alterou a resposta do país à COVID-19, depois da morte, em Março, do presidente John Magufuli, um grande céptico em matérias de COVID-19, que, em Fevereiro, se recusou a procurar por vacinas.
Os líderes continentais disseram que a pandemia é uma chamada de atenção para a necessidade de criar sistemas de saúde mais resilientes. Um sistema de saúde resiliente é definido como um que pode suportar o choque de um importante evento de saúde e adaptar-se rapidamente para satisfazer novos desafios.
Isto pode ser feito por meio do aumento do uso da tecnologia e do reforço de parcerias público-privadas, concluiu um estudo da BMJ Global, uma revista médica online editada por profissionais da área.
Reforçar os sistemas de prestação de cuidados de saúde também exige a cooperação entre as nações africanas, disse Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, a Devex.com.
“Precisamos de sistemas de saúde focados nas pessoas que sejam muito inclusivos e comecem a interromper a tendência de dependência do sul global em relação ao norte global,” disse Nkengasong. “Temos que quebrar isso através da regionalização das nossas arquitecturas de segurança da saúde.”