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O Sudão encerrou a sua fronteira com a República Centro-Africana (RCA) no início de Janeiro, afirmando que a medida era necessária para impedir uma tentativa de golpe de Estado contra a liderança da RCA. Contudo, alguns observadores estão a refutar a denúncia, afirmando que as medidas do Sudão podem ter tido a intenção de beneficiar os mercenários do Grupo Wagner da Rússia.
No mês passado, o general sudanês Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti, declarou que o encerramento da fronteira impediu que um grupo armado entrasse na RCA a partir do território sudanês.
Dagalo não especificou que grupo tinha sido impedido, apenas afirmou que eles estavam trajados de uniformes das Forças de Apoio Rápido (RSF), do Sudão, que ele controla. Dagalo é também o líder adjunto da junta militar que controla o Sudão e o rival do líder da junta, General Abdel Fattah al-Burhan.
As acções de Dagalo seguiram-se ao anúncio de 1 de Janeiro, pelo grupo rebelde da RCA, a coligação Siriri, de que pretendia marchar na capital da RCA.
A coligação Siriri é um grupo de mercenários essencialmente sudaneses e chadianos oposto ao presidente da RCA, Faustin Archange Touadera e ao Grupo Wagner. A coligação está afiliada ao irmão do antigo ministro do governo da RCA e actual porta-voz dos rebeldes, Abakar Sabone, de acordo com a Human Angle Media.
Pouco depois do anúncio de Siriri, Dagalo pediu o governo sudanês para acabar com o grupo. Em finais de Janeiro, as autoridades sudanesas começaram a investigar e a prender grupos armados que tinham acampado ao longo da fronteira ocidental do Sudão.
Os rebeldes de dentro da RCA afirmam que eles não têm forças dentro do Sudão. Em vez disso, afirmam eles, as acções das RSF ao longo da fronteira têm sido parte de um plano com mercenários do Grupo Wagner para lançar um assalto contra eles.
O Grupo Wagner está profundamente envolvido na mineração do ouro e do diamante ao longo da fronteira. O dinheiro angariado pelo contrabando de ouro e diamante para fora do Sudão e da RCA é canalizado para os ataques do presidente da Rússia, Vladimir Putin, contra a Ucrânia.
“Em Bangui, as tropas do Grupo Wagner protegem o governo, particularmente a presidência, enquanto o seu modus operandi nas províncias indica que eles estão primariamente interessados em assegurar as zonas de ouro e diamante,” Pauline Bax, directora-adjunta do programa de África, no Grupo Internacional da Crise, disse ao Middle East Eye.
Os combatentes do Grupo Wagner foram acusados de inúmeras violações de direitos humanos na RCA. Em Março de 2022, combatentes do Grupo Wagner mataram centenas de mineiros artesanais, em Andaha, uma zona de mineração do ouro, próximo da fronteira com o Sudão. Os mortos incluem mineiros originários do Sudão e do Chade, entre outros lugares.
Bax afirma que muitos dos confrontos entre os combatentes do Grupo Wagner e os rebeldes estiveram relacionados com as minas. “Eles [o Grupo Wagner] controlam várias áreas mineiras importantes e de forma regular envolvem-se em confrontos em zonas mineiras que estão sob controlo dos rebeldes da [Coligação dos Patriotas para Mudança] CPC,” disse.