EQUIPA DA ADF
As autoridades de saúde pública do Uganda esperam que a comunicação e medidas agressivas venham a ajudar a controlar a propagação do Ébola.
As autoridades colocaram os distritos de Mubende e Kassanda em confinamento obrigatório total, ao longo da auto-estrada agitada que liga Kampala à República Democrática do Congo. Juntamente com esta medida, as autoridades de saúde pública continuam a trabalhar para acabar com a desinformação e persuadem as pessoas que possam ter contraído a doença a procurar imediatamente por tratamento.
“Nos surtos do Ébola, muitas pessoas ainda chegam aos centros de saúde com doença avançada ou até mesmo morrem em casa, infectando outras pessoas no processo. Isso é o que temos de evitar,” Dr. Guyguy Manangma, director-adjunto de programas de emergência na organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), disse num comunicado.
O actual surto é o terceiro da estirpe do Ébola no Sudão desde o ano 2000. O surto de 2000 matou cerca de metade das 425 pessoas infectadas.
“Desde o primeiro, ganhámos experiência significativa para sermos capazes de responder a esta doença,” Kyobe Henry Bbosa, comandante de incidentes do Ébola, no Ministério da Saúde do Uganda, disse à revista Scientific American.
O Ébola começa com uma dor de cabeça e febre, depois desenvolve-se para diarreia e, em alguns casos, em sangramento interno e externo. O vírus propaga-se através do contacto com fluidos do corpo — não através do ar — e, muitas vezes, representa o risco mais elevado para os membros da família quando preparam os corpos para o sepultamento.
Por causa do risco de propagação, as autoridades ugandesas baniram o tratamento por médicos tradicionais e ordenou que a polícia prendesse qualquer pessoa que esteja infectada e se recuse a ficar isolada.
Como parte da resposta ao surto, as autoridades sanitárias do Uganda e internacionais apelam a população a recordar-se do seguinte:
Não existem vacinas. Embora exista uma vacina para a extirpe do Zaire que atingiu a África Ocidental em 2014, a extirpe do Sudão não possui vacina aprovada. Aquela vacina não funciona contra a estirpe do Sudão. Duas vacinas para a estirpe do Sudão estão a ser desenvolvidas e poderão ser aplicadas em ensaios clínicos no Uganda, se receberem as aprovações necessárias. Isolar e tratar as pessoas infectadas é a melhor forma de impedir que o vírus se propague.
Uma resposta rápida é de vital importância. Atrasar o tratamento do Ébola coloca toda a comunidade em risco, pelo que as autoridades sanitárias apelam a qualquer pessoa que possa estar infectada ou conheça alguém que possa estar infectado para procurar tratamento imediatamente. A organização Médicos Sem Fronteiras recomenda a criação de clínicas e enfermarias de isolamento próximo das comunidades afectadas, como Madudu, para mantê-las próximas dos seus familiares e amigos. Estas clínicas podem transferir os seus casos mais avançados para hospitais maiores mais próximos para mais cuidados intensivos.
Os profissionais de saúde também têm acesso a um laboratório móvel, em Mubende, que pode confirmar casos de Ébola em seis horas, em vez do tempo mais longo necessário para enviar amostras para testar no Instituto de Pesquisas de Vírus do Uganda.
O apoio comunitário é crucial. Os especialistas de saúde pública estão a trabalhar com os líderes comunitários para controlar as suas comunidades a fim de reportar possíveis exposições ao Ébola e para criar confiança, na esperança de fazer com que mais pessoas infectadas obtenham o tratamento e se isolem o quanto antes. Quanto mais tempo uma pessoa infectada espera à procura de tratamento, maior é o risco que ela representa para a sua comunidade enquanto a doença progride.
As autoridades de saúde pública dependem dos líderes comunitários e das equipas de resposta para combater o surto, de acordo com Patrick Otim, oficial de emergência de saúde, da Unidade de Gestão de Eventos Graves, do escritório regional para África, da Organização Mundial de Saúde.
Até agora, a resposta comunitária tem sido positiva, disse Otim à Scientific American.
“As equipas que estão [no] terreno estão a receber cooperação por parte da comunidade, em termos de investigação, listas de contactos e transferência de casos suspeitos,” disse.
O Uganda está a utilizar a maior parte da infra-estrutura de saúde que construiu para responder à COVID-19 para fortalecer a sua resposta a este surto de Ébola, explicou Otim.
“Agora temos uma capacidade significativa criada em todo o país para protecção e também para sermos capazes de galvanizar o apoio comprometido para a resposta,” disse. “Por isso, pensamos que utilizando aquilo que já fizemos antes, seremos capazes de responder adequadamente ao actual surto.”