Aclamado pelas suas medidas inventivas para o combate à pandemia da COVID-19, como o uso de robots, câmaras térmicas, drones e cães farejadores de doença, o Ruanda ofereceu um modelo para a gestão de surtos.A mais recente inovação daquele país para salvar vidas e para aliviar a pressão sobre os hospitais chama-se Operação Salve o Seu Próximo (Operation Save the Neighbor, originalmente em inglês), uma iniciativa que integra médicos em equipas de prestação de cuidados domiciliários. Através do programa, as localizações dos pacientes e dos médicos são mapeadas de forma que os médicos e os agentes comunitários de saúde possam tratar dos pacientes que se encontram a uma distância em que se pode ir a pé.
“Quando se é um profissional médico e existe uma emergência de saúde na sua comunidade, é sua responsabilidade fazer parte da solução,” Dr. Emile Rwamasirabo, um cirurgião urologista que participa no programa, disse na página da internet da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Duas semanas depois do lançamento da operação, este ano, a quantidade de tratamentos domiciliários aumentou de 30% para 92%. Uma vez que a monitoria da saturação de oxigénio de mais de 80% dos pacientes que recebiam tratamento domiciliário era feita regularmente, o número de mortes por COVID-19 diminuiu, declararam as autoridades.
O programa foi lançado no distrito de Gasabo, o epicentro de um grave surto de COVID-19, no início de 2022, com mais de 2.500 casos registados em 501 aldeias. A abordagem reduziu o fardo sobre os agentes comunitários de saúde, que assistem cada um cerca de 100 pacientes.
“Como agentes comunitários de saúde, o nosso conhecimento e habilidades são limitados e a população tem conhecimento disso,” Rutagarama Wendislas, chefe da equipa de agentes comunitários de saúde, no sector Gisozi de Kigali, disse na página da internet da OMS. “Saber que podemos apenas pegar no telefone e ligar para um médico para pedir apoio melhorou a nossa confiança e criou confiança no seio da população.”
Num caso grave, Wendislas disse que os médicos foram de grande ajuda ao analisarem a informação que ele providenciou de forma rápida e compreenderam que a condição do paciente podia ser grave.
“Fez-nos sentir que realmente éramos uma equipa,” disse Wendislas.
A abordagem está a funcionar tão bem que, até ao fim de Março, 98% dos pacientes da COVID-19 em Ruanda foram tratados em casa, de acordo com a OMS.
“A maior riqueza que o sistema de saúde do Ruanda tem é o seu povo e o seu espírito inovador,” Dr. Brian Chirombo, representante da OMS no Ruanda, disse na página da internet da organização. “Esperamos que a Operação Salve o Seu Próximo seja replicada em outras partes, mesmo em tempos que não sejam de crise.”
Nepo Kwizera trabalha como agente comunitário de saúde no distrito de Gasabo desde 2002. Kwizera disse que viu ganhos tremendos na formação e no acesso a suprimentos médicos básicos. Nos seus primeiros dias como agente comunitário de saúde, Kwizera disse que a melhor forma que podia usar para medir se uma pessoa tinha febre era colocando a parte traseira da sua mão na testa da pessoa.
“Hoje a história é outra,” Kwizera disse ao Ruanda Cooperation, um programa do governo, que promove e partilha iniciativas inovadoras de desenvolvimento. “Nós e a geração mais jovem de agentes comunitários de saúde recebemos uma formação adequada, as nossas habilidades e o nosso conhecimento são constantemente actualizados. Temos o equipamento necessário para oferecer tratamento básico aos nossos pacientes.”
Graças ao cumprimento rigoroso das medidas preventivas, o Ruanda registou um declínio acentuado no número de novos casos de COVID-19 desde que a quarta vaga impulsionada pela variante Ómicron atingiu o pico em Dezembro de 2021, quando a taxa de positividade de sete dias era de cerca de 10%. Até Abril de 2022, a taxa era de 0,02%.
O Ruanda terminou o seu recolher obrigatório nacional, permitiu que os postos de trabalho retomassem a sua capacidade total e abriu todas as fronteiras terrestres em Março de 2022.