Mais de dois anos depois de o primeiro caso de COVID-19 ter sido registado em Angola, as autoridades ainda estão a lutar contra a desinformação sobre a doença que já matou 1.900 pessoas naquele país.Algumas pessoas aderem à noção de que os angolanos são imunes à COVID-19 devido aos surtos anteriores de malária ou de que beber álcool e comer alho pode evitar o coronavírus. Nada disso é verdade.
Joana Domingos, mãe de dois filhos, residente em Luanda, era uma das pessoas que pensavam que a pandemia era uma narrativa global criada para atingir os pobres do mundo. Agora ela arrepende-se de ter dado ouvidos a essa desinformação.
“Eu estava muito confusa e com medo da possibilidade de meus filhos e eu pudermos morrer de COVID-19,” disse Domingos na página da internet da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Decidi parar de trabalhar, proibi os meus filhos de irem a escola e limitei qualquer possibilidade de estar exposta ao vírus da COVID-19.”
A desinformação sobre a COVID-19 começou a propagar-se logo que a pandemia começou e a sua dinâmica demonstrou-se ser difícil de conter.
Até 2021, a desinformação sobre a COVID-19 tinha alcançado “proporções de crise” a nível mundial, Carl Bergstorm, um biólogo evolucionista da Universidade de Washington, e o seu colega Jevin West escreveram num estudo de 2021 para a revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
“Representa um risco para a paz internacional, interfere na tomada de decisões democráticas, coloca em perigo o bem-estar do planeta e ameaça a saúde pública,” escreveram Bergstorm e West.
Bergstorm e outros especialistas culpam as redes sociais de promoverem a polarização e ampliarem a desinformação, comunicou a revista Science.
“Num pátio da escola, as pessoas agrupam-se para assistir a lutas e o mesmo acontece no Twitter,” disse Bergstorm à revista.
Em resposta à desinformação, a OMS e o Ministério de Saúde de Angola criaram o Projecto Aliança da COVID-19, em 2020. A iniciativa ajuda a proteger a população da má informação, que é informação falsa propagada independentemente da intenção de enganar, e da desinformação, que é a propagação hostil de informação falsa por um governo ou grupo organizado.
O projecto criou o Factos Saúde, uma plataforma que rastreia rumores e apoia a educação sobre a saúde e o bem-estar. A plataforma produziu e disseminou 150 materiais de propaganda que são partilhados de forma generalizada no Facebook e no WhatsApp, de acordo com a OMS.
A iniciativa contra a desinformação sobre a COVID-19 ajudou a acabar com rumores, dando crédito às autoridades sanitárias que lutam contra a pandemia, disse a Dra. Djamila Cabral, representante da OMS em Angola.
“Esta iniciativa também torna possível identificar os problemas, as dúvidas e as preocupações das populações que precisam de uma medida específica para serem resolvidas,” disse Cabral na página da internet da OMS. “Todos nós temos a responsabilidade de assegurar que as nossas populações estejam adequadamente educadas e protegidas de informação de saúde falsa e infundada.”
Existem planos para expandir o Factos Saúde para o Twitter e Instagram e criar uma linha de atendimento no WhatsApp.
Domingos, a mãe de dois, deseja que a plataforma tivesse aparecido antes.
“Penso que se eu tivesse tido acesso a Factos Saúde naquela altura, não teria tomado decisões precipitadas, nem sofrido do medo das medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias,” disse.
Com a ajuda da Aliança para Gestão da Infodemia, a OMS também ofereceu apoio em termos de formação ao Ministério de Saúde de Angola para combater a informação falsa. Para além disso, o Ministério de Saúde pretende criar o seu próprio laboratório de gestão de rumores que pode monitorizar, rastrear e acabar com os rumores relacionados com a saúde.