EQUIPA DA ADF
Enquanto a rivalidade sangrenta entre os dois grandes grupos terroristas continua a destruir inúmeras vidas no nordeste da Nigéria, ambas partes estão a enfrentar um outro tipo de perda — as deserções.
Nos últimos meses, milhares de combatentes do Boko Haram e do seu grupo dissidente rival, a Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), renderam-se às autoridades locais, enfraquecendo os dois grupos.
Um relatório divulgado durante uma conferência de imprensa, no dia 7 de Abril, feito pelo Comité de Combate ao Terrorismo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, analisou as mortes de líderes terroristas que precederam a actual onda de deserções.
“As relativamente recentes mortes de Abu Musab al-Barnawi, do ISWAP, Abubakar Shekau, do Boko Haram, e Adnan Abu Walid al-Sahrawi, do ISGS [Estado Islâmico no Grande Sahara], e a deserção de milhares de indivíduos das fileiras dos grupos sinalizou um possível enfraquecimento dos grupos afiliados ao ISIS em partes de África,” declarou o relatório.
Dezenas de milhares de civis foram mortos por grupos extremistas e centenas de milhares fugiram da região do Lago Chade desde que o ISWAP se separou do Boko Haram, em 2016.
O Contra-Almirante Yaminu Musa, coordenador do Centro de Combate ao Terrorismo da Nigéria, deu crédito à Força Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF) composta por tropas de Benin, Camarões, Chade, Níger e Nigéria.
“A resposta militar da MNJTF beneficiou grandemente do fluxo de informação das unidades de inteligência regionais com o apoio dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido,” disse Musa durante a conferência de imprensa.
As forças nigerianas alcançaram sucesso recentemente depois de enviar 12 aeronaves de ataque ligeiras Super Tucano, fabricadas nos EUA, que fazem patrulha no nordeste, recolhem inteligência e atacam os acampamentos do Boko Haram e do ISWAP que anteriormente estavam muito distantes para encontrar.
“Agora os combatentes, juntamente com as suas famílias, foram obrigados a entregar as suas armas,” disse Musa. “Eles estão a sair dos seus enclaves.”
As autoridades prevêem uma mudança de poder entre as facções rivais depois da morte de Shekau em Maio de 2021. O líder de longa data do Boko Haram detonou o seu colecte suicida para evitar ser capturado na invasão do ISWAP à fortaleza da Floresta de Sambisa do Boko Haram, no Estado de Borno.
Em Outubro, um comandante de alta patente do exército nigeriano confirmou que Al-Barwani tinha sido morto. A sua morte obrigou o ISWAP a reagrupar-se também.
“Nos últimos meses, houve inúmeras rendições em massa de terroristas e seus simpatizantes na parte do nordeste da Nigéria,” Conselheiro de Segurança Nacional Nigeriano, General Babagana Monguno, disse durante o Fórum de Paz de Paris, em finais de 2021. “Actualmente, mais de 15.000 pessoas foram recebidas.
Esta situação motivou actividades humanitárias em grande escala para reabilitar os regressados, expandindo a já existente Operação do Corredor de Segurança para a desradicalização e subsequente reintegração na sociedade.”
O exército nigeriano comunicou que 51.114 rebeldes e familiares – 11.398 homens, 15.381 mulheres e 24.335 crianças renderam-se até 5 de Abril.
Ao revindicar território do Boko Haram no nordeste, o ISWAP começou a cobrar impostos, fornecer serviços governamentais e protecção contra bandidos que rotineiramente atormentam as aldeias recônditas.
O governo nigeriano está a encorajar os militantes a aderirem aos programas de reintegração como uma alternativa à violência.
Isso está em linha com o estudo da ONU que apela à “abordagem de justiça transicional (incluindo justiça criminal) e mecanismos de prevenção para a melhoria da resiliência dos Estados, fortalecimento de caminhos para a saída de conflitos e passos robustos para a prevenção de extremismo violento conducente ao terrorismo.”
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, comprometeu-se a apoiar os esforços de reintegração da Nigéria quando visitou a capital de Borno, Maiduguri, no dia 3 de Maio, e viu o acampamento que alberga os combatentes que se renderam.
“O governador disse-me que vocês precisam de criar novas instalações para poderem ter uma reintegração eficaz para estes antigos terroristas e antigos combatentes, e eu prometi que nós iríamos apoiar por completo este projecto,” disse mais tarde Guterres durante uma conferência de imprensa.
“A melhor coisa que podemos fazer para a paz é reintegrar aqueles que no momento de desespero se tornaram terroristas, mas agora querem ser cidadãos e contribuir para o bem-estar dos seus irmãos e irmãs.”