EQUIPA DA ADF
O uso de um drone autodirigido no campo de batalha pode ter sido um primeiro caso em África. Agora os especialistas estão a expressar preocupações sobre a expansão do seu uso.
Em Março de 2020, quando os combatentes leias ao Marechal Khalifa Haftar, da Líbia, recuaram no campo de batalha, os seus perseguidores incluíam um drone autodirigido lançado pelo então Governo de Unidade Nacional. A aeronave funciona à base de inteligência artificial (IA) e foi programada para atacar por si mesma.
Conforme descrito no relatório das Nações Unidas, publicado um ano depois, o ataque do drone STM Kargu-2, fabricado na Turquia, pode ter sido o primeiro registo de uso de uma arma aérea completamente autodirigida num campo de batalha em África. No relatório, não está claro se o drone terá feito alguma vítima mortal.
“Se alguém tiver sido morto num ataque autónomo, isso iria provavelmente representar um primeiro caso conhecido da história de armas autónomas, à base de inteligência artificial, a serem utilizadas para matar,” escreveu Zachary Kallenborn no The Bulletin of the Atomic Scientists.
A IA tem estado a crescer pelo continente nestes últimos anos, apoiando tudo desde patrulhas de combate, passando pela caça furtiva no Malawi e leitores de matrículas das viaturas na África do Sul, até software de vigilância no Uganda.
Nos seus diversos usos, a IA continua centrada em tarefas como reconhecimento de padrões e previsão de comportamento. No Malawi, drones alimentados por IA podem identificar a diferença entre pessoas e animais. Várias empresas de comunicação ao nível mundial oferecem tecnologia de reconhecimento facial que pode rastrear pessoas por tada a parte.
Drones prontos para o uso estão a ser cada vez mais famosos para os governos e insurgentes pelo continente para a realização de tarefas que variam de controlo de multidões para planificação de assaltos. Até agora, a maior parte deles possuem pilotos e decisores humanos que os controlam.
Enquanto a IA e as tecnologias de drones se unem, os especialistas estão preocupados com o facto de que os futuros conflitos do continente possam assemelhar-se mais ao ataque líbio.
“Embora outros especialistas tenham contrariamente classificado o Kargu-2 como sendo munição vagante, o seu uso em combate no norte de África, entretanto, aponta para um futuro em que armas que recorrem à IA estarão cada vez mais a ser utilizadas em conflitos armados na região,” Marian Okpali, uma investigadora da polícia cibernética no Centro de Estudos Estratégicos de África, escreveu recentemente.
As munições vagantes foram descritas como uma espécie de mina terrestre aérea, capaz de continuar em posição acima de um alvo esperando por um conjunto de condições ocorra para desencadear um ataque. Diferente das minas terrestres convencionais, os drones são limitados pelo seu tempo de voo.
Enquanto os drones dirigidos pelos exércitos podem voar sozinhos para um local, escolher alvos e matar sem a intervenção humana, até o ataque líbio, não havia registos de isso ter realmente acontecido no campo de batalha.
Mesmo numa altura em que as organizações internacionais apelam para que tais armas sejam banidas, a procura está a fazer com que os fabricantes produzam mais armas do género. A Paramount Group, da África do Sul, juntou-se aos produtores da China, Turquia e Israel na produção de suas próprias armas aéreas autónomas.
“A N-Raven Series pode ser de extrema importância para a execução bem-sucedida de missões modernas para eliminar incêndios, com capacidade de enxames e oferecendo apoio a Operações em Múltiplos Domínios,” relatou o Paramount Group.
Assim como o STM Kargu-2, da Turquia, os drones sul-africanos, N-Raven, podem partilhar informação e coordenar, possibilitando um ataque em enxame enquanto diversos drones convergem para um único alvo. O problema, de acordo com Kallenborn, é que informação não exacta por parte de um drone pode criar um desastre com efeito em cascata quando os drones atacarem como um enxame um determinado alvo depois de partilhar dados errados.
Mais de uma dezena de países africanos já utilizam os drones, Bayraktar TB2, da Turquia, que são autónomos, mas monitorados por operadores em terra.
Com excepção do ataque líbio, q maior parte dos drones utilizados em campos de batalha de África foram limitados à vigilância e identificação de alvos. Embora o grupo do Estado Islâmico já tenha utilizado drones explosivos no Médio Oriente, tal tecnologia até agora manteve-se fora de África.
Isso pode mudar, de acordo com Karen Allen, uma consultora do Instituto Sul-africano de Estudos Estratégicos. Oficiais militares africanos acreditam que é apenas uma questão de tempo até que os insurgentes comecem a empregar drones que recorrem à IA nos seus ataques.
“Possivelmente, a vantagem psicológica de ameaçar empregar um drone amador, disponível a nível comercial como um instrumento de intrusão ou uma arma pode oferecer aos actores não estatais violentos um grau de vantagem sobre os seus adversários assim como expandir as suas esferas de controlo,” Allen escreveu numa análise para o Centro de Estudos Estratégicos de África.