EQUIPA DA ADF
Na luta contra a COVID-19, as autoridades de saúde pública afirmam que aumentar a capacidade de África para a vigilância genómica é uma parte fundamental para se compreender o inimigo e derrotá-lo.
Se os hospitais e os profissionais de saúde são a linha da frente da luta contra a pandemia, os laboratórios e os pesquisadores genéticos são os oficiais de inteligência que analisam os dados de entrada e predizem os próximos movimentos do vírus para que os sistemas de saúde pública possam estar prontos.
Quando a pandemia começou, no início de 2020, os sistemas de saúde africanos rapidamente viram-se sem equipamento e sem pessoal suficiente para confrontar um vírus que se move e realiza mutações de forma rápida.
A vigilância genómica utiliza computadores superpotentes e outras ferramentas para analisar o material genético encontrado em amostras do vírus da COVID-19. O processo pode identificar ligeiras diferenças na composição genética, alertando os cientistas sobre a presença de potenciais novas variantes prejudiciais no seio da população.
A vigilância genómica é, em parte, um jogo de números: Quanto mais amostras os pesquisadores recolhem e realizam o seu sequenciamento, mais provável é que os profissionais de saúde consigam acabar com os surtos antes do seu início.
Quando a pandemia começou, África tinha apenas um punhado de laboratórios capazes de fazer pesquisas genómicas. Um desses, o Centro Africano de Excelência em Genómica de Doenças Infecciosas de Ede, Nigéria, detectou o primeiro caso de COVID-19 na África Subsariana, em Março de 2020.
Aproximadamente dois anos depois,África ainda sofre de uma carência de funcionários de laboratório formados e de capacidade técnica adequada para fazer a vigilância genómica.
Para vencer estas carências, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) e os escritórios regionais de África da Organização Mundial de Saúde (OMS) estão a construir um sistema continental de laboratórios que podem rastrear o vírus da COVID-19, identificar as suas variações genéticas e ajudar os profissionais de saúde a manter o controlo do mesmo.
Juntamente com aqueles laboratórios, ambas agências lançaram programas de vigilância comunitária destinados a expandir a testagem para além dos hospitais, para localizar focos de infecção e reagir rapidamente para impedir que as mesmas se expandam. Os dados recolhidos por meio destes testes irão alimentar os sistemas de vigilância genómica.
Em Outubro de 2020, o Africa CDC recebeu 100 milhões de dólares para expandir a pesquisa genómica de patogénicos no continente pelos próximos quatro anos ou mais. A OMS está a despender 4,5 milhões de dólares para criar um novo centro de excelência em testagem genómica na Cidade do Cabo, África do Sul.
O Africa CDC criou o seu Instituto de Genómica de Patogénicos em 2019, meses depois de a COVID-19 ter sido primeiramente identificada na China. O instituto foi criado para apoiar os institutos de saúde pública nacionais nos trabalhos de sequenciamento.
Numa reunião que decorreu em Dakar, Senegal, no início de Novembro, o Africa CDC credenciou representantes de 16 países para realizarem a vigilância genómica.
“Melhoramos de forma rápida o número de países que são capazes de fazer o sequenciamento genético do vírus,” Dr. John Nkengasong, director do Africa CDC, escreveu num artigo da revista Cell.
Outros pesquisadores estão a formar-se em genómica de patogénicos no Centro de Resposta e Inovação Epidémica da África do Sul (CERI), em Durban. O Dr. Rene Essomba, director da unidade de genómica do Ministério de Saúde dos Camarões, encontra-se entre os pesquisadores formados pelo CERI.
“Antes, costumávamos enviar as nossas amostras para o estrangeiro, noutros países, para fazer o sequenciamento,” disse Essomba, numa entrevista, na CERI. “Agora, começaremos a fazer as nossas próprias sequências genómicas. Isso irá aumentar o tempo de resposta para que possamos ter a vigilância de variantes em tempo real nos Camarões.”
O trabalho de expandir a vigilância genómica de África está a compensar. No início da pandemia, o continente fez o sequenciamento de 5.000 amostras de COVID-19 de 23 países. Até meados de Novembro, esse número tinha aumentado para mais de 53.600 amostras de 53 países.
Isso ainda é cerca de 1% de todos os sequenciamentos feitos no mundo inteiro, mas está a aumentar. A África do Sul continua a ser a força dominante, produzindo 43% destes sequenciamentos.
A OMS estima que pelo facto de os surtos de doença lesarem África em 800 milhões de dólares em perdas de produtividade anualmente, o impulso para expandir a vigilância genómica de África vai para além da COVID-19.
Os mesmos laboratórios serão capazes de fornecer conhecimentos cruciais sobre qualquer um dos 140 surtos de doença que o continente experimenta anualmente, desde o carbúnculo e chikungunya até ao sarampo e a febre do Vale do Rift, de acordo com o especialista do Africa CDC, Dr. Seth Inzaule. A pesquisa genómica ajudou a quebrar o surto de Ébola da África Ocidental, de 2014 a 2016.
“A pandemia da COVID-19 revelou que África precisa de uma nova ordem da saúde pública para ser resiliente, para adaptar-se e para lidar com as ameaças de doenças do século XXI,” disse Nkengasong durante uma recente conferência de imprensa.