EQUIPA DA ADF
Embora o rapto de 276 alunas da Escola Secundária Estatal Feminina de Chibok tenha originado indignação a nível global, esta prática chocante continua. As crianças em idade escolar no norte da Nigéria tornaram-se mercadorias de uma indústria próspera para sequestradores que procuram atenção e dinheiro.
Apenas nos primeiros três meses de 2021, extremistas raptaram mais de 800 alunos e seus professores, em seis eventos em quatro Estados.
Homens munidos de armamento pesado atacaram internatos e universidades, levando forçosamente estudantes para florestas próximas para fazê-los reféns, em troca de dinheiro de resgate. Durante um rapto na Greenfield University, no Estado de Kaduna, os sequestradores mataram cinco reféns quando os seus pais não conseguiram satisfazer as suas exigências.
Os resgates podem levar as famílias a venderem todas as suas posses e terras de cultivo para angariar o dinheiro.
Por cada rapto de grande visibilidade que acontece, muitos mais passam despercebidos, de acordo com Bulama Bukarti, analista sénior da Unidade de Política contra o Extremismo, no Instituto Tony Blair para Mudança Global.
“Com os culpados praticamente nunca presos e julgados, os criminosos deram-se conta de que o crime compensa,” escreveu Bukarti no The Washington Post. “A vulnerabilidade inata das crianças e a presença de escolas públicas em edifícios velhos e inseguros nos arredores das cidades deixa-as expostas.”
No noroeste do Estado de Kaduna, as autoridades fecharam 13 escolas após extremistas terem raptado 140 alunos da escola Bethel Baptist High School. Mais de duas dezenas de alunos e um professor foram resgatados posteriormente. Num outro ataque, na Escola Islâmica de Salihu Tanko, no Estado do Níger, sequestradores raptaram crianças de apenas 3 anos de idade. Abandonaram as crianças mais pequenas na floresta quando estas não conseguiram manter o ritmo do grupo.
Em Julho, os sequestradores contactaram as famílias de 100 alunos reféns, exigindo que lhes dessem arroz e outros alimentos, caso contrário, as suas crianças passariam fome.
O risco de rapto fez com que os pais em todo o norte da Nigéria deixassem os seus filhos fora da escola. As autoridades também fecharam escolas para prevenir ataques.
Cerca de 10,5 milhões de crianças com menos de 14 anos de idade deixaram de frequentar a escola, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A organização estima que mais de 1.100 escolas tenham sido fechadas em todo o noroeste da Nigéria. Mesmo onde as escolas continuaram abertas, dezenas de milhares de alunos deixaram de ir à escola, porque os seus pais tentam protegê-los dos ataques.
“As autoridades nigerianas arriscam ter uma geração perdida devido à sua incapacidade de proporcionar escolas seguras para as crianças, numa região já devastada pelas atrocidades do Boko Haram,” disse Osai Ojigho, diretora da Amnistia Internacional na Nigéria. “A incapacidade das autoridades nigerianas em proteger as crianças em idade escolar de ataques recentes mostra claramente que não foi aprendida nenhuma lição com a tragédia de Chibok.”
Os raptos e o fecho das escolas foram particularmente prejudiciais para as alunas. No caso de Chibok, algumas raparigas saíram do cativeiro com crianças nascidas durante o seu sequestro, causando estigma entre as suas famílias. Após o encerramento das escolas, alguns pais entregaram as suas filhas em casamento, terminando a sua educação, disse Bukarti.
Chukwuemeka Nwajiuba, Ministro do Estado para a Educação, na Nigéria, disse que o país tem o maior número de alunos fora da escola na África Subsariana. Mas também disse aos nigerianos que o governo não os pode proteger de todos os ataques.
“O Governo Federal não pode proteger todas as casas. Precisamos todos de estar vigilantes”, disse Nwajiuba ao jornal nigeriano, The Punch.
O governo ordenou as escolas para entrarem em contacto com a agência de segurança mais próxima se estiverem preocupadas com um ataque, acrescentou. No entanto, essas forças estão a ser utilizadas ao limite na luta contra o Boko Haram e outros insurgentes na região.
Bukarti disse que o governo deve enfrentar as forças que alimentam o extremismo e os raptos — a pobreza, o desemprego e a falta de educação — se se pretende combater o problema.
“As crianças nigerianas e os seus pais estão a ser forçados a escolher entre as suas vidas e a sua educação,” disse Bukarti à National Public Radio. “Isto representa o risco de criar uma geração perdida de nigerianos, que afectará não apenas o futuro dessas crianças, mas também o de todo o país.”