EQUIPA DA ADF
As mensagens entram através do WhatsApp de números do Gana ou da Nigéria e contêm alertas pessimistas sobre as vacinas do Ocidente ou sobre os grupos internacionais que as promovem. As mensagens, muitas vezes, são partilhadas de forma rápida com a falsidade a ser propagada de pessoa para pessoa como o próprio vírus da COVID-19.
Em toda a África Ocidental, os líderes de saúde pública lutam diariamente contra a desinformação enquanto procuram reduzir a propagação da COVID-19 através da vacinação do maior número possível de pessoas.
É uma batalha que as autoridades de saúde pública afirmam que devem vencer. Por toda a região, as taxas de vacinação continuam baixas, com a maior parte dos países a registarem menos de 1% da população a ser totalmente vacinada.
A desinformação está a abafar os conselhos de saúde pública oficiais sobre a COVID-19, de acordo com um grupo de pesquisadores afiliados na Universidade de Cape Cost, do Gana, e a Universidade de Tecnologia, da Austrália. Eles são co-autores de um estudo, publicado na Frontiers in Communication, que analisa os efeitos da desinformação sobre a propagação da COVID-19.
“O aspecto preocupante é que o actual clima sociopolítico de África projectou a desinformação relacionada com a propagação da COVID-19 através da disseminação de notícias infundadas,” escreveram.
As campanhas de desinformação da Rússia e da China promovem essa informação deturpada, filtrando-a através de fontes da África Ocidental para promoverem as suas próprias vacinas em detrimento das vacinas dos outros. A desinformação é uma falsidade propagada de propósito, muitas vezes, por um actor do Estado, enquanto a informação deturpada é tipicamente propagada sem intenção de enganar.
As campanhas de desinformação visam tirar o crédito das vacinas da Pfizer, Moderna, Johnson & Johnson e AstraZeneca, através da enfatização de problemas, muitas vezes, omitindo contextos fundamentais e minimizando os problemas associados com as vacinas da Rússia e da China.
A Agência de Pesquisa da Internet da Rússia utilizou a Caliwax, uma empresa que trabalha na Nigéria e no Gana, para propagar desinformação, promovendo a vacina Sputnik V, da Rússia, enquanto denigre as outras. A Caliwax foi identificada como promotora de trolls que anteriormente foram utilizados para interferir nas eleições dos EUA e da Guiné e nas operações de combate ao terrorismo, no Mali.
Enquanto motivam a falta de confiança da vacina na África Ocidental, a Rússia e a China estão a reforçar os esforços anteriores de prejudicar as campanhas de saúde pública. As conspirações contra as vacinas, por muito tempo, têm estado a lançar suspeitas sobre a Organização Mundial de Saúde, o UNICEF e a Fundação Bill e Melinda Gates como sendo corruptas e não confiáveis.
Esta falta de confiança é a causa fundamental da hesitação da vacina na região, de acordo com um grupo de pesquisa designado AfroBarometer. Um inquérito feito em Março em cinco países da África Ocidental descobriu que 60% dos inquiridos não estariam dispostos a serem vacinados. Menos de um terço afirmou que confiava que o governo haveria de garantir que a vacina contra a COVID-19 fosse segura antes de a oferecer aos seus cidadãos.
“A hesitação/resistência da vacina aumenta juntamente com as dúvidas quanto à capacidade de o governo garantir que as vacinas sejam seguras,” comunicou o AfroBarometer. “Aqueles que confiam completamente nos seus governos quanto a este resultado são cinco a 10 vezes mais propensos a desejar a vacina do que aqueles que não confiam neles.”
Por seu turno, os países da África Ocidental, como Benin, Nigéria e Serra Leoa, estão a utilizar o WhatsApp e outros sistemas digitais para combater as campanhas de desinformação da Rússia e da China, através da disponibilização de informação exacta para os seus cidadãos sobre números de casos, a gravidade da doença e como identificar os sintomas da COVID-19.
Tregong, uma agência de relações públicas sediada na Nigéria, está na linha da frente da luta contra a desinformação na África Ocidental e Central.
“Moscovo faz isso para o seu próprio interesse,” director-executivo, Okon Nya, disse ao The Daily Beast. “A Rússia não está apenas a procurar prejudicar o Ocidente, mas está à procura de meios para convencer a África de que oferece a melhor ciência de saúde do que os outros países.”