EQUIPA DA ADF
A suposta morte do líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, na Nigéria, em Maio, levanta questionamentos quanto ao futuro da organização extremista de destaque do país e sobre uma possível mudança no poder em direcção ao seu rival, o Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP, sigla inglesa).
O exército nigeriano disse que está a procurar confirmar as afirmações do ISWAP. Esta é a sexta vez que Shekau é declarado morto, desde 2009. Nesse ano, depois de recuperar-se de um ataque no Níger, Shekau regressou à Nigéria e tomou controlo do Boko Haram.
Sob o seu comando, a organização tornou-se mais violenta, matando milhares de pessoas e causando o deslocamento de mais de 2 milhões de habitantes.
Embora Shekau não tenha sido visto desde a comunicação da sua morte, dois dias depois da batalha com o ISWAP, uma gravação de áudio, onde ele fala, em língua Hausa, começou a circular na região.
O Boko Haram e o ISWAP estiveram em divergência desde que o ISWAP se separou, em 2016, depois de os seus líderes terem feito oposição às tácticas brutais que Shekau empregava contras companheiros muçulmanos do nordeste. Desde essa altura, o ISWAP, que está sediado próximo do Lago Chade, cresceu. O Grupo Internacional da Crise estima que o ISWAP tenha 5.000 membros em comparação com os 2.000 do Boko Haram.
Desde 2019, o ISWAP expandiu o seu território mais para o interior, no norte da Nigéria e no país vizinho dos Camarões, e possui influência no Níger e no Chade. A Floresta de Sambisa continuou fora do seu controlo, tendo o Boko Haram se instalado naquele lugar até à batalha de Maio.
“Eles lutam pela supremacia e pelo reconhecimento — quem será reconhecido pelo público,” analista em matérias de segurança, Bish Johnson, disse à Plus TV Africa, da Nigéria. “É uma boa notícia que estejam a lutar entre si.”
Mas Johnson, como muitos outros analistas, alertou contra a ideia de se aceitar a notícia da morte de Shekau sem provas.
“Veja o corpo antes de declarar que Shekau está morto, depois utilize o seu DNA para confirmar,” Ona Ekhomu, especialista em matérias de segurança, disse à TVC News Nigeria.
Embora alguns analistas vejam a morte de Shekau, caso seja confirmada, como sendo provavelmente o golpe final desferido contra o Boko Haram, Johnson acredita que o Boko Haram irá voltar a juntar-se e nomear um novo líder que provavelmente seja tão brutal quanto Shekau, se não pior ainda.
O surgimento do ISWAP também não representa uma insurgência mais bondosa, mais mansa, disse Ekhomu.
O ISWAP começou com actividades que incluíam cobrança de impostos aos residentes de toda a Bacia do Lago Chade, afirmando que ofereceria protecção para os cidadãos em lugares onde a segurança formal estivesse ausente. Por algum tempo, estas acções trouxeram a ISWAP o apoio de alguns residentes no seu território, fazendo com que fosse difícil que as forças governamentais o derrotassem.
Recentemente, contudo, o ISWAP mudou em direcção a meios mais violentos de controlo, atacando postos avançados do governo e castigando pessoas que cooperam com o governo.
“Não é mais uma jihad benigna,” disse Ekhomu. “Estes homens são assassinos. O ISWAP actual está numa missão homicida.”