EQUIPA DA ADF
Felda Mupemhi segurou na sua bengala e deslocou-se lentamente para uma tenda branca que se encontra fora do Hospital Wilkins, em Harare, Zimbabwe, onde recebeu uma vacina contra a COVID-19.
Anteriormente com receio de receber a vacina, a senhora de 85 anos de idade foi uma entre os mais de 123.000 zimbabweanos que tinham recebido uma dose no início de Abril. O governo pretende inocular 60% da sua população — cerca de 10 milhões de pessoas — para alcançar a imunidade comunitária e tinha recebido aproximadamente 2 milhões de doses da vacina.
Mas existe um cepticismo entre muitos zimbabweanos mais jovens quanto à segurança e eficácia das vacinas. Quando Mupemhi recebeu a vacina, mais de 500.000 doses ainda não tinham sido utilizadas, noticiou a Deutsche Welle (DW).
Ela estava entre um número crescente de zimbabweanos idosos que queriam dissipar o medo.
“Temos uma possibilidade de derrotar a COVID-19 se recebermos esta vacina,” Mupemhi disse ao jornal The Guardian, do Reino Unido. “Então, eu vim para cá para fazer esta declaração para as [gerações] mais jovens que elas também podem receber a vacina, para que salvemos os outros.”
Peter Hadingham, de 82 anos, estava feliz de ter recebido a sua primeira dose depois de anteriormente ter sido recusado devido à sua idade, asma e problemas de coluna.
“Eu tomo uma vacina contra a gripe anualmente, não existe diferença,” disse Handingham ao The Guardian. As pessoas “devem pensar no resto da população. Devem ser vacinadas, porque não há nada a temer.”
O Dr. Prosper Chonzi, director dos Serviços de Saúde de Harare, foi encorajado a receber a vacina pelo número crescente de anciãos residentes que estavam a ser vacinados, incluindo aqueles que têm doenças crónicas.
“A nossa população mais idosa reconhece o facto de que ela é a mais vulnerável,” disse Chonzi ao The Guardian. “Quando apanham a infecção, as probabilidades de gravidade são elevadas, por isso, elas estão a correr para aproveitarem esta oportunidade. Se estiver a receber a oferta de ser vacinado e for gratuito, é sábio aceitar.”
Apesar do número crescente de residentes idosos a serem vacinados, muitos zimbabweanos continuam cépticos e pretendem depender de remédios à base de ervas que não possuem provas de eficácia para prevenir a propagação da COVID-19, noticiou a Quartz Africa, em Março.
Itai Rusike, director-executivo do Grupo de Trabalho de Saúde da Comunidade do Zimbabwe, uma rede de organizações comunitárias, disse que é comum que muitos zimbabweanos, especialmente aqueles que vivem nas zonas rurais, consultem os médicos tradicionais antes de procurarem pelos cuidados médicos modernos.
“Isso foi agravado pela pandemia da COVID-19, visto que a maior parte da população do Zimbabwe parece ter mais fé e confiança nos remédios caseiros para prevenir e tratar doenças relacionadas com a COVID-19 por causa da desinformação e cepticismo sobre a vacina,” Rusike disse à Quartz Africa.
Esse cepticismo foi provavelmente alimentado pelo próprio governo do Zimbabwe, que incentivou os tratamentos à base de ervas contra o vírus nos primeiros meses da pandemia — assim como o fizeram a Tanzânia e o Madagáscar. Os médicos criticaram a abordagem do Zimbabwe, que alguns especialistas em matérias de saúde acreditam que pode prejudicar os esforços de vacinação.
Mais recentemente, o governo do Zimbabwe falou sobre a importância das vacinas. Embora a sua campanha de vacinação seja voluntária, o Presidente Emerson Mnangagwa sugeriu que as pessoas eventualmente perderão os seus empregos e sofrerão outras consequências caso não recebam a vacina.
“Se não forem vacinados, não poderão utilizar os transportes públicos do governo, então, depende de vocês decidir o que vão fazer,” disse Mnangagwa numa reportagem da DW.