EQUIPA DA ADF
Os morcegos são a mais provável fonte da pandemia da COVID-19, de acordo com um relatório divulgado pelos investigadores da Organização Mundial de Saúde (OMS), cuja tarefa era de descobrir a causa da doença que matou aproximadamente 3 milhões de pessoas em 15 meses.
Numa conferência de imprensa, o investigador-chefe, Peter Ben Embarek, disse que a visita de quatro semanas a Wuhan não descobriu nenhuma indicação de que a SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19, estava a propagar-se em Wuhan ou nos seus arredores antes de Dezembro de 2019.
Desde que o surto foi detectado no Mercado Grossista de Mariscos de Huanan, em Wuhan, 127,3 milhões de pessoas contraíram a COVID-19 no mundo. Em África, a COVID-19 infectou cerca de 4,2 milhões de pessoas e matou mais de 112.000 até 29 de Março, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
O mercado de Huanan fica do outro lado do rio Yangtze, a cerca de 15 quilómetros do Instituto de Virologia de Wuhan, que algumas pessoas ainda consideram uma potencial fonte do surto global. Os investigadores da OMS afirmam que é “extremamente improvável” que o vírus tenha escapado daquele instituto. A equipa visitou o instituto e fez a revisão dos protocolos de pesquisa e de segurança daquele lugar.
“Ninguém foi capaz de encontrar qualquer evidência firme de que qualquer dos laboratórios estaria envolvido nisto,” disse Embarek durante a conferência de imprensa.
Contudo, respondendo ao relatório, o director-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a teoria do vazamento do laboratório merece uma investigação mais aprofundada.”Não acredito que esta avaliação tenha sido suficientemente abrangente,” disse.
Numa carta aberta publicada no The Wall Street Journal e no jornal francês, Le Monde, uma equipa internacional de cientistas chefiada por Jamie Metzl, um especialista em vírus, que trabalha num conselho consultivo de engenharia genética da OMS, manifestou dúvidas quanto à conclusão do relatório.
Eles dizem que a equipa de investigadores da OMS foi comprometida por conflitos de interesse e pelas restrições da China. Eles querem uma outra investigação que aborde a hipótese divulgada pelo laboratório e outras perguntas numa “investigação aprofundada, credível e transparente.”
“O meu resumo é de que a investigação de Wuhan é uma farsa — um exercício de relações públicas orquestrado pelo governo chinês,” um dos signatários da carta, Dr. Colin Butler, do Centro Nacional de Epidemiologia e Saúde Populacional da Austrália, disse à ADF.
A investigação da OMS, que começou em Janeiro, recebeu críticas em outros círculos por ter iniciado mais de um ano depois do surto inicial. Outras críticas focalizaram-se nas autoridades chinesas, que se recusaram a entregar os dados brutos da sua investigação do mercado e de doenças contagiosas que tiveram origem naquele lugar.
Durante a mesma conferência de imprensa, Embarek enfatizou que a investigação foi concebida para ser uma colaboração entre os cientistas chineses e a equipa internacional. Embora o grupo tenha sentido pressão política dentro e fora da China, os cientistas trabalharam juntos abertamente e ainda têm muito trabalho a fazer, disse.
Os investigadores rastrearam os animais vendidos no mercado de Huanan, durante a altura do surto, até às propriedades agrícolas do sul da China onde eles eram criados.
“Existem provas claras de que houve um caminho para o mercado para os animais que eram capazes de transportar os coronavírus,” Peter Daszak, membro da equipa, zoologista e especialista em transmissão de doenças de animais para humanos, disse durante a conferência de imprensa.
Os investigadores descobriram provas de SARS-CoV-2 na secção de animais vivos do mercado de Huanan, de acordo com o especialista em morcegos, Linfa Wang, da Singapura, um virologista que fazia parte da equipa de investigação.
Pouco depois do surto, o governo da China baniu a criação de animais selvagens destinados ao consumo, uma indicação de que as autoridades sentiram que o vírus provavelmente começou numa propriedade agrícola, disse Daszak.
O próximo passo, de acordo com Daszak, é entrevistar criadores de animais do sul da China, para ver se algum deles teria tido algum sintoma de COVID-19 antes de a pandemia eclodir em Wuhan.
Descobrir a origem da SARS-CoV-2 exige muito mais trabalho. “Vai levar algum tempo e depende de uma grande porção de sorte,” acrescentou Embarek.