EQUIPA DA ADF
Na Gâmbia, o pau-rosa é um grande negócio.
Comerciantes chineses compram-no — centenas de milhares de toneladas métricas nos últimos anos — embora a sua exploração seja ilegal. Os agentes do governo são subornados para fazerem vista grossa, madeireiros contaram aos jornalistas. Homens de negócios senegaleses e gambianos obtêm lucros a partir dessa actividade, assim como o fazem alguns grupos armados. O Movimento das Forças Democráticas de Casamança, uma organização separatista que tem estado a lutar pela independência da região de Casamança, no Senegal, desde 1982, é financiado, em parte, através do tráfico de madeira.
A Gâmbia, o menor país da África continental, ficou desprovido da maior parte do seu pau-rosa há 10 anos, mas ainda assim se encontra consistentemente entre os cinco principais exportadores de pau-rosa a nível mundial. O pau-rosa enviado a partir da Gâmbia está a ser roubado da região de Casamança, do vizinho Senegal. A Agência de Desenvolvimento da União Africana descreveu Casamança como “o pulmão verde e a última fortaleza florestal do Senegal.”
Desde 2017, a árvore do pau-rosa da África Oriental passou a ter protecção internacional. Foi alistada nos termos do Apêndice II da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens em Vias de Extinção, conhecida como CITES. O tratado protege o meio ambiente vivo. O governo gambiano, assim como o Senegal, assinou a convenção, que permite um comércio cuidadoso e regulado de pau-rosa, desde que seja legal e sustentável.
O governo do Senegal lutou contra a exploração ilegal, fazendo a revisão do seu código de florestas. A AFR100, a Iniciativa Africana de Restauração da Paisagem Florestal, comunica que o código revisto torna mais rígidas as sanções, fortalece o pessoal do sector florestal e utiliza o Exército Senegalês para fazer a patrulha procurando por madeireiros ilegais e contrabandistas.
Os resultados da aplicação das normas mostram como a exploração ilegal começa a nível da base: em apenas uma semana, os agentes na região de Kolda apreenderam 119 carroças, 43 cavalos, 98 burros, duas motosseras, dois serrotes, dois machados e duas motorizadas.
É uma questão de procura e oferta, e a procura, na sua maior parte, vem da China, onde a madeira densa e bonita é usada para fazer mobília. A China baniu a exploração de madeira nas suas próprias florestas naturais e, por algum tempo, obteve o seu pau-rosa a partir da Malásia e outros países do Sudeste Asiático. Depois de esgotar o pau-rosa nesses países, a China começou a explorar madeira da África por volta do ano 2010, de acordo com Naomi Basik Treanor, da instituição de caridade Forest Trends.
“O comércio de pau-rosa de ‘Senegambia’ está ao mesmo nível que os diamantes de guerra,” disse ela à BBC. “A natureza do conflito no Senegal e as fronteiras extremamente porosas fazem com que este comércio seja muito difícil de conter.”
A AGÊNCIA INVESTIGA
A BBC comunicou que a China importou mais de 300.000 toneladas métricas de pau-rosa da África Oriental a partir da Gâmbia desde 2017. Em Junho de 2020, uma organização sem fins lucrativos, a Agência de Investigação Ambiental (EIA) divulgou os resultados da sua investigação de três anos em matérias de tráfico de pau-rosa na rota Senegal-Gâmbia-China. O relatório revelou os seguintes resultados:
Cerca de 1,6 milhões de árvores foram exploradas ilegalmente no Senegal e contrabandeadas para a Gâmbia, entre Junho de 2012 e Abril de 2020.
O tráfico de pau-rosa entre Senegal e Gâmbia é, em grande medida, controlado pelo Movimento das Forças Democráticas de Casamança.
Os próprios traficantes dizem que agentes do governo gambianos, de alto nível, comprometeram a proibição de exportação instituída pela administração gambiana actual.
Os traficantes utilizaram uma empresa politicamente poderosa, a Jagne Narr Procurement & Agency Services, para contornar a proibição.
Os números de importação e exportação não condizem. A Gâmbia registou 471 milhões de dólares a menos nas exportações de pau-rosa do que os seus parceiros declararam como importação, entre 2010 e 2018, disse a EIA. Em outras palavras, a China está a comprar ainda mais madeira do que aquilo que a Gâmbia declara como venda.
COMO CONTER ISSO?
Na sua investigação do tráfico do pau-rosa, a BBC descobriu pelo menos 12 depósitos que continham pau-rosa e outros tipos de madeira, ao longo da fronteira de 170 quilómetros, entre o Senegal e a Gâmbia. Todos eles estavam em território gambiano. Apesar de ser ilegal explorar pau-rosa do Senegal, a BBC observou esta exploração em local aberto.
Oficialmente, o governo da Gâmbia baniu a importação de pau-rosa da África Oriental a partir do Senegal. Nos termos da Lei das Florestas da Gâmbia, de 2018, a importação a partir de um outro país somente é legal se passar por um porto de entrada oficial.
A EIA diz que o comércio ilegal pode ser contido “quase que instantaneamente” se a Gâmbia estabelecer uma quota zero para a exportação de madeira e avisar a todas as partes da convenção, incluindo a China, que teria uma obrigação de impedir que os carregamentos venham para os seus portos.
“Isso poderia ser uma reviravolta para a Gâmbia, assim como para o povo e as florestas do Senegal, e prepararia o caminho para uma abordagem da África Oriental para salvar uma das espécies selvagens mais traficadas do mundo e combater a desertificação e as alterações climáticas,” disse Kidan Araya, coordenador de programas da EIA para África.
A EIA diz que as organizações internacionais devem pressionar a Gâmbia para encerrar os seus centros de tráfico de madeira, e as outras partes envolvidas no tráfico devem tomar uma posição.
A empresa de transportes marítimos, Compagnie Maritime d’Affrètement-Compagnie Générale Maritime (CMA CGM) recebeu a mensagem. Esta empresa, a quarta maior transportadora do mundo, diz que fez a sua própria investigação depois de terem sido publicados os relatórios de exploração ilegal.
“Provavelmente houve algum pau-rosa escondido dentro dos seus carregamentos, partindo da Gâmbia com destino a China,” Guilhem Isaac Georges, da CMA CGM, disse à BBC. Ele disse que a empresa “decidiu interromper a exportação a partir daquele país até nova ordem.” A EIA acredita que a acção representa a primeira vez que uma empresa de transportes baniu o carregamento de uma classificação inteira de produto.
A empresa também diz que pensa em criar uma lista negra global de transportadores envolvidos no comércio ilegal de espécies protegidas e em vias de extinção.
Mas Haidar el Ali, ambientalista e antigo ministro senegalês do meio ambiente, disse que a Gâmbia continua a ser o actor fundamental no combate ao tráfico.
“É a Gâmbia que deve pôr um fim à exportação de pau-rosa,” disse à BBC. “Eles fazem bons discursos, boas promessas. Dizem, ‘Iremos parar,’ mas na realidade, isso é mentira.”
GRUPO FORMARÁ 8,000 AGRICULTORES AFRICANOS
EQUIPA DA ADF
Uma organização determinada para revitalizar terras de cultivo de forma sustentável irá formar mais de 8.000 agricultores da África Subsariana em matéria de administração de solos, incluindo alguns no Senegal, num programa de quatro anos.
O projecto Jardins Florestais é um trabalho da Trees for the Future, uma organização que presta assistência às comunidades do mundo inteiro na plantação de árvores através da distribuição de sementes.
A AFRIK21 comunicou que, através do programa, os agricultores podem plantar milhares de árvores para proteger o seu solo e restaurar os nutrientes. Como resultado, os agricultores terão como benefício o aumento do seu rendimento e segurança alimentar, apenas um ano depois do arranque do programa de formação.
Os países envolvidos são Camarões, Quénia, Senegal, Tanzânia e Uganda.
Os agricultores irão aprender a criar jardins florestais nas suas terras. O objectivo é melhorar a saúde do solo e a biodiversidade, plantar culturas diversas e ricas em nutrientes, aumentar os rendimentos e adaptar-se às alterações climáticas.
“Tal como muitos agricultores do mundo, estes têm estado a praticar a agricultura de uma única forma por gerações, intensificando a prática de monocultura,” Brandy Lellou, da Trees for the Future, disse à AFRIK21. “Através do projecto de Jardins Florestais, os agricultores estão a aprender como diversificar as culturas, restaurar os solos e maximizar todo o potencial da sua terra.
“O agricultores vêem a sua nutrição e rendimento começar a melhorar constantemente nos primeiros dois anos,” disse ela, acrescentando que “até ao final do quarto ano, um jardim florestal de 0,4 hectares tem, tipicamente, cerca de 2.500 árvores.”
A Trees for the Future diz que a formação está dividida em cinco fases:
Identificação: A organização identifica 200 famílias de agricultores necessitados, selecciona os técnicos de formação e prepara os materiais necessários.
Protecção: No primeiro e no segundo anos, os agricultores plantam 2.500 árvores de rápido crescimento e arbustos que criam uma barreira de protecção e estabilização do solo.
Diversificação: No Segundo e no terceiro anos, os agricultores aprendem a diversificar os seus campos com vegetais e árvores de frutas para satisfazer as necessidades nutricionais da família e para a venda.
Optimização: No terceiro e no quarto anos, os agricultores aprendem sobre gestão avançada de Jardins Florestais e sobre conservação para optimizar a saúde e a produtividade da terra a longo prazo.
Graduação: No quarto ano, a Trees for the Future implementa uma estratégia de sustentabilidade com cada agricultor. Uma cerimónia de graduação celebra a conclusão da formação dos agricultores.