EQUIPA DA ADF
Com o número de casos de COVID-19 em África a aumentar e os sistemas nacionais de saúde a sofrerem a pressão, mais de doze países subscreveram-se a um grande ensaio de medicamentos com vista a encontrar uma forma de tratar casos ligeiros e moderados de COVID-19, recorrendo a medicamentos não dispendiosos e fáceis de serem disponibilizados, antes que seja necessário levar os pacientes para o hospital.
“Existe uma necessidade de os grandes ensaios para a COVID-19, em África, responderem a perguntas de pesquisa específicas para o contexto africano,” Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse enquanto fazia o lançamento do ensaio, em Novembro, na República Democrática do Congo. A RDC foi o primeiro país a inscrever pacientes no estudo.
O ensaio clínico envolve 13 países, desde o Mali até Moçambique. Está a ser realizado pela ANTICOV, um consórcio de organizações de saúde pública, com o objectivo de encontrar medicamentos já existentes que podem parar com a COVID-19 ainda cedo, antes que o paciente seja mais um acréscimo a sobrecarga dos sistemas nacionais de saúde.
“Este é o primeiro grande ensaio de medicamentos no continente,” epidemiologista John Amuasi, que chefia o contingente da ANTICOV do Gana, disse à revista Science. “Eu preferia que isto tivesse vindo muito mais cedo, mas é muito bom o facto de estar a acontecer.”
Desde que a COVID-19 chegou no continente no início deste ano, o África CDC já declarou mais de 2,2 milhões de casos, 1,8 milhões de recuperados e 52.000 mortes.
Dos mais de 1.100 ensaios de medicamentos para a COVID-19 pelo mundo, apenas 50 decorrem em África.
O ANTICOV pretende recrutar até 3.000 pacientes para os seus testes. Nos termos das orientações, as pessoas que vierem para os hospitais participantes por qualquer motivo serão testados para a COVID-19. Se testarem positivo, serão convidados a participar do estudo.
Aqueles que se juntarem receberão um medicamento do estudo ou um analgésico durante três semanas. Eles irão informar sobre os seus sintomas diariamente através de telefone ou através de um aplicativo de smartphone. Caso o seu nível de oxigénio no sangue desça para abaixo de 94%, os pesquisadores considerarão isso como um resultado negativo para o medicamento que estiverem a tomar.
A iniciativa da organização sem fins lucrativos, Medicamentos para Doenças Negligenciadas, faz parte do consórcio que desenvolveu o ensaio. Um funcionário do DNDi disse, em comunicado, que o ensaio visa identificar o tratamento da COVID-19, recorrendo a medicamentos utilizados para o tratamento da malária, HIV, hepatite C, infecções parasitárias e certos cancros. A lista inclui o cocktail de anti-retrovirais lopinavir/ritonavir utilizados para tratar de HIV e a hidroxicloroquina utilizada para o tratamento da malária.
Como uma plataforma de ensaios ajustável, o protocolo permite que os pesquisadores experimentem muitos medicamentos diferentes em simultâneo. Isso permite que rapidamente possam colocar de lado aqueles que se provarem que ineficazes e acrescentar novos à lista dos testes.
A hidroxicloroquina está incluida no estudo. Determinou-se que é ineficaz nos ensaios clínicos de pacientes hospitalizados com sintomas graves nos EUA, mas a sua eficácia no tratamento de casos ligeiros ainda não foi estudada. Continua a ser o padrão de prestação de cuidados para os casos ligeiros em 16 países africanos.
O ensaio da ANTICOV inicia numa altura em que as empresas farmacêuticas a nível global começaram a anunciar as suas vacinas para COVID-19. Pelo menos duas destas vacinas — uma da Pfizer e outra da Moderna — devem ser transportadas e armazenadas em temperaturas entre 20 e 80 graus Celsius abaixo de zero, uma exigência desafiadora para a maior parte dos hospitais e sistemas de prestação de cuidados sanitários.
A terceira vacina anunciada, desta feita pela Universidade de Oxford e AstraZeneca, pode ser armazenada em temperatura de refrigeração normal. O Instituto de Pesquisas Médicas do Quénia, que faz parte da ANTICOV, também está a inscrever participantes no ensaio da vacina da AstraZeneca.
“É comovente ver tantos países africanos a colaborarem para obter as respostas de que tanto se precisa sobre as necessidades únicas dos nossos pacientes de COVID-19,” disse a Dra. Borna Nyaoke-Anoke, gestora sénior de projectos clínicos da DNDi. “Precisamos de pesquisas aqui em África que irão informar políticas e estratégias de testes e tratamento, para que, como clínicos, possamos dar as melhores opções às pessoas com COVID-19.”