EQUIPA DA ADF
O nome do grupo terrorista Boko Haram, numa tradução livre, significa “educação ocidental é proibida.” Uma série de ataques contra escolas no norte dos Camarões demonstra que o grupo está a prosseguir com este compromisso mortal.
Localizada entre Nigéria, a oeste, e Chade, na parte leste, a Região do Extremo Norte dos Camarões está na linha da frente da insurgência do Boko Haram. Já registou um aumento acentuado de violência, com as estatísticas a apresentarem cerca de 400 incidentes no ano passado — um aumento de 90% em relação ao ano transato, de acordo com uma análise feita pelo Centro de Estudos Estratégicos de África.
Ousmanu Amadou Garga, do Ministério de Educação Básica dos Camarões, disse que os recentes ataques do Boko Haram — especificamente os bombistas suicidas — obrigaram milhares de alunos e seus professores a fugirem.
“Sessenta e duas escolas foram encerradas. As crianças têm de receber educação em outras escolas muito distantes das suas próprias vilas ou abandonar os estudos,” disse numa declaração pública, observando que 34.054 alunos foram registados como pessoas deslocadas internamente (PDI). “Temos os alunos das comunidades acolhedoras; até temos alunos refugiados.”
De acordo com o exército camaronês, militantes islamitas incendiaram 13 escolas e capturaram pelo menos 200 pessoas para pedir resgate em Julho e Agosto.
Desde 2014, o Boko Haram vem atacando civis nas escolas, mercados, acampamentos de refugiados, mesquitas, igrejas e paragens de autocarros na região do extremo norte. Desde 2015, o grupo tem frequentemente recrutado obrigatoriamente crianças, usando-as como bombistas suicidas na Bacia do Lago Chade, incluindo nos Camarões, de acordo com o UNICEF.
Um activista local descreveu as tácticas do Boko Haram depois do ataque de Agosto, num acampamento de PDI, que matou pelo menos 19 pessoas, incluindo dois bombistas suicidas, que vários refugiados acharam que eram crianças:
“Eles utilizam bombistas suicidas, e muitas vezes são crianças ou mulheres, para que possam passar despercebidos,” disse o activista a Human Rights Watch. “Se as autoridades não enviarem mais forças de segurança para a nossa zona, eles estarão a falhar na sua principal tarefa de proteger o seu povo. Eles deviam impedir que o Boko Haram atacasse civis de novo e proteger as comunidades de deslocados de mais ataques.”
O grupo extremista começou uma insurgência armada contra Nigéria em 2009. Desde essa altura já matou dezenas de milhares, cometeu sequestros em massa e fez milhares de deslocados na região. Em 2015, um grupo dissidente do Boko Haram declarou fidelidade ao Estado Islâmico e passou a chamar-se Província do Estado Islâmico da África Ocidental.
Aproximadamente 322.000 pessoas abandonaram as suas casas e estão deslocadas internamente ao longo da Região do Extremo Norte. Os Camarões também acolheram cerca de 113.000 refugiados que fugiram dos ataques do Boko Haram na Nigéria.
Em 2018, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari aprovou uma verba de 2,6 milhões de dólares para equipamento de segurança a fim de combater os insurgentes. A eficácia do seu país obrigou o Boko Haram a afastar-se até ao ponto de entrar em Camarões, onde as mortes, os sequestros, roubos e destruições de bens ocorrem quase que diariamente.
As 62 escolas que encerraram na Região do Extremo Norte estão situadas na zona que faz fronteira com o Estado de Borno, na Nigéria, onde o Boko Haram está mais activo.
“O encerramento de escolas no Norte dos Camarões demonstra a forma como o país está transtornado pelo duplo desafio da pandemia e dos militantes islâmicos,” disse Yonas , representante do Portes Ouvertes, um grupo religioso activo na região.