EQUIPA DA ADF
Membros do grupo terrorista Ansar al-Sunna recentemente invadiram Mocímboa da Praia, um dos grandes portos da província moçambicana de Cabo Delgado, ora em guerra.
Antes conhecido por atacar pequenas aldeias com recurso a machados, o grupo terrorista repeliu com sucesso o ataque de mercenários, afundou uma embarcação militar moçambicana e apoderou-se de uma provisão de armamentos, em Agosto. O porto é usado para fazer entregas nos projectos de gás natural daquela região, avaliados em cerca de 60 bilhões de dólares.
A ocupação, por um curto período de tempo, de Mocímboa da Praia e numerosas ilhas ao largo da costa ajuda o grupo a controlar infra-estruturas marítimas para apoio operacional e acesso a rotas de comércio ilegal para financiamento, de acordo com um relatório de Outubro feito pela Stable Seas, uma organização que trabalha para eliminar o comércio marítimo ilegal.
Especialistas citam a recente actividade do grupo ao longo da costa como um comprovativo de que este grupo está a crescer em número e está a ganhar uma experiência valiosa.
“Não são mais bandidos. São guerrilheiros bem treinados,” Jasmine Opperman, analista sul-africana da organização Armed Conflict Location & Event Data Project, disse à NPR.
Ansar al-Sunna não é o único grupo que explora as fraquezas da segurança marítima da África Oriental para alcançar os seus objectivos. As organizações terroristas al-Shabaab e Estado Islâmico na Somália (IS-Somália), de forma rotineira, envolvem-se em tráfico de seres humanos e contrabando de armas, guerrilheiros e bens ilícitos, para financiar e aumentar as suas operações, de acordo com um relatório recente do Instituto de Estudos de Segurança (IES).
O Al-Shabaab ajuda a financiar a sua organização através da tributação e contrabando de 7 milhões de dólares em carvão anualmente na Somália, onde o grupo está activo desde 2006. As operações ilícitas tipicamente exportam carvão para países vizinhos em todo o Golfo de Áden e para o Irão, o maior importador de carvão da Somália.
Em 2012, o Conselho de Segurança das Nações Unidas baniu a exportação de carvão da Somália, onde 1,5 milhões de acácias são cortadas a cada ano. Especialistas alertaram que o país poderá ficar sem nenhuma árvore até 2060.
“É importante que possamos dar um fim ao comércio ilegal de carvão ,” Comodoro Steve Dainton, da Marinha Real da Inglaterra, disse, em 2019, durante uma conferência sobre segurança marítima. “Isso não apenas cortará a fonte de financiamento para os terroristas da Somália, mas também reduzirá a desflorestação naquele país.”
No final de Outubro, um grupo de pesquisa descobriu que o al-Shabaab arrecada 15 milhões de dólares por mês na Somália através de um sistema bem elaborado que cobra impostos e taxas sobre actividades tais como travessias de pontos de controlo, realização de negócios, irrigação de terras de cultivo, venda de propriedades de terra e importação e exportação de bens. De acordo com um estudo do Instituto Hiraal, os responsáveis pela cobrança de impostos do al-Shabaab arrecadam por mês aproximadamente a mesma quantia de dinheiro que o governo, no sul da Somália.
Formado por antigos membros do al-Shabaab, IS-Somália importa armas e guerrilheiros do Estado Islâmico, no Iémen, através do Golfo de Áden. O grupo usa redes de contrabando e acordos locais para receber os bens em portos e pontos de aterragem ao longo das zonas costeiras da Somália e da Tanzânia, de acordo com o relatório do IES.
Embora os grupos terroristas estejam a ganhar notoriedade pela exploração da linha costeira da África Oriental, Ian Ralby, antigo responsável pela lei e segurança marítima no Centro de Estudos Estratégicos de África, argumentou recentemente que os esforços de segurança marítima em África desenvolveram de forma rápida na década passada. Em entrevista ao centro, ele citou o Código de Conduta de Djibouti como um dos “principais pilares de segurança marítima” do continente.
O Código de Conduta de Djibouti visa combater a pirataria e os assaltos a mão armada contra navios no Golfo de Áden e na região Ocidental do Oceano Índico. Foi assinado por vários países do Médio Oriente e da costa oriental de África, desde Egipto à África do Sul.
Timothy Walker, líder do projecto marítimo no IES, argumentou, no relatório do instituto, que algumas operações de combate à pirataria ajudam a prevenir o terrorismo nas águas dos Estados participantes. Ele citou como exemplos a Operação Prosperidade, no Golfo da Guiné, onde as marinhas da Nigéria e do Benin colaboraram para fortalecer a segurança marítima, e a Operação Cobre, em que as forças navais sul-africanas foram destacadas para Moçambique.
O relatório do IES argumenta que os esforços de combate ao terrorismo contra grupos extremistas na África Oriental nunca examinaram de forma adequada como os oceanos ajudam os grupos terroristas a prosperarem. Defende que futuras medidas de prevenção devem abordar especificamente as actividades marítimas ilícitas.