A junta militar do Mali não conseguiu conter o ímpeto do grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), e analistas afirmam que o grupo provavelmente continuará a avançar para oeste e sul, colocando mais países em perigo.
No final de Outubro, o grupo terrorista afiliado à al-Qaeda registou o seu primeiro ataque na Nigéria, onde alegou ter matado um soldado nigeriano no Estado de Kwara. Nos dias 6 e 9 de Dezembro, o JNIM atacou duas colunas de combustível no eixo de Bougouni, um importante corredor de abastecimento que liga Bamako à Costa do Marfim.
De acordo com Bakary Sambe, presidente do grupo de reflexão Timbuktu Institute, o JNIM prospera devido aos fracassos do Mali no combate ao terrorismo, incluindo a contratação de mercenários russos para trabalhar ao lado das forças de segurança governamentais. Numa entrevista no site do instituto, perguntaram-lhe como o Senegal e outros países da África Ocidental podem evitar ficar expostos às operações em expansão do JNIM.
“Assim como precisamos de reforçar a segurança nas fronteiras e combater a marginalização territorial, também devemos evitar que os efeitos de uma governação não inclusiva criem barreiras sociais nos arredores das nossas áreas urbanas, exacerbando assim as vulnerabilidades socioeconómicas,” disse Sambe. “Este é o objectivo da abordagem de segurança humana, que torna as questões tão importantes em Sinthiou Djaliguel [uma vila piscatória senegalesa] como em Yeumbeul [uma cidade perto de Dakar, capital do Senegal].”
Sambe identificou lições que as autoridades da África Ocidental devem aprender sobre a história dos movimentos jihadistas no Sahel e as práticas de recrutamento, radicalização e tributação do JNIM nas áreas que controla. Primeiro, afirmou, externalizar a segurança a potências estrangeiras é ineficaz a longo prazo. O Mali recorreu a mercenários russos — antes Grupo Wagner, agora Africa Corps — depois de expulsar as tropas francesas. As forças malianas e russas são acusadas de cometer atrocidades contra civis, e as tensões estão a aumentar entre as forças.
A organização investigativa The Sentry escreveu em Agosto de 2025 que o pessoal do Exército maliano ressentia profundamente os russos, alegando que os mercenários desrespeitavam o seu comando e controlo. Os malianos também culparam os russos por falhas de segurança e erros operacionais que resultaram em perdas de pessoal e equipamento.
“Uma segunda lição é que o abandono e a marginalização das periferias pelo Estado central sempre criam um vácuo explorado por jihadistas ou outros actores criminosos para se estabelecerem por meio de ‘tácticas suaves’ — recrutamento local, apresentação como uma alternativa a um Estado que não consegue fornecer serviços básicos (segurança, justiça),” disse Sambe.
No final de Agosto de 2025, o JNIM capturou Farabougou, perto da Floresta de Wagadou, na região centro-sul de Ségou, no Mali, que faz fronteira com o Senegal. O grupo tinha assumido o controlo de uma base militar em Farabougou cerca de uma semana antes. Os residentes acabaram por regressar em condições difíceis, incluindo um código de vestuário rigoroso para as mulheres, pagamento de impostos e proibições de música secular e álcool.
Sambe apelou ao Senegal para implementar um “reforço preventivo” das suas zonas fronteiriças com o Mali. O presidente senegalês Bassirou Faye afirmou que isso pode ser alcançado com investimento no Programa de Emergência para a Modernização dos Eixos Fronteiriços e Territórios, comumente conhecido como programa Puma. Entre outras coisas, o programa estabeleceu infra-estruturas de segurança, electrificou 97 localidades fronteiriças e abriu 284 aldeias.
O Senegal “deve integrar ainda mais a inteligência social, iniciativas preventivas politicamente responsáveis e a cooperação com Bamako em corredores económicos e além, mitigando os riscos de ficar preso numa luta contra o terrorismo que, por vezes, esconde tensões intercomunitárias complexas,” afirmou Sambe.
Ele argumentou que as forças armadas da África Ocidental devem aceitar que uma guerra com o JNIM será não convencional e assimétrica. O combate ao grupo exigirá inteligência social “adaptada à natureza da ameaça” e uma “estratégia de prevenção proactiva que rompa com a ingenuidade de um Senegal ‘naturalmente’ resiliente, a fim de se projectar num futuro contínuo que não negligencie nenhum aspecto de um fenómeno jihadista multidimensional.”
