À medida que os grupos terroristas do Sahel continuam a olhar para o sul para expandir o seu território, recursos, base de recrutamento e tráfico ilícito, as autoridades estão a exortar os países costeiros da África Ocidental e os seus vizinhos sem litoral a trabalharem em conjunto.
Através de fronteiras porosas, grupos terroristas ligados à al-Qaeda e ao Estado Islâmico estão a ganhar terreno nas regiões setentrionais de muitos dos países costeiros da África Ocidental.
“Grupos estabelecidos expandem o seu alcance,” o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse num discurso proferido a 18 de Novembro perante o Conselho de Segurança. “Vários Estados costeiros estão sob ameaça. Enfrentamos o risco de um efeito dominó desastroso em toda a região.”
O Sahel tem sido o epicentro mundial do terrorismo nos últimos dois anos, de acordo com o Índice Global de Terrorismo. Mais de metade das mortes por terrorismo em todo o mundo ocorreram lá em 2024. Os líderes das juntas militares do Burquina Faso, do Mali e do Níger perderam o controlo de vastas extensões de território para grupos como o Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen (JNIM).
Os ataques a civis e postos militares no norte do Benin estão a aumentar. Em Abril, combatentes do JNIM mataram pelo menos 54 soldados beninenses ao longo da fronteira comum com o Burquina Faso e o Níger. O Togo tem assistido a um aumento dos ataques terroristas perpetrados por combatentes do JNIM baseados no Burquina Faso.
Os grupos terroristas têm sido atraídos para as áreas pouco povoadas e subdesenvolvidas a sul das fronteiras do Burquina Faso e do Mali. Nestas zonas fronteiriças, os jovens desempregados são alvos mais fáceis para o recrutamento, afirmou Oluwole Ojewale, investigador do Instituto de Estudos de Segurança.
“[Eles] continuam a servir como um centro estratégico para grupos terroristas,” disse à Deutsche Welle. “[Eles também] abrigam minerais e materiais estratégicos, como madeira, que se tornaram fontes de financiamento do terrorismo em todo esse corredor.”
O presidente da Serra Leoa, Julius Maada Bio, que também preside a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), convocou a reunião da ONU em Novembro, intitulada “Reforçar a cooperação regional em matéria de combate ao terrorismo na África Ocidental e no Sahel.”
Ele disse que o bloco regional continua a colaborar com o Burquina Faso, o Mali e o Níger sobre a necessidade de cooperação no combate ao terrorismo. Os três países liderados por juntas militares retiraram-se da CEDEAO no ano passado para formar um acordo de segurança colectiva chamado Aliança dos Estados do Sahel, mas a violência terrorista continua a aumentar.
“[É] a razão pela qual se tornou fácil para esses grupos terroristas se infiltrarem e espalharem a sua influência nos Estados costeiros,” disse Ojewale. “A inteligência transfronteiriça, particularmente entre os Estados centrais do Sahel, como Burquina Faso, Níger e Mali, com o resto da África Ocidental, tornou-se realmente mínima e grosseiramente insuficiente para conter a infiltração transfronteiriça de grupos terroristas.”
Alguns países costeiros tomaram a sua própria iniciativa para reforçar a segurança nas suas regiões setentrionais. O Benin destacou cerca de 3.000 soldados ao longo da sua fronteira com o Burquina Faso e celebrou um acordo bilateral de segurança com a Nigéria para reforçar a segurança nas fronteiras.
Guterres, no entanto, continua focado na reunificação da África Ocidental. Na luta contra grupos terroristas cada vez mais poderosos, disse, os países sem litoral do Sahel e os seus vizinhos costeiros estão do mesmo lado.
“Esta crise regional exige uma resposta regional, que seja unificada, coerente e baseada no consenso,” afirmou. “Com os países a abandonarem a CEDEAO, agora é o momento para o diálogo e a colaboração entre todos os países para reforçar a segurança e a arquitectura de cooperação política na região.”
James Barnett, investigador do Instituto Hudson, disse que os recursos e a logística não são suficientes para conter a propagação do terrorismo. Apesar das suas diferenças, os países precisam de coordenar esforços.
“Tem havido muita desconfiança na região, penso eu, desconfiança mesmo entre alguns desses Estados,” disse à DW. “Isso é algo em que os países ainda estão a trabalhar — criar confiança adequada e vontade política para trabalhar em conjunto.”
Barnett também pediu iniciativas de toda a sociedade, juntamente com respostas militares. Ele citou a Costa do Marfim como um bom exemplo, onde o governo lançou uma série de projectos sociais para reduzir o desemprego e a pobreza, ao mesmo tempo que promove a confiança entre as forças armadas e as comunidades.
“O Estado existe para mais do que apenas policiar esporadicamente a região,” disse Barrett. “Em vez disso, é uma forma de tentar ganhar um certo grau de adesão, resolvendo as preocupações socioeconómicas e sendo um parceiro não apenas nas frentes de segurança, mas também na resposta às necessidades da comunidade.”
Guterres também defendeu uma estratégia de desenvolvimento na África Ocidental para eliminar as condições subjacentes que permitem que o extremismo se enraíze.
“Os terroristas prosperam onde o contrato social é quebrado,” considerou. “Quando as famílias estão presas na pobreza e os jovens não têm acesso à educação ou ao trabalho, o extremismo ganha terreno.
“Quando a governação falha, quando o desenvolvimento estagna, quando os serviços públicos entram em colapso, quando os direitos humanos são violados, quando as comunidades são marginalizadas, quando os cidadãos já não têm fé nas suas instituições — os terroristas encontram formas de explorar as queixas das pessoas.”
