As promessas da Rússia de investimento económico no continente africano estão muito aquém das expectativas, de acordo com a última análise de dados.
Vladimir Putin ganhou as manchetes na primeira cimeira Rússia-África em 2019, assinando 92 acordos económicos e declarando que o comércio com África duplicaria em cinco anos. Mas a Rússia ficou muito aquém da sua meta.
Em 2024, o comércio entre os países africanos e a Rússia totalizou 24,5 bilhões de dólares, o que empalideceu em comparação com os 355 bilhões de dólares do comércio de África com o seu principal parceiro, a União Europeia. Do comércio total da Rússia com África, as exportações russas representaram uns desequilibrados 21,2 bilhões de dólares. A maior parte foi para três países: Argélia, Egipto e África do Sul.
Com uma economia baseada principalmente no petróleo, mineração e comércio de armas, a Rússia achou mais fácil projectar poder com propaganda do que com investimentos ou comércio bilateral.
Louise Margolin, editora-chefe adjunta do serviço de notícias Africa Business+ da Jeune Afrique, disse que os fracassos da Rússia na sua guerra de anos contra a Ucrânia tiveram um impacto profundo numa economia já em dificuldades. As sanções internacionais frustraram os planos de Moscovo de expandir as suas indústrias extractivas em África, tornando necessária uma campanha de propaganda dirigida ao continente para criar a ilusão de poder económico e sucesso.
“A Rússia e as suas empresas nem sempre conseguem financiar os projectos que anunciam,” escreveu num artigo publicado a 16 de Outubro no The Africa Report. “Grande parte da sua presença económica é para o inglês ver. Ela negocia e assina acordos para projectar a imagem de uma grande potência económica capaz de exportar a sua competência. O objectivo, acima de tudo, é a estatura geopolítica.”
Quando a Rússia procurou minar as sanções, voltou-se para África para encontrar novos consumidores para produtos alimentares, energia e armas. Ebenezer Obadare, investigador sénior do Conselho de Relações Exteriores, disse que a Rússia precisa de África, mas vê-a mais como um mercado do que como um parceiro.
“A Rússia é um gigante político sem capacidade económica,” disse ao The Africa Report. “Ela promete muito, mas o que pode realmente oferecer?”
Os investigadores William Decourt e Spenser Warren afirmaram que o Kremlin expandiu o seu envolvimento nos últimos anos, aumentando as visitas diplomáticas, realizando campanhas de desinformação em 16 países africanos e assinando acordos de cooperação militar em 19 países desde 2014.
O foco da Rússia na segurança em detrimento do desenvolvimento e a dependência de campanhas de desinformação para angariar apoio popular “atende aos líderes antiliberais interessados em fortalecer a sua segurança política,” escreveram num blogue de Junho para o Instituto de Conflito e Cooperação Global. “O agravamento da crise da dívida e das dificuldades económicas em África também proporcionam à Rússia oportunidades para aumentar o seu envolvimento financeiro e ganhar o apoio dos governos e do público africanos.”
Beverly Ochieng, analista da empresa de consultoria Control Risks, afirma que a Rússia está a projectar poder económico com base em esperanças e promessas que ainda não produziram qualquer prosperidade significativa.
“Muito disso ainda depende do soft power e muito depende da ostentação geopolítica, em vez de mudanças efectivas na economia ou de um contributo significativo para a economia,” afirmou numa entrevista concedida em Junho à Deutsche Welle.
A Rússia assinou memorandos de entendimento (MOU), ou acordos não vinculativos que normalmente precedem contratos, disse, “mas não vimos esses MOUs serem implementados, seja na área da energia no Sahel, seja na mineração na RCA [República Centro-Africana].”
Apesar de oferecerem poucos benefícios económicos, os representantes russos, como a Bielorrússia, também fazem parte da campanha de propaganda do Kremlin, de acordo com a jornalista bielorrussa exilada Hanna Liubakova, investigadora sénior não residente no grupo de reflexão Atlantic Council.
Em 2023, o presidente Alexander Lukashenko procurou estabelecer laços ao visitar a Guiné Equatorial e o Quénia. No Zimbabwe, ofereceu tractores e equipamentos, enquanto as elites bielorrussas estabeleceram uma presença nos sectores de ouro e lítio do país.
“Estas viagens produziram pouco além de memorandos vagos e sessões fotográficas,” escreveu num relatório de 13 de Novembro. “Estes não são sinais de diversificação, mas transacções enraizadas no clientelismo autoritário.”
Em última análise, alertam os analistas, o risco de qualquer acordo económico com a Rússia ou os seus representantes reside na rapidez e facilidade com que pode tornar-se unilateral, transformando os países africanos em destinatários passivos de bens e serviços russos, em vez de co-criadores de valor.
“Há uma linha ténue entre parceria estratégica e dependência fornecedor-cliente,” o analista político Donald Porusingazi, sediado no Zimbabwe, disse à Agência de Imprensa Africana para um artigo de Julho. “O segredo estará em saber se estes acordos incluem transferência de tecnologia, produção local e capacitação a longo prazo.”
Ochieng acredita que é por isso que o Kremlin lançou uma das suas campanhas de propaganda em África — para perpetuar o mito de que é uma potência económica.
“A desinformação que está a ser propagada pelos trolls russos acaba por tornar-se a narrativa dominante, sobretudo entre os jovens urbanos,” afirmou. “No final, a desinformação parece estar a preencher a lacuna onde obteríamos notícias credíveis de fontes tradicionais.”
