O grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin intensificou os ataques a centros urbanos, cidades e postos militares do Mali, nos seus esforços para desestabilizar ainda mais o país e impor uma forma rigorosa da lei islâmica. Muitas vezes, os civis são vítimas da campanha terrorista do grupo, que ameaça toda a região do Sahel.
No final de Agosto, o grupo terrorista, também conhecido como JNIM, assumiu o controlo de uma base militar na cidade de Farabougou, perto da Floresta de Wagadou, na região centro-sul de Ségou. A floresta na fronteira com a Mauritânia é uma base conhecida do JNIM. Cerca de uma semana depois, o JNIM capturou Farabougou. Afiliado à al-Qaeda, o JNIM comemorou a captura de Farabougou com mensagens publicadas na sua plataforma de propaganda al-Zallaqa.
“O chefe da aldeia assinou com os jihadistas para dizer que respeitaremos as suas leis, então eles disseram que podemos voltar,” um morador de Farabougou disse à Agence France-Presse (AFP). Os residentes regressaram sob condições rigorosas, incluindo um código de vestuário rigoroso para as mulheres, pagamento de impostos e proibições de música secular e álcool. Um funcionário local lamentou a sua situação.
“Alguns não têm para onde ir,” o funcionário disse à AFP.
No dia 3 de Setembro, o JNIM anunciou que tinha estabelecido um bloqueio nas regiões de Kayes e Nioro, no oeste do Mali, áreas que fazem fronteira com o Senegal e a Mauritânia. Os terroristas interromperam a importação de combustível do Senegal, matando motoristas, queimando camiões-cisterna e ameaçando empresas de transporte rodoviário. A região fronteiriça com o Senegal é uma importante porta de entrada para o comércio e as importações de Dakar, que tem sido relativamente estável há anos.
“Normalmente importamos combustível do Senegal, mas preferimos interromper as nossas operações por enquanto,” um gerente de uma empresa de transportes do Mali disse ao The Africa Report. “Os jihadistas já incendiaram autocarros e não queremos sofrer perdas.”
Dias depois, o JNIM atacou camiões vindos da Costa do Marfim na região de Sikasso, no sul do Mali. Um responsável de um sindicato de camionistas do Mali disse que algumas empresas de transporte suspenderam as suas operações na rota entre Bamako e Dakar, capital do Senegal. O responsável, que falou anonimamente, disse ao marinelink.com que os terroristas tinham bloqueado a estrada que liga Bamako à cidade de Segou, no sul.
No dia 5 de Setembro, os terroristas raptaram seis camionistas do Senegal no Mali, mas libertaram-nos no dia seguinte. Djenabou Cisse, investigador da Fundação para a Investigação Estratégica, afirmou que o JNIM está a aumentar a pressão sobre estas áreas para enfraquecer a junta militar liderada pelo General Assimi Goïta e ameaçar Bamako, a capital nacional.
O analista de segurança Zagazola Makama disse que o exército maliano está a sofrer com divisões internas que estão a prejudicar a sua eficácia após a prisão de altos comandantes suspeitos de deslealdade.
“Este clima de suspeita minou o moral dentro das fileiras e deixou as unidades vulneráveis a ataques externos,” escreveu Makama. “Fontes descrevem a abordagem como ‘ dano auto-infligido,’ visto que o exército, já sobrecarregado em várias frentes, agora enfrenta tanto perdas no campo de batalha quanto desconfiança interna.”
Um analista de segurança maliano em Bamako disse que a capacidade do JNIM de implementar rapidamente o bloqueio demonstra a sua crescente capacidade. O analista disse à Reuters que o objectivo do grupo é “empurrar a população civil para as ruas para mostrar a sua insatisfação com a autoridade de transição e enfraquecer ou desacreditar a autoridade de transição.”
Em resposta aos bloqueios, o Exército do Mali conduziu operações antiterroristas, incluindo ataques aéreos, em Kayes. Um coronel maliano estacionado em Nioro disse que as tropas também libertaram reféns mantidos por militantes, informou a página da internet marinelink.com.
O anúncio do bloqueio foi precedido por ataques coordenados e simultâneos do JNIM ao amanhecer em centros urbanos e cidades malianas, incluindo ataques a postos militares malianos, no dia 1 de Julho. O JNIM afirmou ter assumido o controlo de três quartéis durante os ataques. O exército do Mali afirmou ter matado 80 terroristas, enquanto o JNIM afirmou ter matado dezenas de soldados e destruído mais de 100 veículos militares e motociclos. Um posto militar ficava em Diboli, uma cidade perto da fronteira com o Senegal, que em grande parte foi poupada de ataques terroristas.
Goïta prometeu derrotar os grupos terroristas quando tomou o poder em 2021. De acordo com o Índice Global de Terrorismo de 2025, o Mali ficou em quarto lugar entre os países mais afectados pelo terrorismo no ano passado, quando registou 604 mortes em 201 ataques terroristas. O JNIM foi o principal responsável por esses ataques.
Mercenários russos, inicialmente conhecidos como Grupo Wagner e agora chamados de Africa Corps, apoiam as forças armadas do Mali. O Grupo Wagner actuou no Mali entre Janeiro de 2022 e Junho de 2025. Embora os grupos sejam tecnicamente diferentes, as suas tácticas são semelhantes — e a permanência do Grupo Wagner no Mali foi marcada por falhas de segurança. Conforme observado num relatório recente da organização de investigação The Sentry, o Grupo Wagner foi incapaz de garantir a segurança do norte e do centro do Mali, apesar das elevadas expectativas da junta. A chegada do Grupo Wagner coincidiu com o aumento dos ataques a civis, o que criou oportunidades para os grupos terroristas aumentarem o recrutamento. Os combatentes do Grupo Wagner também “semearam o medo e o caos dentro da hierarquia militar,” lê-se no relatório.
“O Grupo Wagner tratou os soldados malianos como subordinados, cometeu graves abusos e incutiu tanto medo que até as tropas malianas tinham receio de se manifestar,” Justyna Gudzowska, directora-executiva da Sentry, disse à Radio France International.
O prometido regresso à democracia por parte de Goïta não aconteceu. No início de Julho, o Parlamento de transição do Mali concedeu-lhe um mandato presidencial de cinco anos, renovável sem eleições.