EQUIPA DA ADF
Um novo relatório confirma que as Forças Armadas do Sudão (SAF) têm recebido repetidas entregas de armas do Irão desde Dezembro de 2023, altura em que os dois países restabeleceram as relações diplomáticas após um hiato de oito anos.
Os investigadores do Observatório de Conflitos utilizaram documentação de fonte aberta para localizar pelo menos sete voos de carga militar de aeroportos no Irão para Port Sudan, o quartel-general em tempo de guerra das SAF e do governo liderado pela junta sudanesa, supervisionado pelo General Abdel Fattah al-Burhan. Dois outros voos são considerados como “muito prováveis” entregas, porque os aviões desligaram os seus transponders pouco antes de aterrarem no Sudão.
O Observatório de Conflitos seguiu os voos do 747-200 iraniano, operado pela Qeshm Fars Air, entre Dezembro de 2023 e 25 de Julho de 2024. O avião é um dos poucos do seu género em funcionamento, o que facilita a sua identificação em imagens de satélite, segundo os investigadores. Foi anteriormente utilizado para entregar armas a combatentes apoiados pelo Irão na Síria.
O relatório do Observatório de Conflitos confirmou as informações divulgadas pelo Sudan War Monitor em Janeiro sobre a aterragem de voos iranianos em Port Sudan.
“O novo relatório é muito mais abrangente e detalha voos adicionais que não foram relatados anteriormente noutros locais,” afirmaram os investigadores do Sudan War Monitor.
Os primeiros voos ocorreram pouco antes de os veículos aéreos não tripulados iranianos Mohajer-6 serem utilizados contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares no campo de batalha do Sudão. Os combatentes das RSF revelaram a existência dos drones em publicações nas redes sociais depois de terem abatido um deles em Janeiro.
“A equipa de investigação não conseguiu estabelecer explicações alternativas para o aparecimento de novas armas iranianas no campo de batalha,” informou o Observatório de Conflitos.
Os observadores internacionais acusam o Irão e os Emirados Árabes Unidos de exacerbarem o conflito no Sudão, fornecendo um fluxo constante de armas a cada uma das partes. De acordo com o Observatório de Conflitos, os Emirados Árabes Unidos abasteceram as RSF através do Aeroporto Internacional Marechal Idriss Deby, em Amdjarass, no Chade. O aeroporto foi significativamente melhorado depois de os EAU terem concedido ao Chade um empréstimo de 1,5 bilhões de dólares.
Segundo os observadores, as relações renovadas do Irão com o Sudão resultam do desejo do Irão de ter uma base de apoio no Mar Vermelho, a partir da qual poderia atacar a navegação internacional e ameaçar o seu rival regional, a Arábia Saudita.
“O Irão tem explorado a necessidade de plataformas de drones por parte do regime sudanês e as notícias sobre alegadas ofertas de drones adicionais e de um porta-helicópteros em troca de uma base em Port Sudan obscurecem a história do Irão com o Sudão,” recentemente o analista John Ringquist escreveu no Balloons to Drones, um site especializado na história do poder aéreo.
Até agora, os dirigentes sudaneses recusam-se a conceder ao Irão acesso ao porto para uma instalação militar ou de dupla utilização.
As SAF têm utilizado os seus drones para recolha de informações e para ataques do tipo kamikaze contra posições das RSF em todo o país. Os drones iranianos, incluindo o Ababil-3, que voa a baixa altitude, ajudaram as SAF a recuperar território das RSF nos últimos meses. Os chefes militares sudaneses disseram à Radio Dabanga, em Março, que os drones desempenharam um papel decisivo na recuperação do bairro de Omdurman, onde se encontra a emissora nacional do Sudão.
Os observadores afirmam que o sucesso das SAF com os drones iranianos pode aproximar os dois países e alimentar outros conflitos na região.
“Esta situação transformará o Mar Vermelho numa arena de confrontos internacionais, complicando ainda mais a posição de segurança na região e expondo a navegação internacional a grandes ameaças,” o analista Abdal Monim Himmat escreveu recentemente no The Arab Weekly.