Desinformação Russa Visa a Costa do Marfim
EQUIPA DA ADF
O vídeo do TikTok espalhou-se como um incêndio fora de controlo em Outubro. A música dramática era ouvida em segundo plano, enquanto o vídeo saltava freneticamente de imagens das forças de segurança em acção para veículos da polícia mobilizados com luzes intermitentes e outras cenas de caos.
A voz ao fundo, gerada pela inteligência artificial, narrava com urgência: “Golpe de Estado na Costa do Marfim! Alassane Ouattara foi derrubado do poder.”
Em meados de Novembro, o vídeo tinha sido visto mais de 5,9 milhões de vezes e partilhado mais de 35.000 vezes no TikTok. Milhares de utilizadores fizeram comentários.
“Obviamente, isto é falso, visto que não houve nenhum golpe de Estado na Costa do Marfim,” o jornalista da Radio France International, Gregory Genevrier, disse na edição de 25 de Outubro do seu podcast semanal sobre desinformação. “Os comentários mostram que alguns utilizadores da internet estão a cair nesta armadilha.”
Tendo estabelecido uma base de apoio através de três juntas militares no Sahel, a Rússia desencadeou a sua máquina de desinformação na África Ocidental. A sua vasta rede de actores malignos tem como alvo os países costeiros do Golfo da Guiné, e a Costa do Marfim sofreu recentemente uma inundação de notícias falsas.
“À medida que o panorama digital continua a evoluir, o mesmo acontece com a sofisticação e o alcance das campanhas de desinformação na África Ocidental,” a analista de dados Vanessa Manessong escreveu num artigo publicado em Setembro pelo Observatório Africano da Democracia Digital, uma coligação de organizações de investigação e pesquisa no continente.
Manessong, que trabalha com a Rede Africana de Centros de Reportagem Investigativa, explicou como a estratégia de guerra de informação da Rússia procura minar a confiança nas instituições, nos aliados e no discurso civil.
“A intrincada teia de narrativas que vão desde os sentimentos pró-russos aos antifranceses ilustra a complexa dinâmica geopolítica em jogo,” escreveu. “Com tácticas como copiar e colar, personificação de meios de comunicação social e contas de fantoches, os agentes malignos estão a explorar habilmente as vulnerabilidades do ecossistema de informação da região.”
O vídeo do TikTok que circulou em Outubro foi acompanhado por uma captura de ecrã nas redes sociais em que o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, alegadamente disse: “Não devo nada a ninguém, excepto à França,” numa entrevista à revista Jeune Afrique em Maio de 2011.
No entanto, a declaração foi desmascarada como desinformação, uma vez que a citação original menciona a Costa do Marfim e não a França: “Não devo nada a ninguém, excepto aos costa-marfinenses,” disse Ouattara.
“É uma receita aparentemente simples, mas, infelizmente, bastante eficaz,” afirma Genevrier. “Um falso golpe de Estado acompanhado de uma falsa declaração de Alassane Ouattara.”
Genevrier disse que a RFI não conseguiu localizar a origem desta última campanha de desinformação, mas a investigação apontou para os países liderados pela junta no Sahel.
“Existe todo um ecossistema de contas baseado principalmente no Burquina Faso e no Mali,” disse. “Estes perfis difundem tanto a propaganda dos presidentes de transição no Sahel como informações falsas destinadas a desestabilizar os regimes vizinhos, nomeadamente o Benin e a Costa do Marfim.”
Em resposta, o Ministro das Comunicações da Costa do Marfim, Amadou Coulibaly, lançou uma campanha nacional de sensibilização em parceria com os Estados Unidos e uma organização local chamada Plataforma de Combate ao Crime Cibernético.
“O êxito desta campanha depende da participação activa de todos os cidadãos e parceiros,” afirmou no lançamento da campanha em Abidjan, no dia 24 de Junho. “Juntos, podemos criar um ambiente digital mais seguro, virtuoso e fiável.”
Depois de um programa-piloto bem-sucedido em 2023, que utilizou o slogan “Stop the Digital Sorcerer,” o Ministério das Comunicações da Costa do Marfim organizou, em 2024, dezenas de reuniões e acções de formação com jornalistas, polícias, crianças em idade escolar e estudantes universitários para melhorar a literacia mediática e a sensibilização para a desinformação e a propaganda.
“A luta contra a desinformação e a promoção de um espaço digital seguro são prioridades para o nosso governo,” o Primeiro-Ministro Robert Beugré Mambé disse no evento de lançamento, no dia 24 de Junho. “A Campanha Nacional por um Ambiente Digital Seguro e Respeitador é uma resposta concreta a estes desafios.”