‘Marlianos’ e Alguns Marcados pelo Boko Haram são Responsáveis pelo Problema da Droga na Nigéria
EQUIPA DA ADF
Ismai’l recorda o dia em que o Boko Haram mudou a sua vida.
Sentado à sombra à porta do abrigo improvisado da sua família deslocada em Maiduguri, a capital do Estado de Borno, disse que recorreu às drogas para esquecer.
“Comecei a consumir drogas depois de o Boko Haram ter assassinado os meus dois irmãos na minha presença,” Ismai’l, um pseudónimo, disse à revista African Arguments. “Quando tomo drogas, já nada me interessa. Quando surge a ansiedade, as drogas aliviam-na.”
A situação de Ismai’l não é única em Maiduguri, o coração da insurgência de 15 anos do Boko Haram no nordeste da Nigéria. Ele e outros consumidores de droga são conhecidos como “marlianos,” em homenagem ao cantor britânico-nigeriano, Azeez Adeshina Fashola, popularmente conhecido como Naira Marley, cuja música tem sido criticada por ter uma influência negativa nos jovens nigerianos ao promover o consumo de droga e outros crimes.
Na revista African Arguments, Imrana Alhaji Buba, investigadora de ciências políticas na Universidade de Oslo, afirma que os marlianos são conhecidos por roubarem telemóveis, cometerem violações e envolverem-se em assaltos à mão armada ou “banditismo político.”
Em 2016, Aliyu Yusuf escapou a um ataque do Boko Haram em Gwoza, perto da fronteira com os Camarões. Certa manhã, não havia comida para comer no seu acampamento apertado para pessoas deslocadas internamente (PDI) em Madinatu, perto de Maiduguri, e um homem deu-lhe tramadol para reduzir a fome.
Sentiu alívio após alguns comprimidos e rapidamente ficou viciado.
“Sinto-me muito vazio sem o tramadol,” Yusuf disse à Al Jazeera alguns anos depois. “É a única coisa que me torna forte e que me tira toda a dor.”
A maioria dos consumidores de tramadol em Madinatu disse que este lhe foi apresentado no campo de PDI. Muitos disseram que o utilizaram devido ao stress pós-traumático dos ataques do Boko Haram e aos desafios de viver num campo de PDI.
Em 2016, o problema da droga no nordeste da Nigéria estava essencialmente confinado aos campos de PDI. No entanto, o encerramento abrupto dos campos de PDI de Borno no final de 2022 empurrou cerca de 200.000 pessoas para um sofrimento ainda maior, de acordo com a Human Rights Watch. O problema afecta agora quase todas as comunidades das zonas central e norte de Maiduguri e da área do Governo Local de Jere, escreveu Buba.
Citando estatísticas da Agência Nacional de Controlo da Droga (NDLEA), o Conflict Resolution Quarterly informou no final de 2023 que a taxa de prevalência de drogas na Nigéria era de 15%, quase o triplo da taxa de prevalência global de 5,5%. As taxas de prevalência de drogas são a proporção de uma população que consumiu uma droga durante um determinado período de tempo. A taxa de prevalência da toxicodependência entre os jovens era de 20% a 40%.
As anfetaminas, o álcool, a cocaína, o diazepam, a heroína e o tabaco contam-se entre as drogas mais consumidas pelos jovens nigerianos. A popularidade da cannabis, agora embalada sob a forma de bolachas, bolos, doces e outros produtos comestíveis, está a aumentar.
O jornal Punch, da Nigéria, noticiou que mais de 70% dos casos relacionados com a saúde mental no Hospital Neuropsiquiátrico Federal estão relacionados com drogas.
Em Julho de 2023, o Governador do Estado de Borno, Babagana Zulum, ordenou às forças de segurança que reprimissem um grupo marliano acusado de cometer crimes em Maiduguri e na área do Governo Local de Jere.
“Este sindicato especializou-se não só no roubo de telemóveis em plena luz do dia, no roubo e na posse de armas fabricadas localmente, mas agora passou a matar vidas inocentes, incluindo agentes de segurança,” Bulum disse numa reportagem do jornal nigeriano, Daily Trust.
Os investigadores do Conflict Resolution Quarterly também notaram que a insegurança desenfreada leva à toxicodependência e escreveram que esse abuso entre os jovens nigerianos “pode ter sido alimentado e intensificado pela música hip-hop popular e pelos seus vídeos.”
O problema era tão grave no ano passado que Marley fez uma parceria com a NDLEA na sua campanha contra a toxicodependência.
“Gostaria de exortar os meus fãs, os marlianos, todos os jovens nigerianos, a deixarem de consumir drogas porque não é bom para o vosso bem-estar,” Marley disse num vídeo da NDLEA. “Vamos todos acabar com o abuso de substâncias em todas as suas formas. Aderi a esta campanha para apoiar a NDLEA a acabar com a droga nas ruas. Por favor, junte-se a nós. Não é mesmo nada bom; faz-nos voltar ao crime.”
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