EQUIPA DA ADF
O apoio dos Emirados Árabes Unidos às Forças de Apoio Rápido (RSF) na guerra civil do Sudão está a ser criticado por observadores que dizem que está a alimentar as chamas da violência.
O apoio dos EAU ao líder das RSF, General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, desempenhou um papel fundamental nos seus êxitos no campo de batalha, segundo Giorgio Cafiero, PCA da empresa de consultoria de risco, Gulf State Analytics.
Em meados de Dezembro de 2023, os combatentes das RSF tomaram Wad Madani, a capital do Estado de Gezira, no coração agrícola do Sudão, com pouca resistência das Forças Armadas do Sudão (SAF). A cidade a sudeste de Cartum tem sido um refúgio para pessoas e empresas, como o sector bancário, que fogem da violência na região da capital.
O comandante das SAF, General Abdel Fattah al-Burhan, assumiu uma posição dura contra os EAU, tendo expulsado 15 diplomatas dos EAU em Dezembro, devido ao apoio contínuo deste país às RSF.
“Até há pouco tempo, o campo de al-Burhan usava de prudência e diplomacia, evitando confrontos verbais directos com actores-chave como Líbia [Marechal Khalifa Haftar], Rússia e Abu Dhabi,” Jalel Harchaoui, pesquisador do Royal United Services Institute (RUSI), disse à Agence France-Presse.
Haftar, os mercenários russos do Grupo Wagner e os EAU têm ligações com as RSF e com Hemedti pessoalmente. Haftar e o Grupo Wagner forneceram armas às RSF no início do conflito, utilizando aviões do Grupo Wagner baseados no sul da Líbia. O Grupo Wagner, que recentemente passou a chamar-se Africa Corps, e os EAU têm também uma longa relação com Hemedti, através da extracção e contrabando de ouro das minas de Jebel Amer, no Darfur, que Hemedti controla. A maior parte desse ouro acaba nos EAU, onde entra no mercado internacional.
Hemedti mantém as suas próprias finanças e as das RSF nos EAU, onde também se encontra a rede de propaganda das RSF nas redes sociais. Em 2019, quatro anos antes do início do conflito com as SAF, Hemedti comprou 1.000 veículos aos EAU que podiam ser transformados em “técnicos” portadores de metralhadoras. A empresa da família Dagalo que comprou esses veículos, a Tradive General Trading, também está sediada nos EAU.
Agora, dizem os líderes sudaneses, os EAU estão a enviar às RSF mais do que apenas transporte terrestre.
“Temos informações dos serviços secretos, dos serviços secretos militares e do circuito diplomático de que os EAU enviam aviões para apoiar as Janjaweed [RSF],” al-Atta disse num discurso aos membros do Serviço Geral de Informações, em Omdurman, em Novembro de 2023.
Segundo o investigador Mohamed Suliman, as recentes acusações do Sudão estão de acordo com os laços dos EAU com as RSF.
“O apoio dos EAU às milícias [RSF] assume várias formas, desde o financiamento directo à logística e ao equipamento militar,” Suliman, que estuda as tácticas das RSF, escreveu recentemente para o site Politics Today. “Este apoio militar forneceu às milícias as ferramentas necessárias para cometerem inúmeros crimes.”
Para Nasim Ahmed, analista do Middle East Monitor, as acções dos EAU ajudam a promover os seus próprios interesses no Sudão, garantindo o acesso ao ouro e a outros recursos naturais. Apoiar as RSF também dá aos EAU uma vantagem para contrariar países como Egipto e Arábia Saudita, que apoiam as SAF, acrescentou Ahmed.
“Em vez de promover a estabilidade e a segurança, as acções dos EAU estão a contribuir para o colapso das instituições e para a ascensão de actores não estatais violentos,” escreveu Ahmed.
À medida que o conflito entre as SAF e as RSF se vai arrastando, o apoio de pessoas de fora — em particular dos EAU — tornou-se extremamente importante para que a comunidade internacional possa pressionar no sentido de um cessar-fogo, segundo Alex de Waal, director da World Peace Foundation.
“O que os esforços de paz até agora não conseguiram fazer foi trazer os apoiantes externos do poder, especialmente os EAU, para a mesa de negociações de alguma forma,” de Waal disse à Al-Jazeera. “Enquanto isso não acontecer, é muito pouco provável que a guerra seja resolvida.”