‘Sabemos A Importância De Ter Céus Seguros
O Major-General Hendrick Thuthu Rakgantswana, do Botswana, Debate os Obstáculos ao Transporte Aéreo Estratégico, à Manutenção e à Tecnologia
O Major-General Hendrick Thuthu Rakgantswana tornou-se chefe do Comando do Braço Aéreo do Botswana em 2021, depois de ter servido na Força Aérea desde 1986. Rakgantswana serviu como comandante de esquadrão do Esquadrão de Mobilidade Aérea de Asa Fixa e pilotou o jacto presidencial. Foi também director de operações da Força Aérea e comandante da Base Aérea de Thebephatshwa, a principal base aérea da Força de Defesa do Botswana, a cerca de 100 quilómetros da capital, Gaborone. Rakgantswana falou com a ADF a 28 de Fevereiro de 2023, o primeiro dia do Simpósio dos Chefes das Forças Aéreas Africanas, em Dakar, Senegal. Os comentários foram editados por questões de extensão e clareza.
ADF: O que o levou a juntar-se ao exército?
RAKGANTSWANA: O amor por este, mas nessa altura, o Botswana era confrontado por incursões da África do Sul. A maior parte das vezes, voavam para o Botswana em busca do que na altura se designava por terroristas. Faziam ataques, ataques às bases militares, ataques a aldeias que se situavam algures nas fronteiras. Eu venho de uma pequena aldeia chamada Ramotswa, que fica a um passo da fronteira sul-africana. E estes tipos chegavam e faziam explodir bombas e granadas, e eu vi pessoas morrer — vidas inocentes. Foi isso que me levou a sair e a defender o meu país contra essas agressões.
ADF: Mais recentemente, o Botswana tem-se destacado por estar em paz internamente e com os seus vizinhos. Então, qual é a principal utilização e objectivo da força aérea nesse contexto?
RAKGANTSWANA: Bem, para começar, estamos a enfrentar os nossos crimes internos e transnacionais, a questão da caça furtiva. É aqui que a força aérea é muito, muito importante, porque, para além do transporte de tropas para essas áreas, também dispomos de capacidade ISR [inteligência, vigilância e reconhecimento]. Verificamos se esses indivíduos não entram no país sem serem detectados. E, de facto, isso garante ao nosso pessoal no terreno um bom apoio nas suas operações. Por isso, manter essas operações de combate à caça furtiva é bom para eles. Esse é um dos nossos principais papéis. O outro é que, neste momento, estamos a ajudar este país a combater os terroristas no seu país, que é Moçambique. A força aérea é fundamental para sustentar essa operação. É a chamada Missão da SADC em Moçambique ou SAMIM. Estamos a fazer muitos voos para Moçambique, a apoiar operações, a fazer rotações de pessoal.
As outras operações que também estamos a fazer são as operações de ajuda humanitária. Um país como Moçambique, por exemplo, sofre inundações todos os anos, sem falta. A maior parte dos rios da África Austral despejam as suas águas em Moçambique antes de estas irem para o oceano. É um desafio, e o nosso governo vai juntar as nossas cabeças e dizer “vamos contribuir para aliviar Moçambique.” É aí que entram agora os esforços, e os nossos activos vão recolher os géneros alimentícios e levá-los para Moçambique para distribuição noutras áreas de difícil acesso.
Estendemos a nossa ajuda humanitária a outros países vizinhos. Penso que o mais longe a que chegámos até agora foi o Congo-Brazzaville, depois de uma explosão no depósito de munições [em 2012]. Estivemos no Malawi, no Zimbabwe e em Moçambique durante o Ciclone Idai. Esse afectou toda a África Austral.
ADF: Quais são os principais meios aéreos da força aérea do Botswana?
RAKGANTSWANA: No transporte aéreo, temos os aviões de transporte de asa fixa, os Hercules C-130, os CASA 235 e os CASA 212. Depois, temos os helicópteros, pequenos tipos como os “Squirrels,” o AS350, e depois temos os Bell 412. E depois o outro é para os voos presidenciais e os aviões de treino. Fazemos a nossa própria formação; a única vez que temos de recorrer à formação externa é quando adquirimos uma nova plataforma, e isso é apenas para fazer o tipo de conversão. Depois disso, sustentamo-nos a nós próprios, porque formamos instrutores nessa plataforma.
É claro que estamos a trabalhar para melhorar a capacidade dos caças. Neste momento, temos os F-5 que estão a revelar-se muito dispendiosos de manter devido a questões de obsolescência, pelo que estamos a analisar uma possível plataforma de substituição nesse sentido. E é aqui que ainda estamos a lidar com os princípios políticos para ver se conseguimos obter financiamento para a plataforma que identificámos. Ainda estamos à procura. Ainda não identificámos qual. E isso será determinado pelo financiamento. A ideia é que não percamos capacidade, porque sabemos a importância de ter céus seguros.
ADF: Qual é a dimensão do problema do transporte aéreo estratégico no continente e como é que o Botswana vê o seu papel na contribuição para essa capacidade continental?
RAKGANTSWANA: Esse é um desafio, e nós, como chefes da aviação, sabemos disso. Talvez não sejamos capazes de o resolver ou de convencer a liderança política do problema que estamos a enfrentar. Verifica-se que participamos nestas operações ou que eles têm expectativas em relação a nós, chefes da aviação. Dizem-nos: “Façam isto,” sem se aperceberem de que não dispõem de recursos para levar a cabo essa operação. O que vemos agora é que seremos confrontados com o problema de ter de transportar pessoal por via aérea, transportar carga consignada e ficaremos bloqueados. É um exemplo disso: a missão da SADC em Moçambique está a revelar-se difícil de manter. E isso deve-se principalmente à mobilidade do transporte aéreo, ou à falta de mobilidade do transporte aéreo. Mas, enquanto Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, fizemos promessas. Um dos países que se comprometeu com o transporte aéreo é Angola e, claro, a Zâmbia. A Zâmbia ofereceu o avião de transporte de médio porte. Angola ofereceu o avião de transporte de carga pesada. Acabámos de apresentar o nosso pedido através da SADC, para que, em última análise, seja encaminhado para a força da Zâmbia ou de Angola.
Depois, o desafio é o tempo de resposta. Se eu tivesse essa capacidade, obviamente que responderia (estala os dedos) de imediato. Mas agora tenho de contar que este país pare de conflituar as suas próprias operações daquela que estou a dizer que é uma questão premente também do meu lado. Acabo por falhar nesse aspecto, em termos de conseguir o que pretendo num prazo razoável. O que estamos a discutir nesta cimeira é a importância de ter isso em vigor, e isso, claro, em consonância com a Arquitectura Africana de Paz e Segurança. Não se trata de uma entidade autónoma. Vai juntar-se à estrutura existente da União Africana. Estará presente com a União Africana para identificar onde é necessário e depois será lançada. O que estamos a propor é que sejam seis plataformas, talvez do tipo C-130, com tudo o resto incluído, como logística, formação, formação técnica e, obviamente, operações em termos de pilotos capazes de operar essas aeronaves. É uma capacidade enorme que deveríamos ter como objectivo.
ADF: Um dos desafios que as forças aéreas africanas enfrentam é a capacidade de reparar e manter as plataformas que possuem. Qual é a dimensão do desafio que a manutenção, as peças sobressalentes e a reparação representam para si, enquanto chefe da força aérea?
RAKGANTSWANA: É um enorme desafio neste momento. As plataformas em que estamos a operar, enquanto economia em dificuldades, fazem com que acabemos por nos contentar com algo que é mais barato; provavelmente é velho. Utilizamo-lo durante cinco ou seis anos e depois tem de ser submetido a uma manutenção completa. Não temos essa capacidade. É necessário reparar componentes, e teremos de os obter da OEM — fabricante do equipamento original. E, como se trata de um equipamento antigo, eles dirão: “Não posso fabricar esta componente, especialmente porque querem apenas uma desta componente. Porque isso significa ressuscitar a fábrica que estava a encerrar. Portanto, o mínimo que vos posso disponibilizar será provavelmente 100 ou mais.” Mas depois penso: “Não, não preciso de 100. Só preciso de uma dessas componentes.” O desafio agora é procurar essa componente em diferentes fornecedores. Por vezes, isso se revela muito difícil. No final das contas, não conseguimos essa componente; acabamos por ter de olhar para as outras plataformas que temos e dizemos: “OK, se eu tivesse três aviões, talvez devesse utilizar esse como fonte de peças sobresselentes para apoiar estes dois.” Assim, ficamos presos a estes três aviões que não estão a voar ou a um desses três que está a voar e os outros dois são utilizados para apoiar este, de modo a podermos manter as nossas operações.
Mas a outra coisa que está a acontecer ultimamente é.… especialmente a questão dos custos. Com esta guerra entre a Rússia e a Ucrânia, vimos que o problema do transporte aumentou mais de 10 vezes. No passado, eu costumava obter algumas componentes junto da OEM, dos Estados Unidos, por menos de 100.000 dólares americanos. Mas agora, da última vez que verifiquei, eram cerca de 800.000 dólares. Podem ver o quanto isso é, e isso é apenas uma maneira. É muito caro, tanto que estamos agora com estas componentes aqui; estamos com estas aeronaves aqui que não estão a fazer nada para nós.
ADF: Tendo em conta os desafios que mencionou, qual é a importância de um simpósio como o AACS para enfrentar esses desafios para si, para os seus vizinhos e para todo o continente?
RAKGANTSWANA: A AAFA, a Associação das Forças Aéreas Africanas, quer construir ou mostrar a importância da cooperação e que, como país individual, não se pode ter tudo o que se precisa. E, por isso, olhar para os países vizinhos e ver as suas capacidades, e dizer: vocês, como Angola, têm esta capacidade que eu não tenho, por isso ajudem-me em termos de mobilidade aérea. Vocês, como determinado país, podem provavelmente conceder-me vagas para a formação de técnicos, por isso, ajudem-me nesse sentido. Certamente que isso vai ser muito mais barato do que eu ter que enviar esses técnicos para a Europa ou para os EUA. Estamos agora a olhar para dentro de nós próprios e a identificar as capacidades que temos, para que todos os membros possam beneficiar delas.
ADF: Muitas forças armadas, incluindo as de África, estão a incorporar drones e veículos aéreos não tripulados nos seus meios. Dado que trabalham fortemente no combate à caça furtiva, a vossa Força Aérea já considerou incorporar drones?
RAKGANTSWANA: Temos plataformas ISR em que utilizamos aeronaves de asa fixa, pilotadas em comparação com um drone… mas é uma boa capacidade a ter, sem dúvida, e vemos a importância disso agora nas nossas operações em Moçambique, porque podemos imaginar enviar esses homens para lá, mas não há olhos no céu. Nesse caso, acabam por cair em emboscadas. Esta é a importância dos drones; esta é a importância da capacidade de informação, vigilância e reconhecimento. Estamos a procurar um drone do tipo ISR, porque a vantagem desse tipo de aeronave é que pode permanecer no ar durante muito tempo — 24 horas, 18 horas — em comparação com uma aeronave que precisa de regressar para reabastecer ao fim de cerca de cinco horas.
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