EQUIPA DA ADF
À medida que as suas derrotas no campo de batalha aumentam na Ucrânia, a Rússia está a olhar para o Mali como uma forma de obter armas e contornar as sanções internacionais.
Desde a sua invasão à Ucrânia, a Rússia perdeu mais de 2.000 tanques — cerca de dois terços do seu inventário — e 1.800 veículos de combate de infantaria.
De acordo com o Oryx, um grupo holandês de investigação de guerra, a Rússia perdeu mais de 5.000 peças de equipamento desde o início dos combates. Dessas perdas, quase 3.200 equipamentos foram destruídos e a Ucrânia capturou outros 1.400.
“Esta lista inclui apenas os veículos e equipamentos destruídos dos quais existem provas fotográficas ou videográficas,” declarou o Oryx no seu relatório.
Agora, o Grupo Wagner, uma organização mercenária com laços estreitos com o governo russo, é acusado de tentar traficar armas, tais como drones, radares e sistemas de contrabateria, do Mali para utilização na Ucrânia. Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, acusou as forças armadas russas de não fornecerem armas suficientes ao grupo.
Segundo os relatos, os funcionários malianos planeavam obter as armas da Turquia em nome do Grupo Wagner. Representantes do Grupo Wagner forneceriam documentos falsos para as transacções, a fim de ocultar a origem e o destino das armas.
Os combatentes do Grupo Wagner chegaram ao Mali em Dezembro de 2021 sob o pretexto de oferecer apoio de segurança contra grupos terroristas alinhados com a al-Qaeda e o Estado Islâmico e treino militar às forças malianas em troca de dinheiro e direitos de extracção de ouro.
A dada altura, havia pelo menos 1.000 combatentes do Grupo Wagner no país, embora alguns possam ter sido enviados para combater na Ucrânia. Desde que o grupo de mercenários chegou ao Mali, os peritos militares afirmam que os grupos terroristas se fortaleceram e se expandiram mais para o leste.
Tal como noutras zonas onde opera, o grupo é acusado de crimes de guerra no Mali, tais como assassinatos indiscriminados, execuções sumárias, tortura, roubo e violação — por vezes ao lado das forças governamentais do Mali.
No total, 71% do envolvimento do Grupo Wagner na violência política no Mali assumiu a forma de ataques contra civis, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
Em Janeiro, peritos em direitos humanos ao serviço das Nações Unidas apelaram a uma investigação dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade cometidos pelo Grupo Wagner e pelas forças malianas em várias regiões, onde foram mortos cerca de 500 civis. Os ataques incluem um massacre de aldeões na região de Mopti no ano passado.
“Estamos particularmente preocupados com relatos credíveis de que, ao longo de vários dias, no final de Março de 2022, as forças armadas do Mali, acompanhadas por militares que se acredita pertencerem ao Grupo Wagner, executaram várias centenas de pessoas, que tinham sido detidas em Moura, uma aldeia no centro do Mali,” afirmaram os peritos num comunicado.
As actividades do Grupo Wagner não são apenas violentas. De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África, pelo menos 16 campanhas de desinformação nas redes sociais ligadas ao Grupo Wagner foram detectadas e documentadas em África, incluindo três ou mais no Mali. As narrativas normalmente promovem a Rússia como um ferrenho apoiante dos países africanos e apresentam os países ocidentais como a fonte dos desafios de África.
É outra táctica comum do Grupo Wagner em África: utilizar notícias falsas e campanhas de desinformação para aumentar a pegada da Rússia. Antes do Mali, o grupo utilizou esta estratégia, nomeadamente, na República Centro-Africana e no Sudão, entre outros países.