EQUIPA DA ADF
Os grupos terroristas da Bacia do Lago Chade estão a adoptar uma mistura de tecnologia imediatamente disponível, desde modems de satélite e contas de redes sociais a computadores portáteis e drones, para incrementar o seu recrutamento e as suas actividades em toda a região.
Os grupos estão a adoptar a tecnologia para complementar os recursos humanos e impulsionar o uso de mensagens, numa altura em que sentem o impacto das recentes operações antiterroristas bem-sucedidas, como a realizada em meados de Fevereiro pelas forças de segurança nigerianas, que matou 133 combatentes da Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP).
As operações contra o ISWAP e outras facções do Boko Haram infligiram pesadas perdas e limitaram os portos de abrigo dos grupos terroristas. As detenções de membros do ISWAP fora do nordeste da Nigéria estão a limitar a sua capacidade de expansão.
“Estes reveses podem estar a forçar o ISWAP a adaptar a sua estratégia, como já aconteceu anteriormente,” escreveu recentemente o investigador Malik Samuel para o Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul.
Encurralado e enfrentando uma escassez de pessoal, o ISWAP parece estar a tentar converter drones disponíveis no mercado em dispositivos explosivos improvisados (DEI) voadores, um passo tecnológico que pode ameaçar alvos militares e civis.
A capacidade do grupo terrorista de transformar drones em armas é limitada pelo peso que estes drones podem transportar, pela distância que podem voar e pelo tempo que podem permanecer no ar, escreveu Samuel. Por enquanto, os drones continuam a ser principalmente uma ferramenta de reconhecimento, vigilância e recolha de informações.
Entretanto, o ISWAP tem-se concentrado numa unidade de relações públicas orientada para a tecnologia que trabalha directamente com o grupo do Estado Islâmico para promover o ISWAP nas redes sociais, como o Telegram e o WhatsApp.
A unidade recruta membros e treina-os para utilizarem câmaras, smartphones e tecnologia de satélite — principalmente a marca de modems de alta velocidade conhecida como Thuraya. A Nigéria baniu a utilização de telemóveis Thuraya por satélite no nordeste do país, em 2013. Em 2021, o governo orçamentou 7 milhões de dólares para o seu Sistema de Interceptação Thuraya, destinado a rastrear chamadas, mensagens de texto e dados enviados através da tecnologia Thuraya.
Até há pouco tempo, a tecnologia era facilmente adquirida em Lagos. Actualmente, o ISWAP obtém os seus modems Thuraya secretamente no Chade, onde também são proibidos.
De acordo com entrevistas do ISS com antigos membros da equipa de relações públicas do ISWAP, o grupo gasta cerca de 6.000 dólares por mês em custos de dados via satélite. O ISWAP equipa os seus veículos com modems de satélite, permitindo à sua equipa de relações públicas comunicar as actividades no terreno.
Imagens e outros dados são transmitidos ao EI, que edita a propaganda e envia-a para a Nashir News Agency, a sua agência de notícias no Telegram. O objectivo é simples: apresentar o ISWAP como uma organização terrorista de sucesso e aumentar o número de membros.
A adopção, por parte do ISWAP, da tecnologia imediata e facilmente disponível, representa um desafio para as agências de segurança que procuram eliminar os grupos terroristas.
“Não existe uma forma única de lidar com o problema da utilização da tecnologia pelo ISWAP. A solução reside em várias medidas que operam em conjunto,” escreveu Samuel.
Entre outras coisas, Samuel sugeriu que os governos da Bacia do Lago Chade devem investir mais esforços na interrupção das linhas de abastecimento do ISWAP e na eliminação de colaboradores nas populações militares e civis.
Por último, é vital atacar o financiamento do ISWAP, o que pode reduzir seriamente a sua capacidade de pagar a tecnologia que utiliza, acrescentou.
“Restringir o acesso do ISWAP à tecnologia vai impedi-lo de a utilizar para planear e executar ataques, difundir propaganda e recrutar,” explicou Samuel.