EQUIPA DA ADF
Na sua contínua tentativa de expandir-se por todo o Sahel, o Grupo Wagner da Rússia pode escolher Chade como o seu próximo alvo. Diferentemente de outros países sahelianos, que convidaram mercenários do Grupo Wagner, o Chade pode ser a primeira tentativa do Grupo Wagner de procurar depor um governo no poder, de acordo com os analistas.
O Grupo Wagner já possui espaço na República Centro-Africana, na Líbia e no Sudão. Os grupos rebeldes do Chade coincidem com as forças do Grupo Wagner na RCA e na Líbia, onde os rebeldes se juntaram às tentativas do General Khalifa Haftar, no leste — apoiado pelo Grupo Wagner — de assumir o controlo total do país dividido.
Um oficial sénior de um país africano disse ao The Wall Street Journal que o Chade recebeu a informação sobre a inteligência relacionada com a ameaça apoiada pelo Grupo Wagner contra o seu governo.
O Chade “leva esta ameaça muito a sério,” disse o oficial africano. “É semelhante à espada de Dâmocles.”
Em Janeiro, imagens de cidadãos russos mortos apareceram nas redes sociais, na região onde a RCA, o Chade e o Sudão convergem — uma zona rica em minerais — após confrontos com homens armados nas regiões mineiras, segundo a Radio Dabanga.
De acordo com o The Wall Street Journal, os relatórios de inteligência indicam que os rebeldes ligados à FACT, Front pour l’alternance et la concorde au Tchad, deixaram a base do Grupo Wagner na Líbia, próximo de al-Jufra, e dirigiram-se para o sul, em direcção à fronteira porosa com o Chade.
O Grupo Wagner também esteve a trabalhar em estreita colaboração com as Forças de Apoio Rápido do Sudão, comandadas pelo General Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido por Hemedti, o líder-adjunto da junta no poder no Sudão.
Hemedti viajou para Moscovo, em Fevereiro de 2022, para fortalecer as ligações das RSF com a Rússia e o Grupo Wagner. As RSF operam ao longo da fronteira do Sudão com a RCA e o Chade.
Em 2021, o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, Mahamat Zene, alertou a comunidade internacional sobre a ameaça das forças do Grupo Wagner que cercavam o seu país. Ele também disse que o Grupo Wagner tinha treinado combatentes rebeldes que mataram o antigo presidente, Idriss Déby Itno, em Abril daquele ano.
“Existem mercenários russos presentes na Líbia, que estão também presentes na República Centro-Africana,” disse Zene à Agence France-Presse, naquele ano. “Temos motivos para estar preocupados com a presença desses mercenários.”
De acordo com o The Wall Street Journal, recentes relatórios de inteligência sugerem que o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, tem planos para fornecer aos grupos rebeldes chadianos material e apoio operacional de que precisam para depor o governo do Chade dirigido por Mahamat Idriss Déby, o presidente de transição e filho do falecido presidente.
O Chade é rico em recursos naturais, especialmente o petróleo. A presença do Grupo Wagner e de outros países do Sahel levou à existência de operações de mineração que canalizam recursos de volta para Moscovo para financiar a invasão da Rússia na Ucrânia.
Na RCA, onde o Grupo Wagner é ubíquo, os mercenários mataram ou expulsaram mineradores artesanais e assumiram operações de processamento em toda a região norte e leste. No Sudão, o Grupo Wagner contrabandeia milhões de dólares em ouro para fora do país.
As forças do Grupo Wagner também operam campanhas de desinformação na RCA e no Sudão, que apoiam os seus aliados.
No início de 2022, o grupo rebelde do Chade, Union des Forces Républicaines (UFR), emitiu um apelo nas redes sociais, pedindo que os líderes da RCA pressionem os “russos” a entrarem no Chade e expulsarem Déby, de acordo com as Nações Unidas. As autoridades da RCA e o Grupo Wagner na altura não admitiram que tinham planos de o fazer.
Nos últimos meses, os líderes da junta do Sudão visitaram o Chade para debater questões de segurança ao longo da fronteira. Em finais de Janeiro, Hemedti enviou as RSF, em conjunto com os mercenários do Grupo Wagner, para prevenir uma alegada tentativa de golpe de Estado contra o governo da RCA.
As RSF continuam firmes ao longo da fronteira com o Chade, apesar dos apelos do governante da junta militar do Sudão, o General Abdel Fattah al-Burhan, para que elas se retirem, de modo a permitir que as Forças Armadas do Sudão possam assumir o seu lugar, disse Tijani al-Tahir Karshoum, governador-adjunto da província do Darfur Ocidental, Sudão, que faz fronteira com o Chade.
“As Forças de Apoio Rápido enviadas para a fronteira com o Chade não foram substituídas pelo exército sudanês. Elas ainda permanecem lá com as forças normais, nas regiões instáveis,” disse Karshoum ao jornal Tribune, do Sudão.