Os países que investem na formação militar profissional possuem poucas dúvidas sobre o seu valor.
“A recompensa que vemos na etapa final é fenomenal,” Major-General Tracy King disse sobre os esforços do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, de expandir a formação de oficiais não comissionados. “Está a trazer recompensas em grande escala.”
Os proponentes afirmam que a formação militar profissional, ou FMP, ajuda a força de combate a incorporar os mais elevados valores de uma nação. Promove a coesão, ensina uma visão estratégica ampla e oferece aos estudantes uma compreensão sobre o que significa servir. Se os cursos de formação básicos e técnicos ensinam a um soldado “o que pensar,” os FMP ensinam ao soldado “como pensar.”
Também se encontra em demanda. O grupo de jovens oficiais ambiciosos e versados na tecnologia e de homens e mulheres alistados nas forças armadas de hoje afirma que o acesso à formação é o que os motiva a juntar-se ao exército e os compele a permanecerem para a carreira completa. Oferece-lhes acesso a habilidades de liderança, pensamento crítico e conceitos de guerra que precisam para liderar tropas no campo de batalha. Também preenche os seus currículos com habilidades comerciais para as suas carreiras pós-exército.
Contudo, existem barreiras. Existe uma falta de capacidade doméstica em África, significando que muitos estudantes são obrigados a desistir da formação ou concorrer para oportunidades ilimitadas fora do país. Favoritismo, preconceito e indisposição para abraçar uma nova doutrina e tecnologia podem deixar os estudantes frustrados e sem preparação.
As instituições de FMP africanas devem adaptar-se ou perecer, afirmam os especialistas.
“Existem vários desafios que as instituições de ensino superior militares enfrentam, incluindo a politização do recrutamento de estudantes, retenção e manutenção de pessoal de qualidade, melhoria dos currículos para garantir que, para além de disciplinas militares fundamentais, exista uma introdução mais ampla para as sociedades nas quais eles estejam localizados; e melhorar e explicar as relações civis-militares como um processo dinâmico e em constante mudança,” Dr. Kwesi Aning, director da faculdade de assuntos académicos e de pesquisa, do Centro Internacional de Treinamento em Manutenção da Paz Kofi Annan de Gana, disse ao University World News.
Existem também visões concorrentes para o futuro dos exércitos africanos. Alguns propõem um modelo que liga o exército de forma muito próxima com o partido político no poder. Outros propõem um modelo do exército em que a especulação e o envolvimento em negócios privados é prática comum dos soldados. Esses modelos, na essência, levaram ao fracasso e à corrupção. Os modelos mais bem-sucedidos, conforme tem sido visto em países como Botswana, Gana e Senegal, exigem que o exército permaneça apolítico e siga padrões rigorosos de profissionalismo. De modo que os países possam mapear o seu próprio futuro, devem criar instituições de ensino superior que reflictam esses valores.
“A solução a longo prazo para muitos exércitos africanos é que desenvolvam as suas próprias instituições de FMP e moldadas na rica cultura e história dos seus países e forças armadas,” Tenente-Coronel Jahara Matisek, director de pesquisa e desenvolvimento, no Centro de Estratégia e Guerra da Academia da Força Aérea dos EUA, disse ao University World News.
Formação Satisfaz a Demanda de Jovens Profissionais de Segurança
EQUIPA DA ADF
O acesso ao ensino superior é uma força motivadora que leva muitos jovens recrutas a juntarem-se ao exército. Um inquérito de 2019, do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), concluiu que 41% dos jovens militares entram no exército com pelo menos o grau de bacharelato. Isso são 11 pontos percentuais acima em comparação com os militares mais velhos.
Esses jovens recrutas educados querem continuar a aprender e estão motivados para alcançar níveis mais elevados. “Os jovens recrutas de hoje parecem ter mais habilidades e mais opções de emprego, mas, mesmo assim, estão livres para escolher juntar-se ao sector de segurança como um meio de serviço e uma carreira,” disseram os autores do inquérito.
A motivação para continuar a sua formação está intimamente ligada a uma motivação para servir, com 65% dos mais novos profissionais de segurança que citam o valor de “servir o país” como um factor motivador para se juntarem. Este idealismo foi maior entre as cortes mais jovens de profissionais de segurança africanos.
Os militares têm fome de uma diversidade de oportunidades de formação e de treinos. Cerca de 97% dos inquiridos teve um ponto de vista positivo quanto à formação internacional. Em entrevistas individuais com o ACSS, os profissionais de segurança citaram:
A oportunidade de aumentar as experiências intelectuais e interligações, incluindo o acesso aos mais recente conhecimentos e tendências.
A possibilidade de criar relações duradouras e exposição a novas ideias, valores, pensamento crítico e tendências do momento.
Exposição a líderes seniores que demonstram uma forte liderança moral e visão.
Ganhar uma compreensão mais profunda dos membros do corpo de oficiais de diferentes proveniências.
Partilhar padrões, visões, normas e valores com parceiros internacionais.
Criar perspectivas regionais e globais sobre os desafios de segurança e meios alternativos para abordar esses desafios.
Ganhar exposição a novas tecnologias.
Depende de os líderes do sector de segurança de África satisfazer às expectativas desses jovens soldados, oferecendo maior acesso à FMP. A formação ao longo de toda a carreira pode ajudar a aproveitar a sua energia e inovação para encontrar soluções para os desafios de segurança do futuro.
Colocar o ‘Passeio do Estado-Maior’ na História
Uma abordagem que alguns colégios militares assumiram é chamada de “passeio de Estado-maior,” em que uma batalha histórica ou acampamento é estudado meticulosamente. Mas, em vez de apenas ser uma aula de história, os estudantes são instruídos para pensar de forma crítica sobre o que eles aprenderam e para tirarem as suas próprias conclusões.
Um estudo de 2021 do programa passeio do Estado-maior, do Colégio Nacional de Guerra da África do Sul, da Universidade de Pretória, os pesquisadores James Jacobs e Johan Wassermann disseram que o passeio inclui:
Um estudo prévio detalhado das evidências históricas relacionadas.
Uma visita de campo para a campanha ou local de batalha a fim de colocar as evidências históricas estudadas num contexto geoespacial.
Aplicação das lições aprendidas sobre a campanha militar ou batalha de uma forma prática.
O objectivo do passeio do Estado-maior, comunicaram os autores, é oferecer aos estudantes militares uma “experiência de aprendizagem profunda” em que pensam por si próprios, desenvolvem a sua própria compreensão de questões complexas e “criar o hábito de pensar de forma crítica.”
Depois de estudarem o programa passeio do Estado-maior do colégio sul-africano, os autores concluíram que nem todos os estudantes são criados de forma igual e alguns nunca fazem a transição bem-sucedida de uma a aprendizagem da sala de aulas para a real aprendizagem profunda. Mas, afirmam eles, o programa, em termos gerais, foi um sucesso.
“O passeio do Estado-maior como processo de aprendizagem representa um grande salto no ensino, em contraste com o método tradicional de aprendizagem sentando nas salas de aulas e ouvindo durante horas a aulas sem fim,” escreveram os autores. “A essência de aprendizagem profunda é questionar continuamente a veracidade do conhecimento existente.”
Ensinar a Guerra — e a Paz
O curso de mestrado em ciências de Defesa e Políticas Internacionais da Escola de Comandos e de Estado-Maior das Forças Armadas do Gana conta com um currículo ecléctico e um corpo diversificado de estudantes das instituições militares modernas.
As Forças Armadas do Gana (GAF) criaram a escola em 1963 para oficiais das GAF e oficiais africanos aliados em responsabilidades de comando e de Estado-Maior.
O curso de mestrado está aberto para participantes de todo o mundo. Os participantes-alvo vão para além de militares activos e reformados e incluem diplomatas, funcionários públicos, membros do parlamento e do judiciário e membros de agências de segurança e de inteligência.
Os candidatos devem ter o grau de licenciatura de um instituto superior ou universidade reconhecida e devem ter entendimento e compreensão básica de inglês. Embora o curso esteja aberto para homens e mulheres, nos últimos anos, as mulheres têm sido encorajadas a inscreverem-se.
As disciplinas obrigatórias incluem teorias e conceitos de defesa e segurança; métodos de pesquisa em defesa e política internacional; diplomacia; política africana e economia política; e leis internacionais, direitos humanos e conflitos em África. As disciplinas opcionais incluem operações de paz, terrorismo e combate ao terrorismo, regionalismo e integração, sistemas de alerta antecipado, reconstrução pós-conflito e desenvolvimento em África.