Os membros da força paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) não esconderam os seus actos violentos após capturarem a capital do Estado de Darfur do Norte, no oeste do Sudão — alguns até os gravaram.
Em Outubro, as RSF construíram um enorme dique de areia ao redor de El-Fasher, a última cidade em Darfur controlada pelas Forças Armadas do Sudão (SAF) e seus aliados. Ao amanhecer de 26 de Outubro, as RSF capturaram a cidade e lançaram ataques contra civis. Cercados por corpos e veículos em chamas, os combatentes das RSF gravaram vídeos de si mesmos rindo, sorrindo e executando civis desarmados.
“Olhem para todo este trabalho. Olhem para este genocídio,” disse um deles num vídeo que circulou nas redes sociais. “Todos eles vão morrer assim.”
Logo após o ataque, os trabalhadores humanitários estimaram o número de mortos em mais de 2.500 pessoas. Mas o governador de Darfur, Minni Minnawi, disse aos repórteres no dia 20 de Novembro que as RSF mataram 27.000 pessoas em três dias. Desde o início da guerra civil, em Abril de 2023, mais de 150.000 pessoas foram mortas e cerca de 12 milhões foram forçadas a abandonar as suas residências.
Enquanto a força principal das RSF invadia El-Fasher, um grupo separado de combatentes assumiu o controlo a cerca de 8 quilómetros da cidade, onde executou brutalmente vários prisioneiros desarmados. Vídeos verificados pela imprensa e por organizações de pesquisa mostraram dezenas de civis mortos numa trincheira ao longo do aterro. Agências humanitárias afirmam ter recebido relatos confiáveis de atrocidades, incluindo execuções sumárias, ataques a civis ao longo de rotas de fuga, invasões de casa em casa e violência sexual contra mulheres e meninas.
“Sabíamos que isso iria acontecer, porque faz parte de um padrão de violência que já vimos as RSF cometer antes,” a analista política sudanesa Kholood Khair disse à Al Jazeera. “Vimos-los cometer genocídios desta magnitude e contra o mesmo grupo de pessoas nos últimos 20 anos.”
Hanaa El Tijani, membro da Rede Juvenil para a Monitoria Civil do Sudão, descreveu a ocupação das RSF como “uma explosão sem precedentes de violência e graves violações contra civis,” relatou a Radio Dabanga. Ela disse que a rede documentou “assassinatos em massa de centenas de civis, além da execução de dezenas de pacientes e funcionários médicos dentro do Hospital Saudita, que era a última unidade de saúde em funcionamento na cidade.”
As RSF “visaram médicos e profissionais de saúde dentro de hospitais e realizaram rusgas generalizadas em casas e mesquitas, além de casos documentados de violação colectiva,” salientando que estas acções constituem “um padrão sistemático de assassinatos em massa e limpeza étnica contra comunidades não árabes na cidade.”
O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas apoiou por unanimidade uma nova investigação independente sobre o massacre de El-Fasher.
“Os nossos alertas não foram atendidos,” o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, disse numa reunião de emergência no dia 14 de Novembro. “Manchas de sangue no chão em El-Fasher foram fotografadas a partir do céu.”
Imagens de satélite tiradas no dia 26 de Outubro parecem confirmar as execuções das RSF nas ruas de El-Fasher, de acordo com um relatório publicado pelo Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale (HRL).
“É altamente provável que a maioria dos civis que estavam vivos em El-Fasher antes de 26 de Outubro de 2025 tenham sido mortos, tenham morrido, estejam detidos, estejam escondidos, tenham fugido ou estejam impossibilitados de se mover livremente,” lê-se no relatório de 21 de Novembro. “A falta de actividade no mercado corrobora ainda mais a conclusão do HRL de que não há padrões de vida visíveis que sejam consistentes com a presença de civis e a liberdade de movimento em El-Fasher.”
O director-executivo do HRL, Nathaniel Raymond, descreveu a violência em El-Fasher como sem precedentes.
“Estamos apenas no início de uma onda de violência,” disse ao jornal britânico The Guardian. “Nunca vi um nível de violência contra uma área como o que estamos a ver agora. Isso só é comparável com um massacre ao estilo ruandês nas primeiras 24 horas.”
Sheldon Yett, membro da missão humanitária do UNICEF no Sudão, disse que a sua organização prestou assistência a milhares de civis que fugiram para aldeias vizinhas e para o campo de refugiados de Tawila.
“As pessoas deslocadas que chegam aqui estão completamente exaustas e sem recursos,” disse à France 24. “Durante meses, não houve comida, medicamentos nem água em El-Fasher. Os civis sitiados estavam a comer ração animal.
“Relatos indicam que as RSF exigem grandes somas de dinheiro para permitir que as pessoas fujam da cidade. Portanto, aqueles que conseguiram escapar da cidade são aqueles que tinham condições financeiras para pagar para sair. As populações mais vulneráveis são aquelas que ficaram para trás.”
