Numa operação dramática de seis horas, as autoridades nigerianas realizaram uma rusga no Aeroporto Internacional Nnamdi Azikwe, em Abuja, prendendo cinco suspeitos e resgatando 24 vítimas de tráfico de seres humanos.
Os recrutadores visavam vítimas entre os 15 e os 26 anos nos Estados de Kano, Kastina, Oyo, Ondo e Rivers. Elas estavam no aeroporto no dia 1 de Outubro, a caminho de Afeganistão, Bahrein, Egipto, Iraque, Arábia Saudita e Sudão.
“Disseram à minha mãe que me levariam para a Europa, onde eu trabalharia e ganharia dólares,” uma das vítimas disse à Agência Nacional para a Proibição do Tráfico de Pessoas (NAPTIP) da Nigéria. “Os meus pais ficaram felizes e permitiram que eu os acompanhasse.”
A Nigéria está a intensificar os seus esforços para combater o tráfico de pessoas, uma forma moderna de escravatura que tem ressurgido em todo o continente. Liderada pela directora-geral Binta Adamu Bello, a agência está no centro desses esforços.
“Observámos que o Aeroporto Internacional Nnamdi Azikwe está a tornar-se uma zona de conforto para estes traficantes, e é por isso que decidimos voltar a nossa atenção para este aeroporto,” disse. “Vamos manter esta operação até que eles parem com este comércio antipatriótico e ilícito de seres humanos. O tráfico de seres humanos é uma preocupação nacional visível, e todos nós devemos estar em sintonia para pressionar os traficantes. A nossa determinação em garantir a protecção dos nigerianos contra todas as formas de exploração é firme e resoluta.”
Como parte dos esforços da agência para aumentar a sensibilização, Bello demonstrou que o tráfico de seres humanos é uma ameaça à segurança nacional da Nigéria, porque alimenta outras actividades criminosas e, muitas vezes, está interligado com outro tráfico ilícito. Os investigadores documentaram ligações entre sindicatos criminosos transnacionais e gangues de estilo mafioso, cultos e outras organizações criminosas na Nigéria.
Bello disse que as vítimas do tráfico de seres humanos são transportadas diariamente das zonas rurais para as zonas urbanas e através das fronteiras para serem submetidas a escravatura sexual, trabalhos perigosos e recrutamento para o terrorismo e conflitos armados. Ela partilhou uma lista impressionante de crimes e males sociais ligados ao tráfico de seres humanos durante um evento da NAPTIP em Novembro, em Dutse, capital do Estado de Jigawa, no norte da Nigéria.
“Isso alimenta a corrupção no sector público, a migração irregular, prejudica o potencial de desenvolvimento do capital humano, causa colapso social e exclusão, escassez de mão-de-obra qualificada, degradação humana, violação de direitos humanos, propagação de doenças; mancha a imagem nacional e está associado a crimes financeiros,” disse.
No início deste ano, Bello ordenou o aumento da vigilância em todo o país, com ênfase em aeroportos internacionais, parques de estacionamento e vias navegáveis costeiras. A Unidade de Sensibilização Pública da NAPTIP também trabalha para aumentar a consciencialização em áreas remotas dos Estados de Benue, Edo e Kogi e já educou milhares de mulheres, crianças e educadores sobre como prevenir o tráfico de seres humanos.
A NAPTIP e várias outras agências de aplicação da lei nigerianas trabalharam em conjunto com a Interpol e a Afripol em Setembro de 2024. A operação de cinco dias, que resultou em 36 detenções, destacou a dinâmica transnacional do tráfico de seres humanos e as vulnerabilidades das pessoas que procuram melhores oportunidades além-fronteiras.
“Os grupos de crime organizado da África Ocidental são considerados entre os grupos criminosos mais agressivos e expansionistas devido ao seu envolvimento numa diversidade de actividades ilegais, desde o contrabando de pessoas, tráfico de seres humanos, extorsão e rapto até ao crime cibernético e branqueamento de capitais,” explicou Cyril Gout, director-executivo interino dos Serviços Policiais da Interpol.
As dificuldades económicas na Nigéria e a elevada procura por mão-de-obra barata e exploração sexual no estrangeiro são factores determinantes que levaram muitas mulheres e crianças a procurar oportunidades de emprego e educação arriscadas. O tráfico de seres humanos também está ligado a outras redes de tráfico ilícito.
África é a principal fonte e ponto de trânsito do comércio ilegal de vida selvagem, uma indústria multimilionária liderada por gangues criminosos organizados com operações em todo o mundo. Uma nova pesquisa publicada na revista Journal of Economic Criminology mostrou que esses gangues também, muitas vezes, estão envolvidos noutras formas de actividade criminosa, incluindo tráfico de drogas, armas, pessoas, veículos roubados, recursos naturais extraídos, produtos falsificados e partes do corpo humano.
“Estamos a ver redes criminosas em todo o mundo a tornarem-se mais adaptáveis e interligadas e quase independentes da mercadoria,” a investigadora da Universidade de Oxford, Michelle Anagnostou, disse à revista Scientific American, num artigo de 21 de Novembro.
“A abordagem anterior de combater cada tipo de crime organizado separadamente já não é suficiente. [Precisamos] de uma abordagem abrangente do crime organizado às actividades de tráfico como um todo, com menos foco na mercadoria que está a ser traficada.”
