As autoridades sul-africanas lançaram uma investigação para determinar como a tecnologia fabricada localmente apareceu em drones kamikaze utilizados pela Rússia na sua invasão à Ucrânia.
As tropas ucranianas descobriram o equipamento de telemetria a laser produzido pela LightWare Optoelectronics da África do Sul depois de recuperarem um drone kamikaze Garpiya-A1 abatido. As autoridades ucranianas afirmaram que a tecnologia poderia ser usada para medir a distância até um alvo e accionar os drones para detonar.
A Rússia usou drones Garpiya-A1 para atacar as infra-estruturas da Ucrânia. Os drones são uma mistura de tecnologia de origem internacional, com motores da China e peças de outros países. O drone de asa fixa é inspirado nos dispositivos Shahed de asa voadora que o Irão forneceu à Rússia nos últimos anos.
Normalmente, a tecnologia sul-africana encontrada no drone russo é usada em carros sem condutor, equipamentos de mineração e protecção da vida selvagem. Nos últimos anos, a LightWare reduziu o tamanho da tecnologia, tornando-a mais fácil de adicionar a um drone.
A LightWare afirmou que não permitiu que a sua tecnologia de uso civil fosse utilizada para qualquer aplicação militar. A LightWare disse à Bloomberg que parou de vender tecnologia para a Rússia e a Ucrânia em 2022, mas que não pode rastrear a tecnologia que pode ter sido vendida antes disso.
“Parece que um operador inescrupuloso, sem o nosso conhecimento, comprou os nossos sensores num outro lugar e os utilizou ilegalmente na Rússia,” a PCA da LightWare, Nadia Nilsen, disse num e-mail à Bloomberg.
“Não vendemos nem concebemos produtos para uso militar,” afirmou a LightWare após a descoberta.
A África do Sul mantém-se neutra em relação à invasão russa à Ucrânia. A presença de tecnologia sul-africana nos drones russos ameaça essa posição, de acordo com Chris Hattingh, porta-voz da Defesa e Veteranos Militares do partido político Aliança Democrática da África do Sul.
Apesar da sua neutralidade, a África do Sul realizou exercícios militares com a Rússia e recusou-se a votar as resoluções das Nações Unidas que condenam a invasão. A Rússia recrutou dezenas de homens sul-africanos para servirem como mercenários na linha da frente na região de Donbass, na Ucrânia. Ao mesmo tempo, mulheres sul-africanas relataram ter sido empregadas em fábricas de drones russas após serem recrutadas através de publicações nas redes sociais para trabalhar na hotelaria.
A África do Sul proíbe as empresas de exportarem armas para países envolvidos em conflitos activos sem a autorização do Comité Nacional de Controlo de Armas Convencionais do governo. A LightWare não está sob a alçada do comité.
Sipho Mashaba, director interino para o controlo de armas convencionais do comité, confirmou que a LightWare não está licenciada para vender a sua tecnologia directamente a fabricantes de armas. Não se qualifica como uma tecnologia de dupla utilização que pode ser reaproveitada para fins civis ou militares.
Os dispositivos de dupla utilização são restritos pelo Acordo Internacional de Wassenaar, que visa manter essa tecnologia fora do alcance de terroristas. Como participante do Acordo de Wassenaar, a África do Sul é obrigada a controlar bens de dupla utilização, incluindo óptica e sensores.
“Este assunto será encaminhado aos inspectores que visitarão as instalações da entidade para determinar o âmbito da sua actividade, bem como a aplicação,” disse Mashaba.
