O grupo terrorista Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin declarou em Setembro que impediria qualquer camião-cisterna de combustível de entrar no Mali proveniente de países vizinhos. Desde então, centenas de camiões da Costa do Marfim e do Senegal foram atacados e incendiados no Mali, por vezes, enquanto eram escoltados pelas forças militares malianas.
Os camionistas malianos, muitas vezes, morrem em ataques do grupo terrorista, também conhecido como JNIM, que está ligado à al-Qaeda. O camionista Bablen Sacko disse que testemunhou estes ataques e escapou à morte por pouco.
“Os aprendizes morreram mesmo atrás de nós,” Sacko disse à Agence France-Presse. “Todos têm um papel na construção do país. O nosso é fornecer combustível ao Mali. Fazemo-lo por patriotismo.”
Devido ao bloqueio do JNIM, o país enfrenta agora uma escassez de combustível que está a agravar as graves e recorrentes falhas de energia que têm paralisado a economia desde 2020. A actual junta militar, liderada pelo General Assimi Goïta, não conseguiu travar o recente ímpeto do JNIM no sul do Mali, onde o grupo terrorista cortou rotas comerciais, deixou cidades sem alimentos e testou os limites do controlo do Estado.
A junta de Goïta anunciou, no dia 2 de Novembro, o encerramento de escolas e universidades por duas semanas devido à escassez de combustível, que também tornou alguns equipamentos agrícolas inoperantes no meio da época de colheita. O JNIM agora também bloqueia Bamako, a capital nacional.
De acordo com Oluwole Ojewale, investigador da Universidade Obafemi Awolowo, na Nigéria, tais bloqueios são instrumentos de governação coerciva e guerra assimétrica destinados a enfraquecer a junta, minar a confiança pública nas forças armadas e, possivelmente, solidificar o controlo. O JNIM tem imposto bloqueios principalmente em vastas zonas semiáridas atravessadas por rotas não governadas.
“Muitas destas áreas estão fora do alcance da presença efectiva do Estado,” Ojewale, também coordenador regional do Instituto de Estudos de Segurança, escreveu para o The Conversation. “Lá, os movimentos do exército são previsíveis e lentos, enquanto os insurgentes se misturam com as comunidades locais e as florestas com relativa facilidade.”
De acordo com Ojewale, o exército maliano está mal equipado, sobrecarregado e estrategicamente em desvantagem para combater as tácticas em evolução do JNIM, do Estado Islâmico no Grande Saara (ISGS) e da Frente de Libertação de Macina.
Tanto o JNIM como o ISGS aproveitaram a ausência de forças internacionais e expandiram a sua própria influência. De acordo com o Índice Global de Terrorismo de 2025, o Mali ficou em quarto lugar entre os países mais afectados pelo terrorismo em 2024, quando registou 604 mortes em 201 ataques. O JNIM foi o principal responsável por esses ataques.
Embora o JNIM ainda não tenha tentado tomar Bamako, lançou um grande ataque à cidade em Setembro de 2024, matando pelo menos 77 pessoas numa escola de treino militar e no aeroporto internacional, onde estão baseados mercenários russos. Tratou-se do primeiro ataque a Bamako desde 2016. Alguns analistas alertam agora que a queda de Bamako se aproxima e que o Mali poderá transformar-se num Estado islâmico.
“Se, como muitos agora temem, os grupos jihadistas acabarem por capturar a cidade ou forçarem a junta militar do chefe do exército, Assimi Goïta, a capitular, poderão plausivelmente transformar o Mali num califado às portas da Europa,” relatou o Financial Times.
“Muitos consideram a queda iminente do regime inevitável,” Héni Nsaibia, analista sénior para a África Ocidental, no projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, disse ao jornal britânico. “É uma questão de como e quando, não se.”
Um membro sénior do anterior governo do Mali afirmou que os terroristas estão a tornar-se mais sofisticados, transmitindo em Bambara coloquial, uma língua amplamente falada, e cobrando impostos religiosos conhecidos como zakat, bem como impostos das minas de ouro artesanais.
“A estratégia deles tem sido asfixiar Bamako e está a funcionar muito bem,” disse o ex-membro sénior do governo anonimamente ao Financial Times, acrescentando que eles mantinham contacto próximo com membros das forças armadas do Mali.
O ex-membro do governo disse que um coronel das forças armadas do Mali insistiu com raiva numa ligação telefónica há alguns meses que era impossível Bamako cair nas mãos dos terroristas. Questionado novamente recentemente, o coronel ficou em silêncio.
“O que estamos a ver é o colapso do país diante dos nossos olhos,” o ex-membro do governo disse ao Financial Times.
