As autoridades prenderam seis pessoas na África do Sul no dia 19 de Agosto por envolvimento com uma rede internacional de tráfico de cornos de rinoceronte. As detenções ocorreram após uma investigação de sete anos conduzida pela Hawks, a divisão da Polícia Sul-Africana especializada no combate ao crime organizado.
Os suspeitos são acusados de contrabandear 964 cornos no valor de 14,1 milhões de dólares para mercados ilegais no Sudeste Asiático. Eles enfrentam acusações de fraude, roubo e violação de uma lei nacional de biodiversidade. As autoridades efectuaram as detenções dias depois de um relatório da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional ter destacado a África Oriental e Austral como um ponto nevrálgico do crime organizado — incluindo o contrabando e o tráfico de produtos da vida selvagem, seres humanos, drogas, minerais e armas, bem como a extorsão. Estes mercados criminosos regionais, que alimentam o crime local, estão ligados a redes globais.
“O trabalho dos Hawks mostra que as nossas agências de fiscalização da lei não hesitarão em perseguir aqueles que saqueiam a nossa vida selvagem para obter lucros criminosos,” Dion George, Ministro da Floresta, Pesca e Ambiente da África do Sul, disse num comunicado.
De acordo com o relatório sobre a criminalidade, o corno de rinoceronte é normalmente contrabandeado por via aérea a partir de Joanesburgo, na África do Sul, e Adis Abeba, na Etiópia. É encaminhado através do Dubai e Doha e, por vezes, Paris e Londres, para iludir as autoridades policiais.
Em Junho, as autoridades prenderam 11 pessoas na província de Nampula, em Moçambique, e acusaram-nas de posse e tráfico de quase 61 quilogramas de anfetamina e heroína. Muitas vezes, a heroína é traficada para a África Oriental e Austral a partir do Afeganistão, passando pelo Paquistão e Irão, e é transportada através do Mar Arábico e do Oceano Índico com destino ao norte de Moçambique e à Tanzânia. Em seguida, divide-se em duas linhas de abastecimento: uma de maior qualidade com destino à Austrália e Europa, e outra que é adulterada e consumida localmente, de acordo com o relatório criminal.
Em Janeiro, as autoridades prenderam três cidadãos chineses com 12 barras de ouro e 800.000 dólares em dinheiro na agitada região leste da República Democrática do Congo, perto da fronteira com o Ruanda. Grupos milicianos controlam muitas das minas de ouro ilícitas no leste da RDC e obtêm receitas com a venda a intermediários. No mês anterior, a RDC processou a Apple e acusou-a de utilizar “minerais de sangue” nos seus produtos, informou a BBC. Os advogados do governo da RDC alegaram que os minerais extraídos de áreas de conflito são “lavados através de cadeias de abastecimento internacionais.”
“Estas actividades alimentam um ciclo de violência e conflito ao financiar milícias e grupos terroristas e contribuem para o trabalho infantil forçado e a devastação ambiental,” lê-se no processo judicial.
No norte de Moçambique e na província de KwaZulu-Natal, na África do Sul, os investigadores implicaram terroristas do grupo Estado Islâmico no contrabando de ouro, esquemas de extorsão e sequestro. O contrabando e o tráfico de pessoas também são graves no Corno de África, envolvendo frequentemente populações vulneráveis na Eritreia, Etiópia, Lesoto, Moçambique, Somália e Zimbabwe, de acordo com o estudo sobre criminalidade.
Em Julho, as autoridades libertaram mais de 100 migrantes e refugiados mantidos em cativeiro por um gangue de tráfico e contrabando de seres humanos na Líbia, após prenderem os seus captores. As vítimas foram torturadas e os seus familiares forçados a pagar resgate. As autoridades prenderam cinco suspeitos de tráfico de pessoas do Egipto, Líbia e Sudão.
Os desafios para conter as economias criminosas organizadas na África Oriental e Austral são complicados pela capacidade limitada de fiscalização da lei, vigilância e segurança em muitas áreas. O Aeroporto Internacional de Bole, na Etiópia, é um movimentado centro de contrabando de minerais, produtos da vida selvagem, pessoas e drogas. De acordo com o estudo sobre criminalidade, o aeroporto movimenta mais de 24 milhões de passageiros, 50 milhões de bagagens e 226.000 toneladas de carga por ano. No entanto, carece de equipamento de rastreamento, pessoal e cães farejadores suficientes.
Da mesma forma, o porto de Durban, na África do Sul, é “notório pela sua ineficiência, corrupção e tráfico de drogas,” afirma o relatório sobre criminalidade. O porto movimenta cerca de 60% do tráfego de contentores do país, dos quais apenas uma fracção pode ser rastreada ou revistada.
O estudo sobre criminalidade ofereceu às autoridades várias recomendações para ajudar a desmantelar os centros de tráfico do continente, incluindo:
* Aproveitar o financiamento do sector privado e internacional para estabelecer um observatório ou centro de análise para rastrear e analisar tendências relevantes no tráfico ilícito e contrabando, extorsão e comércio de armas.
* Priorizar a identificação de figuras proeminentes do crime organizado e seus facilitadores por meio de investigações coordenadas e partilha de inteligência a nível nacional, regional e internacional.
* Expandir a capacidade de rastreio direccionado de contentores nos portos sul-africanos de Beira, Durban e Mombaça.
* Aumentar a pressão diplomática sobre jurisdições permissivas e zonas de comércio livre que são utilizadas para canalizar fluxos financeiros ilícitos.
* Concentrar-se em centros emergentes, como Madagáscar, um ponto estratégico no tráfico transnacional que é uma fonte rica em ouro e grafite, produtos da vida selvagem e pessoas contrabandeadas para o exterior.