Oterror chegou ao Benin em 2019. Extremistas baseados no Sahel surgiram do Parque Nacional Pendjari e sequestraram dois turistas franceses e o seu guia. Desde então, uma onda de incursões tem assolado o país, aumentando a cada ano que passa.
O Benin destacou 3.000 soldados para o norte no âmbito da Operação Mirador para impedir ataques militantes contra civis, forças de segurança e guardas-florestais no Complexo W-Arly-Pendjari (WAP), que inclui território do Benin, Burquina Faso e Níger. Militantes baseados no Sahel intensificam os ataques ao Benim e ao Togo e aproximam-se da Costa do Marfim, Gana, Guiné, Mauritânia e Senegal.
“O número anual de eventos violentos ligados a grupos militantes islâmicos dentro e num raio de 50 km das fronteiras dos vizinhos costeiros da África Ocidental do Sahel aumentou mais de 250% nos últimos dois anos, ultrapassando 450 incidentes,” segundo os investigadores Daniel Eizenga e Amandine Gnanguênon num relatório de Julho de 2024 para o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).
Essa tendência mortal continuou no dia 8 de Janeiro de 2025, quando militantes atacaram as forças da Operação Mirador, matando 28 soldados no departamento de Alibori, que faz fronteira com Burquina Faso, Níger e Nigéria.
“Sofremos um golpe muito duro,” o coronel beninense, Faizou Gomina, chefe do Estado-Maior da Guarda Nacional, disse à BBC. Gomina disse que a posição atacada era “uma das mais fortes e militarizadas” e apelou aos comandantes para reforçarem as operações para evitar mais ataques. A associação extremista ligada à al-Qaeda conhecida como Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) reivindicou a responsabilidade. Uma fonte militar disse à Agence France-Presse que os soldados mataram 40 militantes em resposta.
“Acordem, oficiais e chefes de secção, temos batalhas a vencer,” disse Gomina.

UMA AMEAÇA CRESCENTE
Os líderes terroristas reuniram-se no centro do Mali em Fevereiro de 2020 para discutir a expansão para o Golfo da Guiné, principalmente através do Benin e da Costa do Marfim, e atacar as bases militares dessa região.
As autoridades de segurança francesas afirmaram que a reunião contou com a presença de líderes da al-Qaeda no Magrebe Islâmico, Ansar al-Dine, JNIM e Frente de Libertação de Macina.
Desde essa reunião, a segurança no Sahel deteriorou-se significativamente. Uma série de golpes de Estado no Sahel, em Burquina Faso, Mali e Níger; a demissão das forças de segurança ocidentais; e a dependência excessiva de tácticas brutais de mercenários russos levaram a uma deterioração da segurança. Os ataques e as mortes têm aumentado constantemente. Os países costeiros viram a segurança das suas fronteiras enfraquecer, apesar dos esforços para reforçá-la.
“A rápida expansão para oeste e sul da violência islâmica militante no Mali, Burquina Faso e Níger nos últimos anos aumentou drasticamente o número de eventos violentos que se espalharam pelas fronteiras dos países costeiros da África Ocidental, da Mauritânia à Nigéria,” Eizenga e Gnanguênon escreveram para o ACSS. “Embora a maior parte da atenção tenha-se centrado no Benin e no Togo, ocorreram duas dezenas de incidentes extremistas violentos no Mali, a menos de 50 km das fronteiras da Mauritânia, do Senegal e da Guiné — em regiões onde, até recentemente, havia pouca ou nenhuma actividade.”

ÁREAS DE PREOCUPAÇÃO
Um dos dois pontos críticos é onde Burquina Faso, Costa do Marfim e Mali se encontram. Burquina Faso e Mali dependem do porto de Abidjan para uma percentagem significativa das importações nacionais. Burquina Faso envia mais de metade das suas exportações através de Abidjan, de acordo com o ACSS.
A rota também está repleta de minas de ouro artesanais. As minas, as rotas comerciais e as redes de tráfico representam alvos atraentes para os extremistas.
O Complexo WAP transnacional, com 26.361 quilómetros quadrados, representa uma segunda fonte de perigo para os países costeiros, principalmente Benin e Togo. Militantes afiliados ao JNIM infestam o complexo desde 2018, de acordo com o ACSS. O Estado Islâmico no Grande Sahara infiltrou-se no parque pelo lado nigerino.
Os extremistas aliaram-se a contrabandistas regionais que transportam cigarros, medicamentos e produtos falsificados, combustível, ouro e armas através dos parques, segundo o ACSS.
Vários corredores económicos importantes passam pelo Complexo WAP, incluindo Ouagadougou-Lomé, Niamey-Lomé, Niamey-Cotonou, Ouagadougou-Acra e Niamey-Ouagadougou. Cerca de dois terços das importações do Burquina Faso entram no Benin através desses corredores. O corredor Niamey-Cotonou movimenta mais de metade do comércio do Níger, de acordo com o ACSS. Os militantes ameaçam todas estas rotas.
Em meio a essas ameaças, os países costeiros tomaram medidas para proteger a sua soberania e impedir que cidadãos vulneráveis sucumbam ao canto das sereias do extremismo.
Eis alguns desses esforços:
O Benin tem enfrentado algumas das ameaças mais persistentes, como ressaltado pelo ataque de Janeiro de 2025. A criação da Agência Beninense para a Gestão Integrada das Zonas Fronteiriças combinou segurança e desenvolvimento em áreas vulneráveis.
As autoridades beninenses também chegaram a um acordo com o Níger em meados de 2022 para combater o extremismo ao longo da sua fronteira comum. No entanto, um ano depois, uma junta militar derrubou o governo democraticamente eleito do Níger e pôs fim ao acordo. As negociações sobre um plano unificado de segurança e gestão para o Complexo WAP também foram suspensas.
Entre 2021 e 2023, o Benin investiu 130 milhões de dólares nas suas forças de segurança, incluindo um posto de inteligência no Parque Nacional de Pendjari e oito bases militares estrategicamente localizadas nos parques, de acordo com a revista New Lines.
Uma dessas bases, em Kourou-Koalou, fica no ponto de encontro entre o Benin, o Burquina Faso e o Togo e está equipada com artilharia pesada e tanques, informou a New Lines. O contingente de 3.000 soldados da Mirador é apoiado por mais 4.000 que se revezam sazonalmente, segundo o ACSS. Outras 1.000 forças locais ajudam a fornecer informações de inteligência. Todos trabalham com a African Parks, um grupo de conservação com sede na África do Sul que gere o lado do Benin do Parque Pendjari e reservas.
A Costa do Marfim respondeu à ameaça de ataques transfronteiriços reforçando a sua presença de segurança regional e investindo em programas socioeconómicos. Em 2022, o governo lançou o Programa de Combate à Fragilidade nas Zonas Fronteiriças do Norte. Este programa combina uma presença militar reforçada com investimentos em infra-estruturas e programas sociais destinados aos jovens.
O objectivo é dar aos jovens de seis regiões do norte ferramentas para resistir aos apelos extremistas. Por exemplo, o programa pagou a Samuel Yeo, um criador de porcos em Ouaragnéné, 1 milhão de francos CFA, o que o ajudou a mais do que triplicar o seu número de animais para 70. A certa altura, ele vendia 10 cabeças por 150.000 a 200.000 francos CFA por mês e tinha dois pequenos restaurantes onde vendia carne de porco cozida.
Menos de um ano após o seu início, o programa já tinha apoiado 23.892 pessoas, de acordo com um relatório do governo. A iniciativa ajudou mais de 30.000 beneficiários em 2023. O programa centra-se no trabalho intensivo, na formação, na geração de rendimentos, nas micro e pequenas empresas, nos subsídios aos trabalhadores do sector informal, no voluntariado e nas associações de poupança e crédito das aldeias.
O programa da Costa do Marfim é considerado um sucesso, e as operações militares cooperativas entre as forças da Costa do Marfim e do Burquina Faso em 2020 e 2021 proporcionaram “maior segurança, comunicação e coordenação através da fronteira,” escreveram Eizenga e Gnanguênon. Mas a cooperação enfraqueceu após os golpes de Estado no Burquina Faso.
O Togo iniciou o Programa de Emergência para a Região de Savanes para aumentar a resiliência no norte do país. Entre 2021 e 2023, as autoridades construíram uma central solar de 25 megawatts em Dapaong, que levou electricidade a mais 15.000 famílias, um aumento regional de 29% para 42%, segundo o site Togo First em Janeiro de 2025. Cerca de 80.000 pessoas obtiveram acesso à água potável, um aumento de 64% para 73,5%.
Mais de 1.000 hectares foram desenvolvidos e a chegada de equipamentos modernos tornou os agricultores locais mais produtivos e competitivos.
Um programa de 18 meses para reforçar a resiliência contra o extremismo violento na região de Savanes teve início em Janeiro de 2024, com um financiamento de 5 milhões de euros da União Europeia. O primeiro de dois projectos abrangerá sete prefeituras e ajudará 10 organizações locais a iniciar microprojectos para impulsionar o emprego, informou o Togo First.
O segundo projecto visa duas províncias da região Central. Distribuirá equipamento de saúde e escolar a 10.000 pessoas, apoiará financeiramente 4.000 mulheres e reforçará as competências de prevenção de conflitos de 2.000 pessoas, incluindo autoridades locais. Concederá subsídios a 100 jovens empreendedores.
Embora cada país tenha trabalhado para combater a ameaça extremista, Eizenga e Gnanguênon afirmam que é necessário reforçar a coordenação regional. Eles enumeram várias recomendações para ajudar os países costeiros:
As forças de segurança devem estabelecer relações com a população civil: Os soldados, os polícias e os funcionários aduaneiros não podem limitar-se a estar presentes nas regiões fronteiriças. Eles devem conquistar a confiança da população local e respeitar a sua propriedade. O pessoal de segurança terá de receber formação sobre como mitigar danos e trabalhar com as comunidades. Tácticas pesadas podem destruir a confiança conquistada com tanto esforço. O Centro Internacional de Formação de Manutenção da Paz Kofi Annan, no Gana, e a Academia Internacional de Luta contra o Terrorismo, na Costa do Marfim, podem ajudar.
Acelerar o desenvolvimento em áreas vulneráveis: isso já está a acontecer, e o seu sucesso confirma que os esforços devem ir além das abordagens militares. Os países bem-sucedidos nestes esforços podem ajudar a criar “intercâmbios de desenvolvimento” regionais.
Formar uma estratégia regional sobre os riscos do Complexo de Parques WAP: Benin, Gana, Nigéria e Togo devem coordenar as políticas governamentais para as zonas fronteiriças e os espaços protegidos. Os países devem ponderar as operações de segurança em relação aos esforços para preservar e proteger os meios de subsistência das comunidades.
Facilitar a partilha de informações: Os países devem manter canais abertos para que as forças de segurança possam trocar informações à medida que os extremistas se deslocam. As avaliações podem ser combinadas com informações da Rede de Alerta Precoce da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Adoptar uma estratégia de estabilização em vários níveis: o primeiro nível pode incluir o reforço da resiliência das comunidades contra influências extremistas. Em segundo lugar, os governos devem apoiar os interesses socioeconómicos nas regiões vulneráveis. A coordenação e o apoio da Iniciativa de Acra, um esforço cooperativo da África Ocidental para conter a propagação do terrorismo no Sahel, e a ajuda da CEDEAO em questões políticas e financeiras completam as recomendações.
A ascensão das juntas do Sahel incentivou os países costeiros a reforçar a cooperação para enfrentar o desafio extremista, escreveram Eizenga e Gnanguênon. “Reforçar a coesão, a coordenação e a escala destes esforços costeiros da África Ocidental para mitigar as ameaças pode evitar um impacto regional muito maior e mais dispendioso.”