Mais governos africanos estão a alertar os seus cidadãos para os perigos de aceitar bolsas de estudo falsas da Rússia, numa altura em que muitos dos estudantes que as aceitaram acabaram recrutados pelo exército russo e enviados para a linha de frente da guerra na Ucrânia.
A Ucrânia capturou e deteve pessoas do Togo depois de terem participado “em operações militares ao lado das forças armadas russas,” afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Togo no dia 2 de Maio. “A maioria dos compatriotas, em particular jovens estudantes, tinha saído do Togo ao abrigo de supostas bolsas de estudo oferecidas por estruturas que alegavam estar sediadas na Rússia.”
O ministério apelou aos cidadãos, “em particular aos jovens que desejam prosseguir os seus estudos no estrangeiro, para que exerçam a máxima vigilância” e instou-os a “verificar a autenticidade das ofertas de bolsas de estudo antes de assumirem qualquer compromisso e a contactar os departamentos competentes ou qualquer outro ministério envolvido… para obter informações fiáveis e seguras antes de qualquer partida para o estrangeiro, em particular para a Rússia.”
Em Março, o Movimento Martin Luther King, uma proeminente organização de direitos humanos no Togo, notificou as autoridades sobre o caso de um estudante togolês que foi capturado no campo de batalha e detido pela Ucrânia.
“Depois de receber o visto de estudante na embaixada russa em Cotonou, o compatriota partiu do Togo para a Rússia no dia 21 de Agosto de 2024,” o Movimento King disse num comunicado. “Ao chegar à Rússia, foi forçado a alistar-se no exército para ir para a frente de batalha na Ucrânia. Foi lá que ficou gravemente ferido, foi capturado e lançado na prisão.”
Um homem togolês não identificado disse que ele e outros africanos foram manipulados e recrutados à força para lutar pela Rússia.
“Entrámos no exército por engano,” disse numa entrevista em vídeo com as autoridades ucranianas. “Eles traíram-nos.”
Houve inúmeros casos de cidadãos africanos, incluindo estudantes, do Benim, Camarões, República Democrática do Congo, Quénia, Senegal e Togo, que afirmam ter sido enganados ou forçados a lutar. Na Nigéria, o embaixador da Rússia, Andrey Podelyshev, falou recentemente sobre planos para aumentar drasticamente as bolsas de estudo para africanos em instituições russas, observando que há cerca de 32.000 estudantes africanos actualmente matriculados em universidades russas, incluindo cerca de 2.000 da Nigéria.
“A cota actual será aumentada todos os anos para atingir as metas,” disse a jornalistas nigerianos no dia 9 de Junho, em Abuja, de acordo com o Peoples Gazette. “O governo russo concedeu actualmente 220 bolsas de estudo a estudantes nigerianos para o ano lectivo de 2025, aprovado em 2024, e os preparativos estão em andamento para que os estudantes iniciem os seus estudos em Setembro.”
O jornalista ganês Godwin Asediba falou com 14 dos seus compatriotas que afirmam ter sido forçados a alistar-se no exército russo.
“A primeira mensagem deles foi um pedido de socorro,” disse à France 24. “Isso pode ser considerado tráfico de pessoas, porque essas pessoas foram atraídas com falsas promessas. Elas viajaram sob falsos pretextos e deveriam ter sido informadas exactamente do que iriam fazer.”
Koulékpato Dosseh, de 27 anos, era professor e agricultor no Togo. Ele foi para a Rússia estudar medicina na esperança de construir um hospital quando regressasse ao seu país natal.
“Só estudei durante cerca de um mês,” disse numa entrevista em vídeo à United24 Media, publicada a 12 de Abril. “Não podia ficar onde estava. [Disseram-me] que, se estivesse no país sem documentos adequados, esperavam que regressasse ao meu país natal após os estudos.
“Não falo russo. Não sei ler. Mandaram-me para a frente de batalha. Senti-me como se tivesse sido sacrificado.”
Antes de fugir da linha da frente e se render, Dosseh sofreu vários ferimentos e espera ter uma das pernas amputada.
“Os que estão no Togo nem sabem que estou vivo,” disse. “A última vez que falei com a minha irmã foi no dia em que partimos para a frente.”
Heorhii Tykhyi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, disse que as histórias de africanos recrutados à força para o exército russo se tornaram muito comuns.
“Moscovo está a intensificar os seus esforços para espalhar propaganda nos países africanos,” disse à United24 Media. “Às vezes, isso é disfarçado na forma de propostas, mas o objectivo básico é recrutar pessoas para a guerra. Esses países precisam estar cientes de que a Rússia tenta enganá-los.”
Tykhyi disse que as autoridades togolesas podem providenciar o regresso de Dosseh entrando em contacto com a Ucrânia, mas provavelmente cabe à sua irmã, Sevi, fazer o pedido e iniciar o processo.
“Este é um caso típico de como as autoridades russas procuram estudantes ou trabalhadores estrangeiros que estão prestes a perder o seu estatuto legal,” afirmou. “Eles abordam-nos com propostas para assinar algum tipo de contrato para fazer algum tipo de trabalho. As pessoas nem sempre compreendem que se trata do exército e de lutar na linha da frente, o que é muito, muito perigoso.”