Mais de 700 milhões de pessoas vivem nas áreas urbanas do continente. Esse número deverá duplicar até 2050, quando se prevê que o número de cidades africanas com pelo menos 1 milhão de habitantes atinja 159, contra as 60 actuais.
A explosão demográfica urbana acarreta desafios críticos de segurança, visto que um grande número de jovens, muitas vezes, subempregados, compete por recursos limitados. Isso pode levar ao aumento de gangues criminosas e organizações terroristas, algumas das quais já planeiam ataques a grandes cidades.
De acordo com o Centro Africano de Estudos de Segurança, 587 das 4.930 cidades africanas registaram mortes relacionadas com violência armada organizada no ano passado. Esse número tem aumentado constantemente nos últimos anos, “indicando que as áreas urbanas de África estão a tornar-se progressivamente um alvo nas guerras civis ou insurgências enraizadas no continente,” escreveram os investigadores do ACSS. Isso é evidente no Sudão, onde a guerra civil dura há mais de dois anos, e no leste da República Democrática do Congo, onde o grupo terrorista M23 causa estragos desde 2013.
Analistas afirmam que são necessárias mudanças fundamentais nas abordagens de segurança nas cidades africanas. Mais de 40% das pessoas que vivem em áreas urbanas relatam sentir-se inseguras ao andar nos seus bairros, de acordo com o Africa Center. Em resposta ao aumento da criminalidade e ao excesso de trabalho das forças policiais, grupos de segurança comunitários, conhecidos como comités de vigilância, surgiram como uma forma de policiamento colaborativo em algumas cidades.
“Embora não substituam a polícia, estes grupos podem ajudar a combater o aumento da criminalidade urbana,” escreveram os investigadores do Africa Center. “Como conhecem os seus bairros, estes grupos podem actuar como intermediários entre a polícia local sobrecarregada e os cidadãos.”
Na Costa do Marfim, gangues violentas de jovens, conhecidas localmente como “micróbios,” surgiram após uma eleição contestada em 2010 e causaram estragos nas áreas urbanas ao longo da década. Em Abidjan, a capital, os comités de vigilâncias começaram a trabalhar para conectar membros da comunidade às forças policiais, autoridades locais e supostos criminosos.
“Os comités de vigilância mais eficazes compreendem que as técnicas coercivas e os confrontos violentos com gangues juvenis exacerbam as hostilidades, sem resolver os problemas fundamentais da comunidade,” Katha Ray, candidata a mestrado em Relações Internacionais na Columbia, escreveu para o Yale Journal of International Affairs.
Na comuna de Abobo, em Abidjan, os comités de vigilância são geralmente vistos como tendo melhorado a situação de segurança e se tornado actores-chave da comunidade para a segurança local, de acordo com o Africa Center. No entanto, o crime urbano em Abidjan continua sem solução, pois as gangues criminosas simplesmente saíram de Abobo para outras partes da cidade.
Os comités de vigilância não oferecem opções de segurança infalíveis. Algumas esquadras de polícia em Abobo recorrem a conselhos consultivos de ética para os gerir, visto que alguns comités foram acusados de cometer violações de direitos humanos à medida que cresciam. Alguns departamentos policiais também utilizaram programas de policiamento comunitário para os supervisionar. No entanto, segundo o Africa Center, persistiram abusos ocasionais, mesmo com a existência de mecanismos de monitorização.
Nos Camarões, alguns membros de comités de vigilância terão prestado apoio operacional e financeiro ao Boko Haram. Segundo o Instituto de Estudos de Segurança, eles fornecem informações sobre as posições e o pessoal do Exército, reservas alimentares e lojas e gado a saquear. Também são acusados de permitir a entrada de membros do Boko Haram no país mediante o pagamento de uma taxa.
Ao gerir os desafios de segurança da urbanização desenfreada, as autoridades devem evitar tratar bairros ou populações inteiras como ameaças à segurança, argumentou o Africa Center. Abordagens como despejos forçados e repressão policial têm historicamente aprofundado a desconfiança em áreas urbanas em rápido crescimento.
“Em vez disso, as autoridades locais devem trabalhar para compreender estas comunidades, reconhecer o seu papel na resiliência e vitalidade urbana e integrá-las mais plenamente nos sistemas económicos e sociais da cidade,” escreveu o Africa Center.
Os especialistas em segurança argumentam que é hora de ser proactivo e antecipar os desafios de segurança futuros colocados pelas megacidades.
“As agências de segurança devem assumir a responsabilidade por este desafio da urbanização,” escreveu Adewumi Badiora, do Consórcio Africano de Investigação sobre Cidades. “Precisam de construir uma comunidade de interesses, com foco nas grandes cidades, e formular novas abordagens estratégicas, operacionais e tácticas.”