A Força de Defesa Nacional da África do Sul enfrenta um défice orçamental de 41,2 bilhões de rands (mais de 2,3 milhões de dólares), o que limita todas as decisões operacionais, tecnológicas e de recursos humanos tomadas pelos seus líderes.
De acordo com Angie Motshekga, Ministra da Defesa e dos Veteranos Militares da África do Sul, um melhor financiamento poderia ter permitido que a força de defesa, também conhecida como SANDF, lidasse sozinha com o recente repatriamento das tropas que foram destacadas para o leste da República Democrática do Congo como parte da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral na RDC. As Nações Unidas ajudaram no repatriamento. Soldados sul-africanos representaram 14 dos 20 soldados da missão mortos em confrontos com os rebeldes do M23.
“A situação actual é muito mais grave agora que nem sequer estamos a receber o que esperávamos receber como departamento de defesa, enquanto temos a enorme responsabilidade de defender o país, de nos defendermos,” Motshekga disse à imprensa local.
O Departamento de Defesa da África do Sul confirmou ao Parlamento em Junho que a sua estimativa de necessidades básicas de 98,3 bilhões de rands (mais de 5,5 bilhões de dólares) excede os 57,2 bilhões de rands (mais de 3,2 milhões de dólares) atribuídos para o Quadro de Despesas de Médio Prazo 2025-26, informou a defenceWeb. O quadro é um plano de gastos contínuo de três anos que descreve as alocações e as prioridades dos gastos do departamento.
O departamento de defesa reformulou os seus planos para se concentrar na segurança das fronteiras, mantendo uma capacidade de reacção rápida para obrigações regionais com mobilização limitada de forças para a resposta a desastres e conflitos internos.
A renovação em grande escala das forças, a modernização abrangente do equipamento de missão principal e a cooperação militar global sustentada foram abandonadas ou adiadas indefinidamente, informou a defenceWeb. Na reunião de Junho, um membro do Parlamento alertou que o subinvestimento contínuo na defesa também corre o risco de corroer a credibilidade diplomática e estratégica da África do Sul numa região assolada pelo crime transnacional e pela influência militar estrangeira.
As forças armadas da África do Sul enfrentam problemas orçamentais há anos. Os padrões internacionais sugerem que os países destinem pelo menos 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) às despesas com a defesa para manter capacidades de segurança adequadas. A África do Sul fica consistentemente abaixo de 1% do PIB. Isso sublinha as limitações orçamentais e a falta de priorização no reforço da segurança nacional, de acordo com a Good Governance Africa.
Entre outras coisas, a redução do orçamento resulta na incapacidade da África do Sul de reabastecer as suas forças de alta tecnologia, incluindo a Marinha, as Forças Especiais e a Força Aérea, de acordo com o Brigadeiro-General reformado Peter Sereko, especialista operacional com experiência em missões das forças armadas sul-africanas.
“Num contexto interno, o governo também espera cada vez mais que a SANDF preste apoio ao SAPS [Serviço de Polícia da África do Sul] e desempenhe um papel activo no seu apoio,” Sereko disse à News24 da África do Sul. “Há um descompasso entre as expectativas dos líderes políticos e as obrigações da SANDF, conforme determinado pela Constituição. Vemos agora, com a disseminação da mineração ilegal no país, que há muito pouco que os militares podem fazer para ajudar devido às restrições orçamentárias.”
Motshekga respondeu a perguntas relacionadas com o orçamento no início de Julho no Conselho Nacional das Províncias. Ela pintou um quadro sombrio sobre os desafios enfrentados pela Força Aérea Sul-Africana.
“Estamos a sangrar, mas não estamos acabados,” disse numa reportagem da página de internet de notícias da África do Sul, Independent Online. “Ainda temos capacidades. É por isso que ainda somos capazes de voar para as áreas inundadas e resgatar as pessoas com helicópteros.”
Durante a reunião do conselho, Motshekga reconheceu que a SANDF “não está no nível ideal que precisamos estar,” mas disse que a força ainda está operacional e pronta para responder.
“Temos realmente desafios, mas não estamos necessariamente completamente disfuncionais,” disse na reportagem do Independent Online. “Estamos a trabalhar muito para nos mantermos à tona, permanecer no ar e continuar a enfrentar os nossos desafios.”
O Vice-Ministro da Defesa, Bantu Holomisa, disse em Janeiro que os sinais de dificuldades orçamentais e de forças armadas sobrecarregadas são evidentes há cerca de 15 anos.
“O corte de verbas para a SANDF levou-nos a dizer [sobre] o estado de prontidão da nossa força de defesa que não podemos garantir que estamos prontos, porque, como vocês sabem, estamos com dificuldades até mesmo de manter as aeronaves, como os helicópteros, que normalmente dão cobertura aérea às nossas tropas quando estão sob ataque,” Holomisa disse numa reportagem da página da internet de notícias da África do Sul, BusinessLIVE.
Os críticos argumentam que o governo da África do Sul demonstra pouca vontade política para enfrentar os desafios financeiros da SANDF.
De acordo com Theo Neethling, professor do Departamento de Estudos Políticos e Governação, da Universidade do Estado Livre, as crescentes pressões financeiras e os graves desafios socioeconómicos deixam o governo numa posição fraca para aumentar significativamente o orçamento da defesa.
“Talvez agora seja o momento de reavaliar tanto o mandato como o financiamento [da SANDF], principalmente à luz da persistente discrepância entre as expectativas políticas e os recursos disponíveis,” Neethling escreveu no site da universidade.