Agora no seu terceiro ano, a guerra civil no Sudão entre as Forças Armadas do Sudão e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares mudou de uma guerra dominada por forças terrestres e armas pesadas para uma guerra aérea de retaliação, com drones não tripulados como as principais armas.
A partir de Janeiro, as forças nacionais sudanesas, conhecidas como SAF, utilizaram drones Bayraktar TB-2 de fabrico turco para atacar posições rebeldes das RSF e linhas de abastecimento na região da capital e no Estado de al-Gezira, a sudeste. O assalto acabou por expulsar os combatentes das RSF de ambos os locais, dando ao exército importantes vitórias que empurraram as RSF de volta para o seu reduto no oeste do Sudão.
A partir daí, as RSF contaram com drones vagões, lançados de Nyala, no sul do Darfur, para atacar as posições das SAF. Os drones vagões são projectados para pairar no ar acima de um alvo, esperando para atacar quando receberem o comando. Eles podem lançar munições ou colidir com o alvo e explodir.
O uso de drones para atacar posições inimigas é uma mudança significativa para ambos os lados da guerra do Sudão. No início do conflito, ambos os lados usavam drones para reconhecimento e recolha de informações. Enquanto as forças rebeldes rapidamente dominaram as forças militares do Sudão em terra, as SAF mantiveram a superioridade aérea através da sua Força Aérea. As RSF conseguiram neutralizar a vantagem aérea das SAF com mísseis terra-ar e armas antiaéreas adquiridas a mercenários russos na Líbia.
Entram em cena os drones armados.
Com o seu perfil pequeno e capacidade de longo alcance, os drones armados provaram ser uma arma eficaz para atingir recursos inimigos, como fizeram as SAF ao destruir um avião de carga dos Emirados no aeroporto de Nyala. Também podem ser utilizados para destruir infra-estruturas essenciais, o que era um dos principais objectivos do bombardeamento com drones das RSF em Port Sudan.
Acredita-se que um dos alvos do ataque a Port Sudan tenha sido um hangar que albergava os drones Bayraktar TB-2 das SAF.
“O potencial de ataque e perturbação das plataformas de lançamento de VANT [drones] representa agora uma ameaça estrategicamente significativa para as capacidades operacionais das Forças Armadas do Sudão e pode desafiar eficazmente a superioridade aérea das SAF,” recentemente o analista Albadawi Rahmtall escreveu para a Military Africa.
O ataque a Port Sudan fez mais do que perturbar infra-estruturas essenciais na capital da guerra do Sudão. Teve um impacto psicológico nos residentes da região, que até então estavam isolados da violência em outras partes do Sudão.
“É improvável que as RSF consigam retomar Cartum ou chegar a Port Sudan por terra, mas os drones permitem-lhes criar um sentimento de medo e desestabilizar as cidades,” o analista sudanês Hamid Khalafallah disse à Agence France-Presse.
De acordo com Rahmtall, as RSF podem lançar enxames de drones contra alvos das SAF com a intenção de simplesmente sobrepujar as defesas. As perdas das RSF para as SAF este ano, sobretudo a perda de Cartum, prejudicaram a sua capacidade de recrutar novos combatentes, afirmam especialistas. Através da utilização de drones de longo alcance fabricados na China, as RSF pretendem enviar a mensagem de que a guerra ainda não acabou, segundo Khalafallah.
Os drones permitem que ambos os lados se ataquem mutuamente, poupando as suas forças terrestres. Embora os drones causem danos físicos e psicológicos, não conseguem manter o controlo do território. Apenas as tropas humanas podem fazer isso, afirmam os especialistas.
“A superioridade aérea desvinculada da capacidade de explorar as condições terrestres e alterar a geografia militar diminui o valor dos ataques aéreos e reduz o seu significado militar e político,” escreveu Rahmtall.